Cuiabá, Quinta-Feira, 7 de Agosto de 2025
CIRCO FEDERAL
29.03.2023 | 08h43 Tamanho do texto A- A+

Audiência de Dino na CCJ tem deboche sobre Terra plana e bate-boca

Ministro da Justiça do Governo Lula participou de reunião em comissão da Câmara dos Deputados

Ton Molina /Fotoarena/Folhapress

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino

CÉZAR FEITOZA
DA FOLHAPRESS

A primeira audiência na Câmara dos Deputados com um ministro do governo Lula (PT) foi marcada por bate-boca entre opositores e aliados do Palácio do Planalto. 

 

Flávio Dino (Justiça) foi à CCJ (Comissão de Constituição de Justiça) da Casa, negou omissão das forças federais nos ataques golpistas de 8 de janeiro e acusou bolsonaristas de disseminarem fake news sobre sua visita ao Complexo da Maré (RJ).

 

A imunidade parlamentar não é escudo para o cometimento de crime nem camisa de força para maluquice

Uma das principais razões de desavença foi a decisão de Dino de acusar deputados e senadores bolsonaristas ao STF (Supremo Tribunal Federal) pela divulgação de falsidades associando sua ida à Maré a um suposto envolvimento com grupos criminosos.

 

Um dos alvos do processo, o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ) afirmou que Dino não poderia apresentar notícia-crime contra parlamentares.

 

"A Constituição diz que deputados e senadores são invioláveis, penal e civilmente, por quaisquer de suas palavras, opiniões e votos. Eu queria saber do ministro qual o entendimento da palavra - quaisquer. Não há exceção", disse.

 

Em resposta, Dino afirmou que a imunidade parlamentar não é um "direito absoluto", como reconhecido pelo STF.

 

"A imunidade parlamentar não é escudo para o cometimento de crime nem camisa de força para maluquice. É um instituto constitucional, e eu preciso lidar com carinho para que ele seja preservado", completou.

 

Durante a audiência, deputados da base e da oposição protagonizaram uma série de discussões. O principal embate ocorreu após fala do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que tentou repreender Dino por respostas irônicas que havia dado a parlamentares.

 

O senhor tem que tratar essa comissão com respeito, sem deboche ou sorrisinho de canto

"O senhor tem que tratar essa comissão com respeito, sem deboche ou sorrisinho de canto, porque aqui não tem palhaço nem circo e a gente precisa ter respeito com o Parlamento", afirmou o deputado. Em resposta, ouviu gritos de "moleque", "peruca" e "palhaço".

 

Nikolas é alvo de representações no Conselho de Ética da Câmara por fazer discurso transfóbico no plenário da Câmara, vestindo uma peruca, no Dia Internacional das Mulheres. Como a Folha de S.Paulo mostrou, porém, a tendência é que o deputado não seja cassado e receba uma punição leve.

 

Deputados da oposição disseram considerar o ministro desrespeitoso ao responder a uma pergunta do deputado André Fernandes (PL-CE), que o acusou falsamente de responder a mais de 200 processos na Justiça, segundo pesquisa que o parlamentar disse ter feito em um site jurídico.

 

O ministro recorreu ao deboche para responder às acusações do parlamentar. "Deputado da CCJ dizer que pesquisou no Jusbrasil: eu vou contar para os meus alunos como anedota, como piada. O senhor acaba de entrar no meu livro de memórias", disse o ministro, que explicou que o sistema de buscas do site identifica registros de candidaturas e prestação de contas à Justiça Eleitoral, entre outros resultados.

 

"Dizer com base no Jusbrasil que eu respondo a processos se insere no mesmo continente mental de quem acha que a Terra é plana", completou.

Em respostas, o deputado André Fernandes, investigado em inquérito no STF por incitar os atos de vandalismo em 8 de janeiro, pediu "respeito". "O ministro não está em campanha aqui, não."

 

Dizer com base no Jusbrasil que eu respondo a processos se insere no mesmo continente mental de quem acha que a Terra é plana

O ministro também usou de ironia ao dizer que não teria problema em voltar outras vezes à Câmara para discutir assuntos relacionados ao Ministério da Justiça e Segurança Pública.

 

"Não tenho medo do embate: um momento como este, para mim, é um alento na alma. Quem quiser me ver feliz, me chame aqui toda semana, porque estou realmente encantado com a possibilidade de conhecer as senhoras e os senhores. É um aprendizado para mim —eu, estudioso da alma humana e que tenho a tarefa de 28 anos de dar aula de direito", afirmou.

