Cuiabá, Domingo, 14 de Dezembro de 2025
ENOCK CAVALCANTI
26.02.2015 | 07h31 Tamanho do texto A- A+

Padre Pombo e o ditador

É constrangedor que a principal escola estadual, na capital, homenageie a memória do general-ditador Médici

Meus amigos, meus inimigos: acho constrangedor, para os mato-grossenses e, principalmente para nossa estudantada, que a principal escola estadual, na capital, continue a homenagear a memória do general-ditador Ernesto Garrastazu Médici.

Seria lógico trocar o nome e passar a chamá-la, por exemplo, de Escola Estadual Padre Raimundo Pombo. Existirão outras possibilidades igualmente válidas. Faço minha sugestão.

A futura Escola Estadual Padre Pombo fica ali, na avenida Mato Grosso, no coração de Cuiabá. Você passa pelo relógio monstruoso que a TV Centro América implantou e o prefeito Mauro Mendes vai conservando, e chega nela.

A escola é um mundo, um microcosmo da cuiabania, um prédio meio desconjuntado, carente de beleza estética, e, em suas salas, se misturam centenas de garotos e garotas dos bairros mais diferenciados e, por isso, acaba tendo papel de destaque na educação pública ofertada em nosso Estado.

"Eu acho que a memória do Padre Pombo precisa ser resgatada. E o general ditador Médici deve ter seu nome tirado da mais proletária de nossas escolas estaduais"



Sim, apesar do abandono governamental e de um certo alheamento por parte dos moradores do bairro do Araés, em derredor, aquela escola pulsa. Professores e alunos, volta e meia, estão no noticiário, lutando por melhorias no currículo, por melhorias nas estruturas da escola.

Pessoalmente, tive oportunidade de acompanhar etapas da mobilização do ano passado, que reclamava a instalação de aparelhos de ar condicionado nas salas calorentas.

Parece que, até agora, não foi atendido o pedido da refrigeração de toda a Escola. Vejam que, algumas vezes, os alunos tiveram que correr para fora das salas, pois não havia como assistir aula naqueles fornos. Uns passaram mal, botando literalmente os bofes para fora. Coisa feia de se ver. Coisa feia de saber que acontece em Cuiabá.

Situação constrangedora, humilhante. Como é constrangedor e humilhante estudar à sombra do general-ditador responsável pelo período mais sangrento da ditadura no Brasil. Médici, não.

O padre Pombo, sim. Foi professor dedicado, cordato, que ajudou a formar gerações de jovens, notadamente no Colégio São Gonçalo. Professor amoroso, ficha limpa, que cumpriu seu sacerdócio com honra, sem se contaminar com práticas odiosas como a pedofilia que já abastardou tantos sacerdotes por esse mundo afora. (Reprimir a pulsão sexual dá nisso.)

Além do mais, Pombo foi militante do velho MDB, lutador pelas liberdades democráticas. Ele se destacou tanto, nesta resistência, que acabou lançado ao Governo do Estado, quando veio a redemocratização.

Quem viveu a época e acompanhou a disputa do Padre Pombo contra Júlio Campos, da Arena, conta que Julinho só ganhou porque a roubalheira teria sido geral e muitas urnas, recheadas de votos que garantiriam a vitória ao padre lutador, acabaram boiando nas águas do Cuiabá.

Eu acho que a memória do Padre Pombo precisa ser resgatada. E o general ditador Médici deve ter seu nome tirado da mais proletária de nossas escolas estaduais.

ENOCK CAVALCANTI é jornalista em Cuiabá.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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Pedro Jr  28.02.15 09h25
Caro jornalista Enock, foi nesta toada em que o Sr. está trilhando, que trocaram o nome de uma escola na Bahia, que tinha um nome de presidente militar, pelo nome de Carlos Marighella, o maior terrorista da história desse país, que publicou o Minimanual do Guerrilheiro Urbano, utilizado no mundo inteiro, que ensina como atacar covardemente pessoas, realizar atentados em massa, etc. Pois bem caro Enock, longe de mim querer comparar o verme Marighella ao ilustre e memorável matogrossense PADRE POMBO, que dedicou sua vida a enriquecer a cuiabania com educação, civilidade, dignidade e senso de humanidade. No entanto se me permite, gostaria sugerir que pudesse usar esse espaço social de maneira mais proveitosa, desprendido de ideologias vãs, e ao invés de sugerir a troca do nome de uma escola referência regional e pudesse sugerir a CONSTRUÇÃO DE UMA NOVA ESCOLA DE IGUAL OU MAIOR ESTIRPE e que a batizassem com o nome do grande Padre Pombo. Longe de mim, como leitor vosso, querer criticar de maneira condenável sua sugestão, sua opinião jornalistica. Apenas espero estar contribuindo com uma critica construtiva. Abraço caro Enock Cavalcanti
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luis  26.02.15 21h52
Discordo, sou um critico do regime militar, acho que foi um período triste de nossa história, mas o nome da escola é esse e pronto,cada vez que determinado grupo estiver "dominando" vamos mudar o nome das escolas, das ruas e das praças? vamos nos ocupar com coisas mais relevantes, menos ideologia mais ação por favor.
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Gustavo Monteiro  26.02.15 19h59
Ao invés do referido jornalista perder seu tempo em fazer críticas a quem muito fez por este estado e país, dever-se-ia preocupar com a qualidade do ensino e condições físicas desta unidade de ensino na qual eu estudei. Portanto, percebo que esta nota tem algo sem sentido algum, e não acrescenta em nada.E fica o recado para os alienados de plantão. Vão estudar HISTÓRIA, e não ESTÓRIA.....
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Antonio Benedito de Assunção  26.02.15 16h39
Cuiabania: Quero parabenizar o Josrnalista ENOCK pela brilhante idéia de substituir o nome da escola Presidente Médici pelo nome de um educador da estirpe de Padre Pombo. Nós, ex-alunos desse educador, bem como a sociedade cuiabana deve muito ao saudoso Padre Raimmundo Pombo,pois sem dúvida, merece ser homenageado por tudo que fez pela educação e civismos neste Estado. Prof. Conselheiro, Diretor, autor de várias peças de teatro no Colégio Salesianos São Gonçalo. Severo mas, sem dúvida, compromissado com a educação de seus alunos. Foi roubado, traído pelos seus pares do PMDB nas eleições de 82, ocasião que "perdeu" para seu ex-aluno Julio Campos, conforme seu depoimento na Revista Contato N. 77 de Julho/87 Parabéns, vamos fazer justiça de reconhecimento
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Patrícia Carvalho  26.02.15 12h36
Quanto a climatização das salas vc está equivocado, pois todas as nossas salas estão climatizadas desde 2014. É preciso ter mais atenção.
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