O quintal da casa dos meus pais era um pequeno paraíso, onde as borboletas reinavam com leveza.

Nas manhãs de sol, elas surgiam entre as flores de maracujá e hibisco, dançando no ar como se o vento tocasse uma música invisível.
A vida parecia mais leve quando uma borboleta pousava num galho, abrindo suas asas coloridas como se mostrasse um segredo da natureza.
Minha mãe dizia que as borboletas eram almas de visita — parentes que vinham ver como estávamos.
Cresci acreditando nisso, e até hoje, quando uma delas aparece, fico em silêncio, respeitoso, como quem recebe uma benção.
As crianças corriam pelo quintal tentando pegá-las com as mãos, mas bastava um sopro para que escapassem.
Eram frágeis demais para o toque, mas fortes o suficiente para atravessar ventos e chuvas em busca de novas flores.
As borboletas vivem pouco, mas sua breve passagem deixa marcas de beleza.
Elas nos ensinam que a transformação é parte da vida: antes do voo, há o tempo do casulo, o recolhimento silencioso, a espera paciente.
Depois, o esplendor das asas — a liberdade conquistada pela metamorfose.
Nos dias de hoje, quase não se veem borboletas nos quintais das cidades.
As flores rarearam, o espaço se perdeu.
Mas quando uma delas aparece, dançando sobre uma planta do meu jardim, é como se o tempo parasse.
Vejo nela um recado da infância, um aceno do passado que insiste em me visitar.
As borboletas lembram que a vida, mesmo curta, pode ser leve e colorida.
E que, assim como elas, também passamos — deixando beleza por onde voamos.
Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT.
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