Meus amigos, meus inimigos: acho constrangedor, para os mato-grossenses e, principalmente para nossa estudantada, que a principal escola estadual, na capital, continue a homenagear a memória do general-ditador Ernesto Garrastazu Médici.
Seria lógico trocar o nome e passar a chamá-la, por exemplo, de Escola Estadual Padre Raimundo Pombo. Existirão outras possibilidades igualmente válidas. Faço minha sugestão.
A futura Escola Estadual Padre Pombo fica ali, na avenida Mato Grosso, no coração de Cuiabá. Você passa pelo relógio monstruoso que a TV Centro América implantou e o prefeito Mauro Mendes vai conservando, e chega nela.
A escola é um mundo, um microcosmo da cuiabania, um prédio meio desconjuntado, carente de beleza estética, e, em suas salas, se misturam centenas de garotos e garotas dos bairros mais diferenciados e, por isso, acaba tendo papel de destaque na educação pública ofertada em nosso Estado.

"Eu acho que a memória do Padre Pombo precisa ser resgatada. E o general ditador Médici deve ter seu nome tirado da mais proletária de nossas escolas estaduais"
Sim, apesar do abandono governamental e de um certo alheamento por parte dos moradores do bairro do Araés, em derredor, aquela escola pulsa. Professores e alunos, volta e meia, estão no noticiário, lutando por melhorias no currículo, por melhorias nas estruturas da escola.
Pessoalmente, tive oportunidade de acompanhar etapas da mobilização do ano passado, que reclamava a instalação de aparelhos de ar condicionado nas salas calorentas.
Parece que, até agora, não foi atendido o pedido da refrigeração de toda a Escola. Vejam que, algumas vezes, os alunos tiveram que correr para fora das salas, pois não havia como assistir aula naqueles fornos. Uns passaram mal, botando literalmente os bofes para fora. Coisa feia de se ver. Coisa feia de saber que acontece em Cuiabá.
Situação constrangedora, humilhante. Como é constrangedor e humilhante estudar à sombra do general-ditador responsável pelo período mais sangrento da ditadura no Brasil. Médici, não.
O padre Pombo, sim. Foi professor dedicado, cordato, que ajudou a formar gerações de jovens, notadamente no Colégio São Gonçalo. Professor amoroso, ficha limpa, que cumpriu seu sacerdócio com honra, sem se contaminar com práticas odiosas como a pedofilia que já abastardou tantos sacerdotes por esse mundo afora. (Reprimir a pulsão sexual dá nisso.)
Além do mais, Pombo foi militante do velho MDB, lutador pelas liberdades democráticas. Ele se destacou tanto, nesta resistência, que acabou lançado ao Governo do Estado, quando veio a redemocratização.
Quem viveu a época e acompanhou a disputa do Padre Pombo contra Júlio Campos, da Arena, conta que Julinho só ganhou porque a roubalheira teria sido geral e muitas urnas, recheadas de votos que garantiriam a vitória ao padre lutador, acabaram boiando nas águas do Cuiabá.
Eu acho que a memória do Padre Pombo precisa ser resgatada. E o general ditador Médici deve ter seu nome tirado da mais proletária de nossas escolas estaduais.
ENOCK CAVALCANTI é jornalista em Cuiabá.