Entra ano, sai ano, e os dados estatísticos mostram que as políticas de reparação têm, sim, mobilizado acessos, permanências e conquistas. No entanto, o sucesso nem sempre acontece. Há uma bala no meio do caminho — e ela encontra o corpo negro.
 
 A vida segue com o alvo nas costas, na cara, no peito. Negro sempre é suspeito — parado ou correndo. De documento na mão, carteira assinada, tudo certo com a vida do cidadão, mas ainda assim é parado, abordado, humilhado. Precisa provar que não é ladrão.
 
 Enquanto isso, um silêncio abismal paira sobre as dores colossais que se repetem. Segunda-feira chega e, com ela, mais uma notícia, mais uma tragédia, mais um corpo negro no chão. O ciclo da violência racial se renova como se fosse parte natural da rotina brasileira.
 
 É novembro, mês da consciência negra, tempo de lembrar e de resistir. Mas até quando vamos apenas lembrar? Quantas pessoas ainda serão atravessadas pelas balas do racismo, pela ausência de letramento racial, pela inconsistência das políticas públicas e pelo pacto do silêncio que sustenta privilégios?
 
 Precisamos, com urgência, romper o pacto da branquitude — esse acordo tácito que normaliza a desigualdade e naturaliza o sofrimento negro. Reparação não é favor, é justiça histórica. Que novembro não seja só um mês de pautas simbólicas, mas um chamado à ação contínua, um grito por vidas negras livres, vivas e inteiras.
 Que as flores da primavera de novembro não seja sobre inúmeros sepultamentos, mas um florescer de mudanças reais para vidas inteiras .
Manoel Silva é jornalista e presidente do Conselho estadual de promoção e igualdade racial do estado de Mato Grosso.
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