Entre no Decentraland: Nike vende tênis que só existem em bits por R$ 500; Gucci monta um bar que nunca fecha. Em 2025, o setor já fatura US$ 800 bilhões (Statista). Mas deslize o avatar: uma criança de 12 anos gasta a mesada em skins que evaporam em 30 dias; seus dados de movimento são sugados sem consentimento; algoritmos escondem quem não tem o “look premium”.
O metaverso não é diversão. É o novo shopping e as marcas são os lojistas que esqueceram de trancar a porta.
O pai da realidade virtual, autor de Você Não É um Gadget (mais de 1 milhão de cópias), não engole mais. Em paper da USC (2025), ele mostra: 68% dos usuários sentem “ansiedade de avatar” um medo de ser invisível, pobre ou feio no digital. Marcas empurram consumo 24/7 e alimentam esse pavor. Lanier chama de “capitalismo de ego”: você paga para se sentir inteiro num mundo que nunca te abraça.
Crianças Comprando o Que Não Entendem
Roblox e Meta respondem na justiça: US$ 500 milhões gastos por menores em 2024 sem autorização dos pais. Common Sense Media (2025) flagra: 1 em cada 3 crianças de 9 a 12 anos já topou com sexo ou violência em “mundos kids”. Marcas juram segurança, mas constroem sem portões, sem filtros, sem freio. Resultado? Geração que troca infância por loot boxes e aprende a consumir antes de aprender a viver.
Inclusão? Só no Marketing
UNESCO (2025) calcula que apenas 12% dos metaversos populares são acessíveis. Marcas posam de diversas nos anúncios, mas constroem calçadas virtuais só para corpos padrão. É segregação digital disfarçada de inovação: quem não cabe no molde fica do lado de fora mesmo que esse molde seja digital.
O Preço Invisível do Brilho
Um evento de 10 mil avatars gera 80 toneladas de CO₂ (Greenpeace 2025) , igual a 40 voos transatlânticos. Marcas plantam árvores em NFT enquanto rodam servidores a carvão. Sustentabilidade vira filtro de Instagram: verde na tela, cinza no planeta.
Três Perguntas Que Salvam Reputação
Antes de lançar qualquer coisa: sua marca precisa responder a essas perguntas Uma criança de 10 anos entende o que está comprando? Uma pessoa com deficiência entra sem adaptação extra? O dado que pego melhora a vida dela ou só o meu lucro? Se a resposta for “não” em qualquer uma? Apague e recomece. Ética não é selo; é arquitetura.
Em 2024, abriu loja no Decentraland: 100% da receita de itens virtuais plantou árvores reais. US$ 2 milhões, 40 mil mudas, comunidade engajada. Não foi marketing verde. Foi modelo de negócio que prova que lucro e bem comum cabem no mesmo avatar.
O futuro não será medido por hectares virtuais, mas por vidas respeitadas. Marcas que entenderem isso vão liderar; as outras viram relíquias de um tempo em que achávamos que espaço infinito justificava comportamento finito. O metaverso é espelho: reflete ganância ou generosidade. A escolha começa agora, qual a sua?
Maria Augusta Ribeiro é especialista em comportamento digital e Netnografia.
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