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28.10.2016 | 10h53 Tamanho do texto A- A+

Delator diz que entregou mais de R$ 300 mil a Riva em uma caixa

Elias Nassarden deu detalhes de tratativas ilícitas ocorridas na Assembleia Legislativa

MidiaNews/Reprodução

O empresário Elias Nassarden, que delatou esquema

O empresário Elias Nassarden, que delatou esquema

LUCAS RODRIGUES E THAÍZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO

O empresário Elias Abrão Nassarden Junior, novo delator da Operação Imperador, confirmou em seu interrogatório a delação que fez ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco).

 

Ele é réu da ação penal da Operação Imperador, que investiga suposto esquema que teria desviado R$ 61 milhões da Assembleia Legislativa, de 2005 a 2009.

 

A oitiva ocorreu na Vara Contra o Crime Organizado, no Fórum de Cuiabá, e foi conduzida pela juíza Selma Arruda.

 

Segundo ele, o esquema começou com em 2002 com o ex-deputado Nico Baracat, que faleceu em um acidente de carro em junho de 2012.

 

Posteriormente, o empresário contou que passou a tratar com o então secretário de Finanças Edemar Adams (também já falecido) e com o próprio ex-deputado José Riva - considerado líder do esquema - ao qual entregou mais de R$ 300 mil em determinada ocasião.

 

"Um dia depois o [José] Riva me ligou e marcou uma reunião. Chegando lá, ele perguntou se eu tinha levado o que tinha combinado com o Edemar, eu disse que sim e entreguei para ele".

 

O delator disse que após o grupo descobrir que estava sendo monitorado, Edemar propôs que ele simulasse a compra de um imóvel dele, para justificar os repasses. A proposta foi aceita por ele.

 

Elias Junior contou que é dono da papelaria Livropel Comércio e Representações e Serviços Ltda, mas que as demais empresas investigadas (Hexa Comércio e Serviços de Informática Ltda, Amplo Comércio de Serviços e Representações Ltda, Real Comércio e Serviços Ltda-ME e Servag Representações e Serviços Ltda) também são dele, mas foram colocadas em nome de parentes.

 

Veja como foi a audiência:

 

Esquema começou em 2002 (Atualizado às 11h03)

 

Elias Nassarden afirmou que o ex-deputado Nico Baracat perdeu a eleição em 2002, mas assumiu o cardo de secretário-geral da Assembleia.

 

"Lá ele assumindo, precisou de materiais, e eu entreguei R$ 15 mil em materiais. Passando alguns dias eu cobrava ele, e ele falava 'calma aí', até que um dia eu fui lá e falei que estava precisando do dinheiro. Ele ligou para o Nivaldo [Araújo] e me apresentou para ele. O Nico disse que precisava legalizar o pagamento, então o Nivaldo prôpos uma licitação de R$ 79 mil. Foram pagos os R$ 15 mil e o resto do valor que sobrou ficou 12% para mim e o resto para eles. E assim foi, fiz esse procedimento".  

Fui chamado para uma reunião com ele [Edemar]. Lá ele disse que queria mudar algumas coisas e pediu para sermos cautelosos, porque se não todos que estavam alí naquela sala seriam presos

 

"20 dias depois o Nivaldo me ligou pedindo para que eu fosse na Assembleia. Lá ele disse que ele precisava resolver umas pendências na Casa e me ofereceu uma carta convite. Trabalhava meio com data retroativa, providenciei toda documentação, e tomou o mesmo procedimento: 12% pra mim e o resto para ele. Isso aconteceu umas três vezes com o Nivaldo", revelou.

 

Novas licitações (Atualizada às 11h13)

 

Em 2004, segundo Elias Nassarden, houve uma reunião para definir outra licitação.

 

"No dia da licitação eu cheguei lá e já tinha pessoas que eu conhecia assim de vista, tipo o Wilson, Melo, Augusto. Abriu-se a licitação e deu lá um prazo pra recurso, o Nivaldo já me chamou dizendo que ia dar certo pra mim. Resumindo: eu ganhei.                       

Elias contou que, no ano seguinte, a Secretaria de Finanças foi assumida por Edemar Adams (também já falecido e considerado braço-direito do ex-deputado José Riva).

 

"Fui chamado para uma reunião com ele [Edemar]. Lá ele disse que queria mudar algumas coisas e pediu para sermos cautelosos, porque se não todos que estavam alí naquela sala seriam presos".

 

"Quem aqui desta reunião gostaria de ser preso? Se não tomar cuidado, todos vão", teria dito Edemar, em reunião com ele e outros empresários.

 

No final de 2005, Elias relatou que Edemar o chamou e disse que o prestigiaria com um lote maior.

 

"Eu disse 'tá bom'. Dias depois teve uma reunião comigo com Melo, Augusto, Wilson. Lá ele (Edemar) me explicou certinho as divisões dos lotes. Eu ganhei um lote e o Wilson ganhou dois lotes".

 

"Era combinado" (Atualizado às 11h21)

 

A juíza Selma Arruda perguntou como era feita a concorrência das licitações.

                   
"Era combinado, mas feito tudo na legalidade. Se exigia lá muita certidão que se não entregasse era desclassificado", respondeu Elias.                      

 

A magistrada perguntou a respeito da entrega dos produtos.

 

"Era entregue bem pouco, entregava uns cartuchos só".

