Cuiabá, Terça-Feira, 7 de Outubro de 2025
ROSANA LEITE
07.10.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Dia Internacional das Meninas

É preciso reafirmar que a luta feminista não é opcional

O Dia Internacional das Meninas, celebrado em 11 de outubro, não é apenas uma data simbólica. É um lembrete urgente das desigualdades estruturais que ainda marcam a vida de milhões de meninas no Brasil e em todo o mundo.

       

Instituído pela Organização das Nações Unidas em 2011, a data surge como uma resposta global às desigualdades históricas que atravessam a vida de meninas em diferentes contextos sociais e culturais. Mais do que uma celebração, trata-se de uma data que evidencia a necessidade de refletir sobre os desafios que limitam o pleno exercício da cidadania feminina desde a infância. Se perfaz em um marco de denúncia e de luta contra o patriarcado, o racismo e a desigualdade de classe que estruturam as opressões vividas por meninas em todo o mundo.

     

Enquanto crescem os discursos por igualdade, a realidade mostra um enorme abismo, pois as meninas crescem envoltas a inúmeras violências de gênero. Elas enfrentam: violência doméstica, exploração sexual, casamentos e uniões precoces, evasão escolar causada pela pobreza menstrual e pela divisão desigual das tarefas domésticas. O patriarcado ainda tem naturalizado os papéis sociais, e impõe limites à autonomia feminina desde a infância.

           

No Brasil, dados do IBGE (2022) e do UNICEF revelam que meninas negras e indígenas estão entre as que mais sofrem com a evasão escolar, os casamentos e as gestações precoces. Além disso, enfrentam maiores índices de violência doméstica e exploração sexual. Esses elementos confirmam que a desigualdade de gênero não pode ser analisada de forma isolada, mas em diálogo com os marcadores sociais da diferença. 

        

As mulheres não são cuidadoras por natureza. Entretanto, elas são educadas para obedecer, servir e cuidar. Já os meninos são educados para liderar, ocupar e conquistar espaços. Essa educação desigual repercute em toda a trajetória de vida das meninas, limitando oportunidades profissionais, políticas e sociais. Ao mesmo tempo, são elas as primeiras a serem responsabilizadas pelo cumprimento das tarefas domésticas.

           

É preciso reafirmar que a luta feminista não é opcional no Dia Internacional das Meninas. Ela é condição para que essa data não se torne apenas mais um item no calendário. Garantir direitos a meninas significa investir em políticas públicas que assegurem acesso universal à educação, à saúde reprodutiva, ao combate à violência de gênero e à igualdade de oportunidades.

           

As condições de vida de uma menina branca, de classe média, diferem profundamente daquelas enfrentadas por meninas negras, indígenas ou em situação de pobreza. A noção de interseccionalidade é fundamental para compreender como diferentes formas de opressão se entrelaçam, tornando meninas racializadas e periféricas ainda mais vulneráveis a violações de direitos.

           

No Brasil, as estatísticas são alarmantes. Segundo dados recentes do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2024 o Brasil registrou 87.545 vítimas de estupro de vulnerável, e que é equivalente a uma pessoa estuprada a cada seis minutos.

 

O perfil das vítimas de estupros, segundo o estudo, revelou que 76,8% dos estupros foi contra vítimas menores de 14 anos. É de se ressaltar que 61,3% das vítimas totais tinha até 13 anos de idade, com faixa etária de 10 a 13 anos em maior concentração dos casos.

           

Celebrar o Dia Internacional das Meninas é resistir para que nenhuma menina tenha seu destino traçado pela opressão de gênero, pela pobreza ou pelo racismo. É preciso transformar a data em mobilização pela vida, pela voz e pelo futuro das meninas. Garantir a liberdade delas é construir um mundo justo e igualitário.

      

A paquistanesa Malala Yousafzai, conhecida por defender a educação para meninas foi precisa: “Educação não melhora apenas a vida individual dessas meninas, mas também o país todo – a democracia, a economia, a estabilidade”.

 

Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual, mestra em Sociologia pela UFMT.

 

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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