Em minha trajetória como cirurgião oncológico e cirurgião de cabeça e pescoço, aprendi que há decisões que não podem ser adiadas. Uma delas diz respeito ao que muitos costumam ignorar: um pequeno caroço no pescoço. Quase sempre silencioso, ele pode parecer inofensivo. Mas, sob o olhar clínico, pode representar algo muito maior — e mais sério — do que se imagina.
O nódulo na tireoide é uma condição extremamente comum. Estima-se que até 60% da população tenha ao menos um, muitas vezes descoberto por acaso em exames de imagem. A maioria é benigna, é verdade. Mas será que podemos nos dar ao luxo de ignorá-los? Eu diria que não.
Entre 5% e 15% dos nódulos podem ser malignos. Isso significa que estamos diante de uma condição com potencial para evoluir para um câncer de tireoide. E, mesmo quando benignos, nódulos volumosos podem comprometer a qualidade de vida, causar desconforto estético ou prejudicar funções essenciais como engolir e respirar.
A medicina nos oferece ferramentas poderosas para a investigação: a ultrassonografia, a punção aspirativa por agulha fina (PAAF), a análise citológica. Sabemos o caminho, dominamos a técnica. Mas tudo começa com um passo simples — a decisão de procurar ajuda.
Por isso, é preciso repetir, quantas vezes for necessário: não espere sentir dor para buscar um especialista. Nem todo câncer dói. O câncer de tireoide, inclusive, é frequentemente silencioso. Descobri-lo precocemente pode significar uma cura com mais de 90% de chance de sucesso. Isso não é apenas estatística — é a realidade de quem age a tempo.
Infelizmente, ainda enfrentamos o mito da espera. "Se não incomoda, deixa pra lá", dizem alguns. Outros temem a cirurgia, como se fosse um passo maior do que o necessário. Mas quero deixar claro: a cirurgia de tireoide, quando bem indicada e realizada por um profissional experiente, é segura e traz excelentes resultados.
Na prática, o que mais vejo são pacientes que, ao optarem pela investigação e pelo tratamento adequado, retomam não apenas a saúde física, mas também a tranquilidade emocional. E isso, para mim, é tão importante quanto remover o nódulo em si: devolver ao paciente a confiança de que ele está no controle da própria saúde.
Por isso, deixo aqui meu posicionamento, não só como médico, mas como alguém que já caminhou ao lado de milhares de pacientes: se você tem um nódulo na tireoide, ou notou qualquer alteração no pescoço, não postergue. Ouça seu corpo. Valorize o tempo. A resposta que você procura começa com uma simples atitude: procurar um especialista.
Quando o assunto é a sua saúde, cada escolha conta. E nesse caso, agir com antecedência pode ser exatamente o que garante o melhor desfecho.
Rogério Leite é cirurgião oncológico, especialista em cirurgia de cabeça e pescoço.
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