 

Dinheiro entregue a José Riva (Atualizada às 11h27)

 

Após um jornalista publicar matéria sobre as irregularidades na licitação, Elias contou que Edemar resolveu mudar o sistema de divisão dos contratos, mas garantiu um novo lote para o empresário.

 

"Eu entrei com a Livropel e a Hexa Comércio e Serviços de Informática Ltda e ocorreu tudo perfeitamente as licitações".

 

O delator contou que, logo após, Edemar foi viajar e, antes da viagem, foi avisado que outra pessoa iria receber o valor do "retorno". Conforme a delação, o valor girava em torno de R$ 200 mil a R$ 300 mil.

                  
"Um dia depois o [José] Riva me ligou e marcou uma reunião. Chegando lá, ele perguntou se eu tinha levado o que tinha combinado com o Edemar, eu disse que sim e entreguei para ele".

 

Monitorados (Atualizada às 11h36)

 

O delator afirmou que mais uma reunião foi feita em 2008, junto dos empresários "Melo", "Augusto", no escritório de "Wilson", onde mais lotes de licitações foram divididos.

 

Eu fiquei com medo deles me excluírem e falei para eles que se me tomarem esse lote, eu não iria aceitar. Eu só aceito perder se o Edemar me tirar

"Eu fiquei com medo deles me excluírem e falei para eles que se me tomarem esse lote, eu não iria aceitar. Eu só aceito perder se o Edemar me tirar. Fomos para a licitação e eu ganhei a licitação. Executamos da mesma forma em 2009".   

 

Elias Nassarden disse que Edemar Adams o chamou, em dezembro de 2014, para avisar que eles estavam sendo monitorados.

 

"Ele [Edemar] falou 'vamos parar tudo' e disse para eu não ir mais na Assembleia. 'Você não tem como se ausentar de Mato Grosso?', ele perguntou. Eu disse que tinha minha família, meus negócios, não podia. Ele a todo momento dizia 'temos que estar preparados para algo inesperado'".

 

Medo de monitoramento (Atualizada às 11h50)

 

Posteriormente ao pedido para não ir à Assembleia, Edemar ligou para marcar uma reunião, segundo o delator. Elias disse que o encontro ocorreu em um escritório na Avenida do CPA, onde estava ele, Edemar e o advogado Alexandre Nery.

 

"Eu e o Edemar fomos para uma sala e ele pediu para eu arrancar a bateria do celular. Disse que realmente fomos monitorados, mas nada que com muita calma não pudesse resolver. Disse que era pra eu comprar um apartamento para ele. Eu disse para ele ir com calma, mas ele insistiu e disse que eu tinha que transferir o apartamento para ele. Ele já estava com o contrato pronto. No final disse que não era para manter contato. Em 2010, ele me chamou de novo. Chegando lá, ele falou que tinha que assinar mais algumas coisas. Esses anos que eu passei fazendo isso foi um dos piores".

 

"Não vou faltar com a verdade" (Atualizada às 12h08)

 

O promotor de Justiça Marcos Bulhões perguntou se no período de 2005 a 2009, que é o período que consta na ação, essas empresas funcionavam exclusivamente para a Assembleia. Ele respondeu que sim.                       

 

"Me dói citar pessoas três pessoas falecidas, a exemplo do Nico. Ele é uma pessoa boa, e acredito que não recebeu nenhum centavo disso, mas eu precisei citá-los porque não posso faltar com a verdade, e não vou faltar com a verdade nesse processo".

 

Bulhões perguntou quem fazia o saque do dinheiro quando saía o pagamento. "Eu, às vezes meu irmão"                       

 

O promotor questinou quantos dias depois do pagamento das licitações ele repassava o dinheiro. "Eles cobravam rapidez. Ligavam, falavam que tava ok, e no máximo três dias depois eu entregava".

 

R$ 300 mil a Riva (Atualizada às 12h46)

 

Bulhões perguntou qual foi o valor que o delator entregou a José Riva na ocasião em que Edemar estava de férias.

 

O dinheiro que eu entreguei para o Riva foi em uma caixa, acima de R$ 300 mil

"O dinheiro que eu entreguei para o Riva foi em uma caixa, acima de R$ 300 mil".

 

Conselheiro citado (Atualizada às 13h54)

 

A defesa da ex-secretária Janete Riva e de José Riva pergunta se o delator tem conhecimento que o dinheiro que levou para Riva era fruto de propina ou de um valor que Edemar devia para o ex-deputado, usando o empresário para quita-la. 

 

"Eu sei que o dinheiro saiu da minha empresa do pagamento que eu recebi. Agora o que ele falou para o Riva eu não sei", respondeu                       

 

A defesa também citou que, em 2014, o Ministério Público Estadual apontou que ex-deputado e atual conselheiro do Tribunal de Contas, Sergio Ricardo, assinou algumas ordens de serviço para as empresas do delator, na condição de primeiro secretário.

 

Segundo a defesa, o MPE inclusive imputou ao ex-deputado o ressarcimento do dano no valor de R$ 8 milhões. A defesa então pergunta se Elias tinha conhecimento da possível participação de Sérgio Ricardo no esquema.

 

"Eu tenho documentos aqui que o ex-deputado assinou sim. Não entreguei esse materiais, mas não sei se ele está envolvido nisso"

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aasilvasilva  28.10.16 16h42
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