Cuiabá, Quarta-Feira, 30 de Julho de 2025
DUPLO ASSASSINATO
11.09.2015 | 16h15 Tamanho do texto A- A+

Ex-bicheiro Arcanjo é condenado a 44 anos e 2 meses de prisão

Tribunal do Júri sentenciou o Comendador em sessão que durou quase dois dias, em Cuiabá

Edson Rodrigues/TJMT

A juíza Mônica Perri lê a sentença: João Arcanjo Ribeiro é condenado a 44 anos e dois meses de prisão por duplo assassinato

A juíza Mônica Perri lê a sentença: João Arcanjo Ribeiro é condenado a 44 anos e dois meses de prisão por duplo assassinato

LUCAS RODRIGUES
DO MIDIAJUR
O ex-bicheiro João Arcanjo Ribeiro foi condenado a 44 anos e dois meses de prisão por ter mandado executar os empresários Rivelino Brunini, Fauze Rachid Jaudy e pela tentativa de homicídio contra Gisleno Fernandes, em 2002.

A condenação ocorreu em júri popular iniciado na manhã de quinta-feira (10) e só finalizado na tarde desta sexta-feira (11).

A sessão foi presidida pela juíza Mônica Perri e a punição foi decretada pelos votos de sete jurados que compunham o Conselho de Sentença.

Além de Arcanjo, outros três envolvidos nos mesmos crimes foram condenados anteriormente.

Em 2012, o ex-cabo PM Hércules Agostinho Araújo pegou 45 anos de prisão e, em julho deste ano, o ex-soldado da PM Célio Alves de Souza e o uruguaio Júlio Bachs receberam pena de 46 anos e 10 meses e 41 anos de reclusão, respectivamente.

Durante o julgamento, a defesa de Arcanjo, representada pelo advogado Paulo Fabrinny Medeiros, sustentou ausência de provas que ligassem o ex-bicheiro à execução dos dois empresários.

Para Fabrinny, foi criado um mito em torno da figura de seu cliente e a acusação não passaria de uma "forçação de barra", uma vez que Arcanjo possuía diversos negócios, comandava o jogo do bicho e sequer tinha interesse em atuar no ramo de caça-níqueis que Rivelino Brunini integrava.

O promotor de Justiça Vinícius Gahyva, representante do Ministério Público Estadual, expôs aos jurados que tanto os depoimentos testemunhais quanto as provas colhidas deixavam evidente que era Arcanjo quem comandava e autorizava o funcionamento das máquinas caça-níqueis no Estado.

Uma das provas mais fortes expostas por Gahyva era o símbolo do pássaro colibri nas máquinas, o mesmo utilizado pela factoring de Arcanjo.

Quanto à execução, Gahyva relatou que o panorama exposto na ação revelou que Arcanjo teria mandado matar os empresários em razão de "desobediência" de Rivelino Brunini em manter máquinas em Várzea Grande sem sua autorização.

Além disso, existiriam fortes indícios de que Rivelino pretenderia abandonar o ramo e denunciar Arcanjo às autoridades, motivos que, para Gahyva, seriam suficientes para que Arcanjo quisesse executá-lo.

João Arcanjo também cumpre pena por ter mandado matar, em 2002, o empresário Sávio Brandão, então dono do jornal Folha do Estado, e por crimes contra o sistema financeiro.

Ele cumpre a pena em presídio de segurança máxima, em Porto Velho (RO).

Interrogatório

Em seu interrogatório, realizado na noite de quinta-feira (10), João Arcanjo negou envolvimento com os crimes.

Ele disse, inclusive, que chegou a ser convidado a participar do negócio envolvendo os caça-níqueis, mas que recusou a proposta por "não achar viável".

Arcanjo admitiu que era amigo de Júlio Bachs, apontado como um dos operadores dos caça-níqueis no Estado e suposto mentor do crime, e que ambos jogavam futebol duas vezes por semana.

O ex-bicheiro também se defendeu da acusação de que uma das provas de seu envolvimento era o fato de as máquinas conterem o símbolo de um colibri, o mesmo utilizado em uma das factorings dele.

"Quando eu fiquei sabendo do símbolo, reclamei com o Jesus e o Rivelino. Tanto que, a partir disso, eles tiraram o símbolo e colocaram outro. Eu não tinha interesse nas máquinas, pois já explorava o jogo do bicho em Cuiabá", disse.

Ele negou ter ficado furioso pouco antes da data do crime, quando teria mandado apreender as máquinas de Rivelino que estavam em um galpão.

"Nunca existiu isso. Nunca mandei nem colocar nem retirar máquinas. Isso é um absurdo. Não tem porque eu ter feito isso. Eu conhecia o Rivelino, gostava dele", defendeu Arcanjo.

"Vingança"

A versão apresentada pelo promotor Vinícius Gahyva foi corroborada pelo testemunho de Ronaldo Sérgio Almeida, que, na época dos fatos, estava preso na mesma cela que Júlio Bachs - considerado o "braço direito" de Arcanjo -, local em que conviveram por mais de duas semanas.

Durante este tempo, segundo a testemunha, Júlio Bachs teria dito que mataria Rivelino Brunini, assim que saísse da cadeia, com o aval de João Arcanjo, que recebia o apelido de "papai do céu"

O motivo da desavença seria uma suposta fita, em posse do sargento Jesus (um dos pistoleiros de Arcanjo), em que Rivelino tramaria a morte de Júlio Bachs e do próprio militar.

“Ficamos de 15 a 20 dias na mesma cela, com mais sete, oito presos. Ele disse que ia matar o Rivelino e, depois, me mostraria um jornal com a notícia”, disse Ronaldo Almeida.

Segundo o ex-detento, Júlio Bachs voltou para visitá-lo três vezes após sair da prisão. Na última visita, ele levou um jornal com a notícia da morte de Rivelino Brunini.

Na mira de Arcanjo

A irmã do empresário Rivelino Brunini, Raquel Brunini, também afirmou ao Júri ter certeza de que seu irmão foi morto a mando de João Arcanjo.

Segundo ela, a situação começou a ficar grave para Rivelino após a disputa de poder entre os controladores das máquinas caça-níqueis, que começaram a se acusar mutuamente de roubar máquinas e tentar burlar o sistema combinado.

O estopim teria ocorrido, segundo ela, após Arcanjo ter apreendido as máquinas de Rivelino e o proibido de atuar na região da Capital. Como seu irmão não obteve lucro ao implantar os caça-níqueis em Chapada do Guimarães e foi atuar em Várzea Grande, Arcanjo não teria gostado da desobediência, motivo pelo qual mandou executá-lo.

Raquel Brunini contou que, após um dos envolvidos - Sargento Jesus - ter sido assassinado, seu irmão lhe contou que provavelmente teria o mesmo fim.

“Ele disse para mim ‘agora, não tem mais jeito, vão me matar’”, relatou a irmã da vítima.

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