Cuiabá, Sábado, 28 de Junho de 2025
LUIZ HENRIQUE LIMA
28.06.2025 | 09h14 Tamanho do texto A- A+

Pior que a guerra e o tráfico

A indústria tabagista e seu poder de matar; é hora de romper o silêncio

Em um mundo assolado por conflitos armados, atentados terroristas e a violência urbana das facções criminosas ligadas ao tráfico de drogas, há uma organização econômica que há mais de um século segue ceifando vidas em escala muito maior, em troca de lucros bilionários para poucos: o tabagismo.

 

Segundo relatório apresentado há poucos dias na Conferência Mundial sobre Controle do Tabaco, mais de 7 milhões de pessoas morreram em 2023 em decorrência da exposição ao tabaco — número que supera, com folga, o total de vítimas de todas as guerras em curso no planeta e mais o resultante das atividades das organizações criminosas de todas as espécies.

 

É surrealista. É irracional. É revoltante. É desumano. É insustentável. 

 

Enquanto os arsenais bélicos são alvos de tratados internacionais e as facções enfrentadas com forte aparato policial, os representantes da indústria tabagista, muito mais mortífera, são recebidos com tapetes vermelhos nos palácios governamentais, ministérios e casas legislativas onde, sem qualquer pudor, exercitam com hipocrisia o lobby da morte, pleiteando linhas de crédito e incentivos fiscais.

 

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer, no Brasil o custo anual com doenças relacionadas ao cigarro ultrapassa R$ 150 bilhões. Um pequeno oligopólio de fabricantes, todos controlados por estrangeiros, lucra bilhões com a morte e a degradação da saúde de nossa gente e ainda impõe um enorme déficit fiscal para o poder público federal, estadual e municipal, com a sobrecarga no Sistema Único de Saúde, além de prejuízo às empresas privadas devido à redução da produtividade resultante das licenças médicas e internações hospitalares.

 

Exclusivamente do ponto de vista econômico, a atividade tabagista é um desastre absoluto. Sob o enfoque social e humano é uma tragédia devastadora, cruel e impiedosa.

 

Câncer de pulmão, enfisema pulmonar, bronquite crônica, câncer de boca, impotência sexual masculina, aneurisma, câncer de esôfago, trombose, acidente vascular cerebral, hipertensão, câncer de fígado, úlcera duodenal, hipertensão arterial, tromboses, complicações na gravidez, câncer nos rins, leucemia mieloide aguda, infarto agudo do miocárdio. Essa é apenas uma parte do cardápio de doenças que a indústria tabagista impõe aos seus consumidores.

 

Consumidores? Não! Não são apenas os fumantes ativos que estão sujeitos a adoecerem em virtude das mais de 4.700 substâncias tóxicas presentes nos cigarros e que podem ser inadvertidamente inaladas pessoas próximas a um fumante, entre elas: nicotina, benzeno, arsênio, cianeto de hidrogênio, acetona, formaldeído, naftalina, tolueno, amônia, metanol e acetaldeído. Cerca de 40% das crianças expostas ao fumo passivo desenvolvem infecções respiratórias, como bronquite e pneumonia.

 

O cigarro, responsável por uma em cada oito mortes no planeta, é o principal fator de risco de mortalidade entre os homens e figura entre os sete maiores para as mulheres. Duvido que algum leitor não conheça pelo menos uma família que teve um de seus membros abatido pelo tabagismo.

 

A banalização dessa tragédia é tamanha que muitos ainda a tratam como uma escolha pessoal, ignorando o impacto coletivo. O cigarro mata mais que a guerra e as facções, mas não provoca manchetes diárias. Não há imagens de corpos, sirenes ou refugiados — apenas estatísticas frias e silenciosas.

 

É hora de romper esse silêncio. A guerra pela vida exige nada menos que a erradicação do tabaco. É hora de cortar incentivos, bloquear o crédito, mobilizar a sociedade com campanhas incisivas, oferecer alternativas reais aos produtores e — por que não? — avançar rumo à proibição total da produção, comercialização e consumo. Na luta pela vida saudável não há neutralidade possível.

 

Luiz Henrique Lima é professor e conselheiro independente certificado.

*Os artigos são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. 

 

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