É provável que a realidade do suicídio já tenha tocado a vida de alguém que você conheceu: um colega de trabalho, um vizinho, um parente ou uma personalidade pública. Cada uma dessas tragédias teve seu próprio enredo. Em comum, cada vítima deixou em média seis pessoas profundamente abaladas — pais, filhos, cônjuges, amigos — marcadas por sentimentos de culpa ou impotência por não terem conseguido evitar o desfecho.
Mas, se o que passou nos entristece, o presente nos desafia e o futuro nos oferece uma chance. Os dados dos últimos anos registram uma tendência de aumento de óbitos por suicídio no Brasil, ou seja, é crucial reconhecer os sinais de alerta e agir para prevenir. Precisamos falar sobre isso.
A solidão dos idosos é uma dor silenciosa. Muitos enviuvaram e não se adaptaram à ausência do companheiro de décadas. Outros vivem esquecidos pelos filhos e netos, que raramente os visitam. Há ainda os que foram perdendo os amigos próximos, um a um, e agora convivem com a saudade e o eco de lembranças que já não têm com quem dialogar. Somam-se a isso as limitações e doenças que a velhice traz, às vezes agravadas por dificuldades financeiras. O tempo, que deveria trazer serenidade e realização, pode resultar em abandono. E o abandono, quando se prolonga, pode se tornar insuportável.
Os adolescentes também enfrentam uma solidão cruel, embora cercados por telas e notificações. Faltam-lhes diálogo genuíno, contato humano, escuta sem julgamento. As redes sociais, que poderiam aproximar, muitas vezes isolam e radicalizam. Sem filtros emocionais, esses jovens são expostos a padrões inalcançáveis, discursos de ódio e estímulos destrutivos. A dor que sentem é real, mesmo que ainda não saibam nomeá-la.
A depressão, por sua vez, é uma doença que não se vê, mas que consome. Ela não é fraqueza, não é falta de fé, não é ingratidão. É uma condição médica, que precisa de tratamento, acolhimento e tempo. Não distingue idade, gênero, classe social ou sucesso profissional. Quem sofre de depressão pode estar sorrindo por fora e desmoronando por dentro. E o mais grave: pode acreditar sinceramente que o mundo estaria melhor sem ela. E isso não é verdade. Cada um de nós é único e traz em si um potencial para fazer o bem e criar coisas belas. No entanto, muitas pessoas ainda não descobriram suas próprias capacidades ou, pior, dão crédito às vozes que as desvalorizam e desrespeitam.
É preciso desfazer mitos. Suicídio não é covardia. Não é egoísmo. Não é escolha racional. Na maioria dos casos, é consequência de sofrimentos psíquicos ou dependência química, ambos com possibilidade de tratamento. E, sim, o suicídio pode ser evitado. Falar sobre o tema não incentiva o ato — ao contrário, ajuda a salvar vidas. O silêncio é que isola. A escuta é que acolhe. A informação é que previne.
O Setembro Amarelo é mais do que uma campanha dirigida àqueles que estão em risco: é um chamado a todos nós, para exercer a empatia e a compaixão. Precisamos olhar com mais atenção ao nosso redor; oferecer palavras com mais cuidado, e estar mais presentes com frequência. Viver é a melhor opção — e às vezes tudo o que alguém precisa para continuar vivendo é saber que não está sozinho, que é estimado e valorizado por alguém que não o julga e que, mesmo com as fragilidades que cada ser humano carrega, é importante pode ser útil a um propósito maior.
Como bem nos ensinou Gonzaguinha: “Eu sei que a vida devia ser bem melhor e será / Mas isso não impede que eu repita / É bonita, é bonita e é bonita”.
Luiz Henrique Lima é professor e conselheiro independente certificado.
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