Refiro-me a Ana Lins dos Guimarães Peixoto, mais conhecida como ‘Cora Coralina’. Nascida na Cidade de Goiás (antes Goiás Velho) no dia 20 de agosto de 1889, sem dúvida transformou a poesia e os contos brasileiros tornando-se uma das mulheres mais importantes na literatura nacional.
Apesar de ter publicado o seu primeiro livro aos 75 anos (1965), Cora começou a escrever seus contos e poesias aos 14 anos, chegando a publicar alguns no jornal de poemas “As Rosas”.
Sobre a vida pessoal, Aninha era diferenciada. Filha de um desembargador e de uma dona de casa, fugiu em 1911 com o advogado divorciado Cantídio Tolentino Bretas, com quem se casou, passando a morar em Jaboticabal/SP.
Na promissora Semana da Arte Moderna em 1922, foi convidada a participar, porém, foi impedida pelo companheiro. Após a morte do cônjuge, em 1934, a fim de sustentar os quatro filhos, se tornou doceira.
Ainda em 1934 passou a trabalhar também como vendedora de livros. Mudou-se para Andradina/SP em 1936, onde passou a escrever para um jornal local. No ano de 1951 foi candidata a vereadora. Em 1959, aos 70 anos, começou a aprender datilografia para finalizar melhor as suas poesias e contos para entregá-las aos editores.
Mesmo não estando totalmente dedicada à literatura, nunca deixou de escrever. Muito do que escrevia era ligado à sua história. É possível ver em seus cânticos e versos o passado vivido. Quando recebeu o título acadêmico falou sobre a sua identidade, o seu pseudônimo, conforme o seguinte poema: “Estou presa nesta roda/sozinha pra cantar/Sou filha de lavadeira,/Não nasci para brincar./Minha mãe é lavadeira,/lava roupa o dia inteiro./Busco roupa e levo roupa/Para casa vou voltar.”
Sobre o passado familiar, a nossa Cora deixou: “O tempo foi passando, foi levado:/minha bisavó, meu avô, minha mãe, minhas irmãs./A velha casa./Os velhos preconceitos/de cor, de classe, de família./O tempo, velho tempo que passou,/nivelou muros e monturos./Remarcou dentro de mim/a menina magricela, amarela,/inassimilada,/do tempo do cinquinho.”
Saturnino Pesquero Ramón, autor do livro “Cora Coralina – O Mito de Aninha”, que trata da própria dita que: “Estudiosos da filosofia, da psicologia e da arte em geral estão francamente convidados a voltar seus olhos para os escritos de uma mulher que cumpriu sua quase secular existência de um modo tão comum que, em seu lirismo, misturam-se versos e doces. Cora Coralina é um modelo ímpar de síntese entre o popular e o erudito.”
Visitar a casa dessa mulher, que se tornou ícone por sua literatura e realidade na fala é quase como estar ao seu lado, esperando que ela a vislumbre em um dos simples e aconchegantes cômodos. Ao abrir qualquer das janelas se deparara com histórias humanas a desfilar.
Afirmava que era mais doceira que escritora, e que seus doces eram poemas. É importante rememorar trecho do poema em que ela se descreveu, denominado ‘Auto-retrato’: “Sou mulher como outra qualquer./Venho do século passado/e trago comigo todas as idades/ (...) Numa ânsia de vida eu abria/o voo nas asas impossíveis/do sonho/ (...) Sendo eu mais doméstica do que intelectual,/Não escrevo jamais de forma/consciente e raciocinada, e sim/impelida por um impulso incontrolável./Sendo assim, tenho a/consciência de ser autentica.”
Após editar o seu primeiro livro assumiu o epíteto de Cora Coralina, com o significado de ‘lavadeira do Rio Vermelho’. Faleceu em Goiânia, no dia 10 de abril de 1985, deixando um legado mais que literário, humano, feminista, e servindo como modelo de obra e vida.
Somos Coras!
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
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1 Comentário(s).
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| Michelle Leite de Barros 16.08.21 11h23 | ||||
| Amo Cora Coralina!! Maravilhosa!!! | ||||
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