Em seu livro, “As consequências da Modernidade”, Anthony Guiddens usa uma metáfora que compara o progresso com a ‘Carruagem de Jagrená’, tema da mitologia hindu, onde essa carruagem é um veículo desgovernado, disparado ladeira abaixo, sem que alguém possa controlá-lo.
O Brasil, tomando de empréstimo a metáfora usada por Guiddens, também se parece, nestes tempos sombrios, com a ‘Carruagem de Jagrená’. Em disparada, cemitério abaixo, sem controle de quem deveria ser o seu cocheiro, mas o soberbo suserano não se rebaixaria a ser cocheiro de uma carruagem desgovernada. Para isso o capitão nomeou um general estrelado para mantê-la nessa rota impiedosa, já que era considerado “O Senhor dos Mundos” quando o assunto era logística, como na lenda o era Jagrená.
Sabia tudo de logística, porém, desconhecia a estatística, que passou a ser o seu maior problema. A primeira coisa que fez, foi escondê-la e a escondeu tanto que até a Anvisa utiliza os dados da grande mídia, nunca a do ministério, que se tornou um mistério indecifrável. E o inefável permanece, por traz dos panos, no comando da carruagem, mas ao que parece, o problema se tornou tão complicado que teve de colocar um dublê ao seu lado, um cardiologista titulado.
Posar de ministro, eis um grande ganho político, talvez o único disponível a esse estetoscópio ambulante que perambula, segundo consta na mídia, de gabinetes em gabinetes do Congresso Nacional, na tentativa de, como bom alpinista, escalar algum píncaro, mesmo que em franca decadência moral, como soe acontecer com o nosso glorioso e tão querido Ministério da Saúde, conspurcado pelo suserano e seu duplo boneco de ventríloquo.
É inacreditável que alguém que, provavelmente, por artimanhas, assumiu o comando de uma Instituição tão respeitada no mundo, como a nossa Sociedade Brasileira de Cardiologia, assume o papel de sombra de general, talvez para saciar uma imperiosa sede de poder, mesmo sem poder transformar palavras em gestos, pois antecipadamente deve ter sido informado com todas as letras que “aqui quem manda sou eu”. Tanto deve ser verdadeira essa afirmação, que o estetoscópio ambulante não se fez de rogado e já deixou mais do que claro, que apenas executa a política de saúde do governo, dito de outro modo, de Bolsonaro.
Em texto anterior, afirmei que, “qualquer médico que aceitar isso deve ter seu diploma cassado por falta absoluta de caráter e por traição ao seu juramento”. Continuo reiterando esta afirmação, pois é inconcebível que qualquer profissional, e profissional é alguém que professa e professar quer dizer: “reconhecer publicamente; confessar, declarar; prometer, jurar”, sirva de álibi ao demiurgo em sua sanha de dono do mundo.
E agora “doutor cardiologista”? Vai fazer o quê? Continuar como ‘sombra’ de uma estrela já sem brilho, embaçada pela incompetência, ou assumir uma mínima dignidade e entregar o encargo de levar bordunadas de todos os recantos do Planeta?
Enquanto aguarda a “boa vontade” do suserano, posta-se como poste no meio-fio e emposta a voz para dizer o óbvio enquanto espera em uma geladeira moral o momento de ter o nome no Diária Oficial em edição extra.
Enquanto isso, a Carruagem de Jagrená, cemitério abaixo, percorre seu trajeto em disparada, fazendo subir em ritmo acelerado a curva de mortalidade, não mais de idosos, apenas, agora incorporando seres humanos de todas as idades.
JOSÉ PEDRO RODRIGUES GONÇALVES é médico cardiologista.
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