Cuiabá, Segunda-Feira, 8 de Dezembro de 2025
MAX RUSSI
08.12.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

"Laço Branco": Homens de respeito, respeitam

Homens precisam ser protagonistas ativos, não espectadores da violência contra a mulher

Apresentei à Assembleia Legislativa de Mato Grosso o Projeto de Lei nº 1782/2025, que incorpora oficialmente a Campanha do Laço Branco à legislação estadual.

Mulheres em espaços tradicionalmente masculinos. Não foi um ato de loucura isolada, mas manifestação extrema da rejeição à presença feminina em ambientes de poder

 

A proposta adiciona dispositivos à Lei nº 10.887/2019 e estabelece que homens, instituições públicas e privadas podem participar ativamente através do uso do laço branco em vestimentas, broches e materiais de divulgação, além da promoção de ações educativas e campanhas de sensibilização.

 

Também destinei emenda parlamentar para realizar, no dia 10 de dezembro, às 14h, no Allure em Cuiabá, o evento “Laço Branco: Homens de respeito, respeitam”, reunindo forças de segurança, servidores públicos e sociedade civil. Esta data carrega profundo significado histórico.

 

Em 6 de dezembro de 1989, Marc Lépine invadiu a Escola Politécnica de Montreal, separou homens de mulheres e executou 14 estudantes de engenharia. “Eu odeio as feministas”, gritava enquanto atirava.

 

Seu alvo era inequívoco: mulheres em espaços tradicionalmente masculinos. Não foi um ato de loucura isolada, mas manifestação extrema da rejeição à presença feminina em ambientes de poder.

 

Trinta e cinco anos depois, o padrão se repetiu. No Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET-RJ), Unidade Maracanã, no Rio de Janeiro, duas servidoras foram assassinadas por um colega que não aceitava liderança feminina.

 

Como em Montreal, ocorreu em instituição técnica historicamente dominada por homens, onde o agressor explicitou sua incapacidade de conviver com mulheres em posições de autoridade.

 

Do horror de Montreal nasceu o movimento Laço Branco, em 1991. Homens canadenses se comprometeram publicamente a jamais cometer violência contra mulheres e a não se calarem diante dela.

 

O Canadá proclamou 6 de dezembro como Dia Nacional contra a Violência contra a Mulher. A iniciativa chegou ao Brasil em 2001 e hoje está presente em mais de 55 países.

 

O princípio é fundamental: homens precisam ser protagonistas ativos, não espectadores passivos diante da violência contra a mulher. Quantos colegas testemunharam comportamentos machistas e permaneceram em silêncio? A omissão coletiva permite que a misoginia se normalize, escalando até explodir em violência extrema.

 

Em Mato Grosso, essa urgência é dramática. Dados da Polícia Civil apontam 51 feminicídios até 26 de novembro de 2025, superando os 47 casos registrados em todo o ano de 2024.

 

Segundo o Observatório Caliandra do Ministério Público, mais de 70% desses crimes ocorreram dentro das residências das próprias vítimas. O ano de 2025 marca o maior número de casos desde 2020, quando foram registradas 62 vítimas. Dados oficiais revelam que 46 crianças e adolescentes ficaram órfãos apenas no primeiro semestre de 2025 em decorrência desses crimes.

 

Nós, homens, precisamos nos conscientizar e reconhecer nosso papel. Homem de respeito é aquele que entende que o verdadeiro poder está em proteger, acolher e valorizar as mulheres. É aquele que reconhece a inteligência feminina no mercado de trabalho, que celebra mulheres em posições de liderança, que intervém quando presencia machismo.

 

Precisamos desarmar futuros agressores, desconstruindo desde cedo a crença de que mulheres são inferiores. A dignidade humana não tem gênero. A competência profissional não se mede por cromossomos. O respeito não é favor, é direito.

 

O Laço Branco precisa deixar de ser apenas símbolo para se tornar prática cotidiana de intervenção e ruptura com a cumplicidade masculina que alimenta a violência de gênero. Este é nosso compromisso, nossa responsabilidade, nossa urgência.

 

Max Russi é deputado estadual e atual presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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