Cuiabá, Terça-Feira, 2 de Dezembro de 2025
GABRIEL NOVIS NEVES
02.12.2025 | 05h30 Tamanho do texto A- A+

Palavras morrendo

Falar das palavras que estão sendo expulsas da língua é coisa desagradável

O excelente escritor e biógrafo de personalidades, Ruy Castro, escreveu uma crônica que é um primor de humor, sabedoria e didatismo sobre palavras que estão morrendo em nosso idioma, substituídas por modismos da moda.

 

Há dias publiquei um texto sobre “palavras modernosas” em alta no momento atual e foquei — veja só — na palavra “tóxica”, que passou a significar tudo de ruim que acontece conosco.

 

Hoje, “tóxica” serve para definir pessoas, ambientes, relações e até emoções que causam danos emocionais ou psicológicos.

 

O imortal da Academia Brasileira de Letras enumera algumas palavras que parecem ter sido condenadas ao desuso.

 

Ninguém mais vive: agora se tem vivência.

 

Não existe mais simpatia: só empatia.

 

Ninguém mais diz “perto”: está sempre próximo de sair, de conseguir emprego, de viajar.

 

Ninguém coloca nada em lugar algum: apenas posiciona.

 

Ninguém termina: finaliza.

 

Ninguém tem resistência física ou emocional: é resiliente.

 

Ninguém completa ou enriquece um texto: atualiza.

 

Ninguém acrescenta algo ou alguém: adiciona.

 

Ninguém entrega ou manda alguma coisa: encaminha.

 

Se for endereço, então direciona.

 

E não há mais respeito ou consideração: tudo virou empatia.

 

A empatia abunda — e virou sinônimo até de simpatia, embora sejam coisas bem diferentes.

 

Falar das palavras que estão sendo expulsas da língua portuguesa é coisa desagradável, polêmica e difícil de abordar, diz Ruy Castro.

 

A não ser que você seja contumaz no uso do “eu foco”, “tu focas”, “ele foca”, “nós focamos” e “eles focam” — e resolva focar nelas.

 

E ainda dizem que somos um país que fala a mesma língua desde o seu descobrimento pelo português Pedro Álvares Cabral, em 1500!

 

Sem contar os 279 povos indígenas, falantes de mais de 150 línguas diferentes, além do nosso vasto linguajar regional, onde a mesma palavra pode ter significados completamente distintos.

 

Gabriel Novis Neves é médico e ex-reitor da UFMT.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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