A excursão histórica chega à Dresden, na Alemanha. Uma charmosa cidade de arquitetura barroca (assim reconstruída) às margens do rio Elba, hoje, com cerca de 550 mil habitantes.
Foi, sem dúvida, um dos momentos mais curiosos e dramáticos da minha viagem. Quando fui me aproximando do centro histórico de Dresden não pude acreditar que é a mesma cidade da década de 40. Quanto mais admirava a paisagem, a organização da mobilidade urbana com os bondes elétricos, os palácios e construções, mais eu ficava impressionado. Tudo mais parecia uma imensa cidade cenográfica.
A história de Dresden está ligada a um polêmico bombardeio em 13 de fevereiro de 1945 durante a Segunda Guerra Mundial, onde cerca de 25 mil pessoas morreram.
A “pérola alemã” ou “Florença do Elba”, assim conhecida pelas construções esculpidas de forma suave, com o seu centro histórico, suas igrejas barrocas, museus de arte e sua ópera grandiosa sofreu um verdadeiro massacre das tropas aliadas que transformou a cidade literalmente em pó. Muitos analistas afirmam que foi “crime de guerra”, já que a maioria das pessoas mortas nesses ataques eram civis.
É a cidade com maior destruição por metro quadrado durante a Segunda Guerra Mundial. Quem assistir ao filme “Dresden, o inferno” poderá presenciar o massacre com 2 ataques surpresas, com mais de 1.300 bombas pesadas e 4.000 toneladas de explosivos lançadas por 796 aviões britânicos para todos os lados sem dó e piedade. Para muitos moradores da região, esse episódio é tratado como “Holocausto Alemão” ou a “Nossa Hiroshima”.
Setenta e três anos (73) anos depois do massacre, caminhando pelo centro histórico de Dresden, pude presenciar o renascimento de Dresden com a recuperação do seu encanto que tinha antes do bombardeamento.
A igreja de Nossa Senhora – Fauenkirche – é um dos símbolos mais famosos da reconstrução e uma das principais obras arquitetônicas da Europa. Edificada no século XVIII, demorou 13 anos para ser entregue, no ano de 2006. É considerada a “alma da cidade”.
Antes de chegar na praça, mais precisamente na Augustsstrasse, fica o “Furstensug” (grande mural), que é considerado o maior painel de porcelana do mundo originalmente pintado em 1871 e que retrata todos os reis da Saxônia ao longo da história.
Caminhando ao longo do muro me deparei com a imponente “ Katholische Hofkirche” (igreja católica), que abriga o túmulo de Augusto, o forte, considerado o mais importante rei da Saxônia, responsável por transformar Dresden em uma metrópole cultural e artística. A ponte sobre o rio Elba é denominada Ponte Augustus.
Um pouco mais adiante está a “Staatoper Dresden”, o magnífico teatro de Ópera da cidade com sua bela construção arquitetônica.
Outro marco imperdível é o “Zwinger”, complexo de edifícios de arquitetura barroca construído por Augusto, o forte. Hoje, abriga uma série de museus sendo o mais famoso o Museu de Porcelana. Logo na entrada do palácio, cercado por um imenso jardim, um pianista à frente do seu lindo piano todo branco nos brindou com belas músicas tocadas com maestria.
A jornada cultural termina em “Neumarktplatz”, a praça principal onde tudo acontece. Após almoçar um chucrute com linguiça e maionese, fui até o outro lado da praça no “Coselpalais”, um belíssimo museu de doces. Esses lugares incríveis, que me fizeram viajar no tempo, me levaram a fazer uma grande reflexão.
A reconstrução da cidade é um marco do processo de reconstrução da Europa no pós-guerra. O mundo, com isso, parece ter aprendido a lição da Primeira Guerra Mundial. O famoso economista inglês J.M. Keynes já em 1919, em seu livro “As Consequências Econômicas da Paz”, apontava que a forma em que os vencedores estavam tratando a Alemanha (com pesadas penas de reparação após o conflito mundial) iriam gerar consequências desastrosas para toda a Europa.
Quem mais aprendeu com Keynes foram os norte-americanos, que adotaram suas principais ideias no processo de recuperação econômica comandado pelo presidente Franklin Delano Roosevelt. Roosevelt, ao invés de adotar o ideário dominante entre os economistas, que pregavam (e o fazem novamente hoje) restrições ao crédito e austeridade macroeconômica, adotou uma política de investimentos e de geração de empregos. Os norte-americanos superaram assim a depressão provocada pela crise de 1929, e ainda ganharam a Segunda Guerra Mundial.
Ao fim da guerra, os norte-americanos, agora dominantes, levaram às conferências de paz o mesmo ideário e acabaram produzindo o Plano Marshall, de reconstrução da Europa, com geração de empregos e integração dos países vencidos a um novo modelo de desenvolvimento.
A Alemanha se beneficiou muito dos créditos e do financiamento norte-americano. Suas cidades foram rapidamente reconstruídas e a economia se desenvolveu. O resultado são décadas de paz e a retomada de um país incrivelmente desenvolvido, bonito e que preserva a história, sua e da humanidade.
Nada como aprender com o passado e com as conquistas da humanidade, para imaginar um futuro melhor para a nossa terra.
VICENTE VUOLO é economista e cientista político
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2 Comentário(s).
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Etevaldo d´Almeida 18.07.18 12h05 | ||||
Infelizmente, nós brasileiros, devemos rir das nossas mazelas para não morrermos de inveja. Nesses momentos, olhar o Brasil dói na alma. É triste... | ||||
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alexandre 18.07.18 08h43 | ||||
opa, mas nós também temos a nossa dresden. a cidade de mariana foi totalmente reconstruída, as famílias foram indenizadas, o meio ambiente foi recuperado, tudo voltou ao mesmo estado que era antes do rompimento da barragem. grandes exemplos de países em que seus cidadãos amam sua pátria!!! | ||||
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