Cuiabá, Quarta-Feira, 18 de Junho de 2025
EMENDAS
18.06.2025 | 09h45 Tamanho do texto A- A+

Empresário teria plano para lavar dinheiro com imóveis na Flórida

Alessandro do Nascimento é investigado por suposto esquema com emendas de deputados estaduais

Montagem/MidiaNews

No detalhe, o empresário Alessandro do Nascimento e ambiente de casa em Orlando

No detalhe, o empresário Alessandro do Nascimento e ambiente de casa em Orlando

CÍNTIA BORGES
DA REDAÇÃO

A Polícia Civil apreendeu documentos do empresário Alessandro do Nascimento, dono da Tubarão Sports, que segundo ela poderiam indicar um plano para eventual lavagem de dinheiro por meio de compras de imóveis na Florida, nos Estados Unidos. 

 

Segundo as investigações, seriam adquiridas duas casas no condomínio Westhaven at Ovation, em Orlando, avaliadas US$ 596.706 e outra em US$ 584.822, totalizando mais de US$ 1,1 milhão - ou R$ 7 milhões.

 

A informação consta no relatório assinado pela delegada Juliana Rado, que coordena a Operação Suserano, deflagrada setembro passado, em que o empresário e sua filha, Ana Caroline Ormond, estiveram entre os principais alvos.

 

A operação investigou supostas compras superfaturadas de kits agrícolas, por meio de emendas de deputados estaduais, na Secretaria de Estado de Agricultura Familiar (Seaf), com o Instituto Pronatur. 

 

Segundo o relatório, há indícios de que Alessandro tenha tido informações privilegiadas sobre a deflagração da operação e, horas antes, escondeu no apartamento de um casal de amigos duas caixas pretas com diversos documentos (leia AQUI).

 

Entre os documentos, os investigadores localizaram documentos que apontam negociações de ao menos dois imóveis na Flórida, nos EUA, e um contrato de um imóvel em Cuiabá no valor de R$ 2,9 milhões, registrado no nome da filha do empresário, Ana Caroline Ormond.

 

Termo de confidencialidade 

 

Os investigadores encontraram um termo de confidencialidade firmado entre Alessandro, sua esposa Herley Cristina e a empresa 18 Homes LLC, cujo nome fantasia é Quick Realty, sediada em Coconut Creek, na Flórida.

 

A empresa tem como sócio-administrador o cuiabano Tiago White Bueno da Silva, que para a Polícia “sugere-se” que ele seria o intermediário para que Alessandro do Nascimento “transferisse valores do Brasil para aplicação em imóveis nos Estados Unidos”.

 

“O que pode indicar a prática de lavagem de capitais, considerando que o período — ano de 2024 — coincide com a vigência e expansão dos Termos de Fomento firmados entre o Pronatur e a Seaf”, diz trecho do documento.

 

O documento é datado de 29 de agosto de 2024 e prevê multa de US$ 30 mil (cerca de R$ 180 mil, se o dólar for cotado a R$ 6) em caso de quebra de sigilo sobre o “investimento financeiro em empreendimento imobiliário”.

 

“As partes se ‘obrigam a manter o mais absoluto sigilo com relação a toda e qualquer informação a que tiverem acesso sobre o investimento financeiro em empreendimento imobiliário realizada entre si’, tem como objeto ‘evitar a divulgação e utilização não autorizada das informações confidenciais trocadas entre as partes por ocasião da realização do investimento financeiro em empreendimento imobiliário’”, diz.

 

As investigações ainda apontaram para a existência de uma tabela com imóveis nos EUA e anotações manuscritas sobre formas de pagamento.

 

Em destaque, duas unidades no condomínio Westhaven at Ovation, em Orlando, avaliadas US$ 596.706 e outra em US$ 584.822, totalizando mais de US$ 1,1 milhão — o equivalente a R$ 7 milhões.

 

“O que sugere a possibilidade de um plano para a aquisição dos dois imóveis nos Estados Unidos”, diz trecho do relatório.

 

Veja trecho do relatório:

 

 

Imóvel de R$ 2,9 milhões

 

Além dos investimentos no exterior, o relatório apontou que Alessandro adquiriu um apartamento de luxo no Edifício Apogeo, da construtora Plaenge, localizado no bairro Goiabeiras, em Cuiabá, por R$ 2,9 milhões.

 

Inicialmente, segundo a polícia, o apartamento foi comprado por Ana Caroline com financiamento parcial baseado em renda declarada de R$ 60 mil, embora outros documentos da empresa Tubarão Sports, da qual ela é sócia, apontem prolabore de R$ 9.723,78.

 

A Policia ainda encontrou comprovantes de pagamento a uma empresa de móveis planejados para o apartamento no montante de R$ 560 mil.

 

Posteriormente, em 1º de outubro de 2024, após a deflagração da operação, Ana Caroline assinou um Instrumento Particular de Cessão e Transferência de Direitos, repassando o imóvel oficialmente ao pai. O imóvel foi então registrado no nome de Alessandro, com o Banco do Brasil como “interveniente quitante”.

 

“O que sugere uma possível simulação do negócio jurídico inicial”, consta em trecho do relatório.

 

As informações sobre a assinatura de cessão e transferência de direitos foram fornecidas pela Plaenge, a pedido da Polícia Civil.

 

Veja trecho do relatório:

 

 

 

Operação Suserano

 

A operação Suserano, deflagrada em setembro pela Deccor (Delegacia Estadual de Combate à Corrupção) na sede da empresa Tubarão Sports e na casa de Alessandro do Nascimento. 

 

Os agentes apreenderam canhotos de cheques com anotações da palavra “saque” e documentos relacionados ao Prontur e à empresa Tupã Comércio. Em uma sala administrativa, um caderno chamou atenção: “Constava a expressão: ‘queimar’ documentos”, consta em relatório da Polícia Civil.

 

As investigações tiveram início a partir do relatório de auditoria da CGE (Controladoria-Geral do Estado), que apontou sobrepreço de até 80% do valor de mercado em termos de fomento que seriam usados para a compra de kits de agricultura familiar, no valor de R$ 28 milhões.

 

Além do pai e filha, também foi alvo o ex-secretário da pasta Luiz Artur de Oliveira Ribeiro, Luluca Ribeiro (MDB). Ainda foram alvos Leonardo da Silva Ribeiro, Rita de Cássia Pereira do Nascimento, Wilker Weslley Arruda Silva, Yhuri Rayan Arruda de Almeida, Matheus Caique Couto dos Santos, Euzenildo Ferreira da Silva e Diego Ribeiro dos Souza.

 

As investigações com os documentos colhidos na primeira fase da operação levaram a polícia a uma lista de nomes de catorze deputados estaduais. 

 

A delegada Juliana Rado conclui que “há fortes indícios da prática de ilícitos penais relacionados ao desvio de recursos públicos”. 

 

Isso porque, a entrega de kits teria sido feita “sem nenhum critério ou estudo quanto aos beneficiários, com seleção atrelada às emendas parlamentares e em datas muito próximas à eleição municipal, mesmo com expressa proibição da Seaf”.

 

Diante dos indícios e da possível ligação com as eleições de 2024, o inquérito foi encaminhado à Polícia Federal. O material também aponta para tentativas de obstrução da Justiça e destruição de provas.

 

Leia mais sobre o assunto:

 

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