Cuiabá, Domingo, 28 de Dezembro de 2025
ANA BARROS
28.12.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Caso Havaianas

Quando crise vira palco e o papel da assessoria no reposicionamento

A recente polêmica envolvendo a campanha de fim de ano da Havaianas escancarou uma verdade que profissionais de comunicação conhecem bem: no ambiente digital, silêncio também comunica, e, muitas vezes, deixa espaço para que outros ocupem a narrativa. O episódio, que começou como uma ação publicitária criativa, rapidamente foi capturado por disputas ideológicas e transformado em crise reputacional. Ao mesmo tempo, revelou como marcas atentas, mesmo sem discurso explícito, podem se beneficiar quando entendem o timing da conversa pública.

 

A frase “Não quero que você comece 2026 com o pé direito”, lançada em campanha estrelada por Fernanda Torres, foi interpretada por setores conservadores como provocação política. O resultado foi previsível: boicotes, manifestações organizadas, vídeos de destruição de produtos e uma avalanche de comentários que extrapolaram o campo do consumo e migraram para o embate ideológico. Em tempos de redes sociais hiperpolitizadas, campanhas deixam de ser apenas campanhas, tornam-se símbolos.

 

É nesse ponto que a assessoria de imprensa e a comunicação estratégica se mostram indispensáveis. Não se trata apenas de “apagar incêndios”, mas de compreender o ambiente, mapear riscos, antecipar interpretações e orientar marcas sobre como, quando e se devem responder. A ausência de uma mediação clara pode ampliar ruídos e permitir que terceiros,  muitas vezes concorrentes,  ditem o tom do debate.

 

Enquanto a Havaianas enfrentava desgaste, marcas como Ipanema e Tropical Brasil passaram a ser mencionadas espontaneamente como alternativas de consumo. No caso da Ipanema, o crescimento foi expressivo: o perfil da marca no Instagram dobrou de seguidores em poucos dias, impulsionado por uma narrativa construída pelos próprios usuários. A empresa, com leitura precisa do cenário, respondeu com uma peça simples, rápida e alinhada ao humor do momento, convertendo engajamento em posicionamento sem necessariamente assumir um discurso político formal.

 

Esse movimento não acontece por acaso. Ele é resultado de escuta ativa, leitura de contexto e decisão estratégica. E aqui entra o papel fundamental da imprensa. Foi a cobertura jornalística que organizou os fatos, contextualizou os discursos, expôs os impactos econômicos e revelou os desdobramentos no mercado. Sem jornalismo profissional, a crise ficaria restrita ao campo da gritaria digital, onde versões se sobrepõem aos fatos.

 

Para quem atua em assessoria de imprensa, o episódio deixa lições claras. Marcas não controlam mais apenas o que dizem, mas também o que é dito sobre elas. E é justamente nesse espaço entre a marca, a sociedade e a imprensa que o assessor atua: traduzindo, mediando, contextualizando e protegendo reputações sem abrir mão da transparência.

 

Crises de imagem continuarão existindo. O que muda é a capacidade de gestão. Em um cenário em que um slogan pode virar manifesto e um chinelo pode se tornar símbolo político, comunicação deixou de ser acessório. É estratégia central. E quando bem conduzida, transforma ruído em aprendizado, exposição em reposicionamento e debate em oportunidade.

 

No fim das contas, mais do que “pé direito” ou “pé esquerdo”, o que define o futuro das marcas é ter comunicação profissional, imprensa responsável e estratégia clara para caminhar em terrenos cada vez mais sensíveis.

 

Ana Barros é jornalista em Cuiabá e atua em assessoria de imprensa.
 

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
0 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Preencha o formulário e seja o primeiro a comentar esta notícia



Leia mais notícias sobre Opinião: