Cuiabá, Terça-Feira, 25 de Novembro de 2025
ROSANA LEITE
25.11.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Desenhos que falam

As estatísticas da violência contra as mulheres em Mato Grosso são alarmantes

As estatísticas da violência contra as mulheres em Mato Grosso são alarmantes. Pensando no enfrentamento à violência de gênero, algumas escolas de Cuiabá realizaram atividades educativas, para que crianças e adolescentes se expressassem através de desenhos, por conta da campanha nacional Agosto Lilás.

           

Nesse período, em visitas a algumas escolas para a fala sobre o combate à violência contra as mulheres, o Núcleo de Defesa das Mulheres da Defensoria de Mato Grosso se fez presente através das Defensoras Públicas que por lá atuam. Assim, foi possível o contato com desenhos de alunas e alunos sobre a violência contra as mulheres, de forma a entender quanto às percepções que os jovens possuem dessa violência.

           

À primeira vista, parecia paradoxal envolver os pequenos e pequenas em discussão tão dura. No entanto, não é afastando que a proteção se viabiliza, já que a violência atravessa os lares, as comunidades, e suas experiências são nefastas. O desenho pode revelar o silêncio, mas, externar o quanto elas e eles se expressam nesse enfrentamento.

           

As crianças e adolescentes são testemunhas de gestos, silêncios, gritos, portas batendo, e olhares carregados de medo. Mesmo quando os adultos tentam esconder, a violência deixa marcas que os olhos infantis captam e sentem. Permitir que desenhem sobre isso é, de certa forma, conceder-lhe uma linguagem segura para nomear aquilo que lhe escapa em palavras. O desenho vira desabafo, reflexão e território de cura.

           

É preciso compreender que para muitas crianças e adolescentes, a violência doméstica não é um conceito, mas, sim, rotina. Ouvir a mãe chorar atrás da porta, ver marcas na pele, e presenciar discussões intermináveis, infelizmente, retira a inocência e atravessa a realidade.

           

A exposição foi pensada não somente para a instrumentalização da dor de crianças e adolescentes, mas, também, para que respectiva voz seja reconhecida.  Quando os desenhos são colocados em galeria, em um corredor de escola, ou em um espaço público, algo poderoso acontece: a sociedade se força a olhar para aquilo que prefere ignorar. Não se trata de sensibilizar pelo choque, mas pela empatia. Há, sem dúvida, nesses traços coloridos, uma denúncia silenciosa, esperançosa e profunda.

             

Muito se fala, na atualidade, sobre educação para o respeito, para a igualdade de gênero, e para a cultura de paz. É exatamente disso que se trata. As crianças aprendem, pelo diálogo e pelo acolhimento que violência não é normal, que ninguém deve sofrer, que a mulher tem valor, dignidade e direitos. Aprendem cedo a identificar comportamentos abusivos, o que é essencial para quebrar ciclos que atravessam gerações.

           

No Brasil, segundo dados, uma mulher é vítima de violência a cada minuto, e os feminicídios seguem uma curva ascendente.  Iniciativas como essa são mais que simbólicas: são urgentes. É preciso romper com a ideia de que violência contra a mulher é um problema privado e restrito aos adultos; é um problema social que atinge famílias inteiras, e que fere profundamente a infância.

           

Logo, dar visibilidade aos desenhos das crianças e adolescentes é também uma forma de mostrar o que está escondido dentro das casas. É permitir que a arte ilumine o que a violência insiste em manter na sombra. É reconhecer que educar para a igualdade é tarefa de todos, inclusive das mãos pequenas que, com lápis de cor, conseguem dizer o que muitos adultos ainda insistem em calar.

             

O mundo afetivo infantojuvenil registra tudo, e muitas vezes não encontra espaço para expressar aquilo que ficou aprisionado. O desenho passa a ser ferramenta poderosa na tradução emocional.       

           

A Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso convida toda a sociedade para a exposição “Desenhos que falam: percepções sobre a violência doméstica”, que acontecerá a partir do dia 24/11/2025, às 09:30 horas, e se estenderá até o dia 18/12/2025. Estarão expostos desenhos e trabalhos de crianças e adolescentes de escolas públicas de Cuiabá sobre como enxergam a violência contra as mulheres. Local: Setor de Acolhimento dos Núcleos Cíveis da Capital, na Avenida Historiador Rubens de Mendonça, Edifício Pantanal Business.          

 

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual e mestra em Sociologia pela UFMT.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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