 

Durante a audiência, Dino ainda afirmou que o governo federal não foi omisso nos ataques às sedes dos Poderes em 8 de janeiro. Ele disse que manteve contato com os governadores Cláudio Castro (Rio de Janeiro), Tarcísio Freitas (São Paulo) e Ibaneis Rocha (Distrito Federal), na véspera dos atos, para pedir atenção às manifestações bolsonaristas.

 

"No caso de Brasília, é público e notório, o próprio Ibaneis já disse: disseram uma coisa para ele e ocorreu outra coisa [...] A Polícia Militar do Distrito Federal, infelizmente, não cumpriu aquilo que estava escrito no planejamento operacional da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal", disse.

 

Após o fim da sessão, o ministro da Justiça afirmou que a Câmara precisa reavaliar a utilização dos convites e convocações de membros do Executivo diante da improdutividade da audiência, com perguntas repetidas e bate-bocas entre parlamentares.

 

As audiências servem para que o ministro possa falar de sua área. Infelizmente, há pessoas que tentam desrespeitar o regimento interno

"As audiências servem para que o ministro possa falar de sua área. Infelizmente, há pessoas que tentam desrespeitar o regimento interno e acabam conduzindo a situações que fragilizam o Congresso Nacional", disse.

 

"Durante algumas horas, eu mostrei que em relação aos três itens do convite não havia rigorosamente nada. Tanto é que, após minha primeira explanação, todas as demais falas mudaram de assunto e virou um debate geral de governo e oposição", completou.

 

Dino foi alvo de pedidos de convocações e convite em diversas comissões da Câmara. A maioria foi protocolada por deputados bolsonaristas nas comissões de Segurança Pública e de Fiscalização e Controle.

 

O governo, porém, desenvolveu uma estratégia própria para chamar o ministro a prestar esclarecimentos antes na CCJ, cujo presidente é o deputado federal Rui Falcão (PT-SP).

 

Antes da sessão desta terça, parlamentares da base do governo se reuniram na sala da presidência da CCJ para definir uma estratégia para blindar Dino durante a audiência.

 

O plano, segundo relatos de participantes do encontro, envolveu obstruir a sessão quando a tropa bolsonarista subir o tom e inscrever o máximo de deputados aliados ao Planalto para falar, utilizando todo o tempo regimental para reduzir a atuação da oposição.

 

Dino foi convocado para explicar uma série de fatos envolvendo o Ministério da Justiça e Segurança Pública no início do governo Lula.

 

Os parlamentares perguntaram sobre a atuação da pasta nos ataques às sedes dos Poderes em 8 de janeiro, o decreto que limitou o acesso da população a armas e a visita de Dino ao Complexo da Maré.

 

Na véspera da audiência, Dino ainda bloqueou o perfil do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) em uma rede social. O caso reacendeu as críticas de bolsonaristas ao ministro.

 

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COMENTÁRIOS
7 Comentário(s).

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Mariana  29.03.23 13h51
Foi incrivel ver os bolsonaristas chorando e espumando Kkkkkk! Aceitem o golpe de vcs não deu certo!
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VANDERLEI  29.03.23 13h19
COMO ESSE CIDADAO PODE SER NOSSO MINISTRO DA JUSTIÇA, COM TANTOS PROCESSOS E UMA PÉSSIMA ADM QUE FEZ COMO GOVERNADOR!!!
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Simonetto  29.03.23 13h07
Eu assisti no google essa sessão na camara dos deputados onde o Ministro Flavio Dino arrasou com os bolsonaristas....a surra foi tão grande que ocasionou até risadas de quem estava presente.
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Armindo de Figueiredo Filho  29.03.23 12h32
ORA BOLAS!!! Circo Federal/Bate Boca etc.. é pouco!!! O que o país presenciou foi discussão, barulho, briga, algazarra e por aí vai... Tudo isso numa CCJ (uma das mais importantes comissões da Câmara Federal..).ORA ORA!!!! Nessa sessão, parecia brincadeiras de crianças...pagos com o nosso dinheiro...!!!! Que VERGONHA!!! . PUDERA!!!Um ministro "desqualificado", denunciado - RÉU em 277 processos. Provas???As redes estão aí... cheias!!!.... Vale lembrar o conhecido nacionalmente "caso dos respiradores"(pandemia), com desvio de milhões de reais. É MOLE???? MAS, o que valeu nesse encontro foram os questionamentos do Dep. Alfredo Gaspar (União/AL..), ao Min. Dino (emparedando-o) em sua visita recente ao complexo da Maré/RJ..Eis alguns dos questionamentos: >>> O Sr. esteve com algum membro do Instituto "Anjos da Liberdade"?? O Sr. recomenda aos policiais do RJ que façam a mesma em função que o senhor  fez sem ser incomodado pelos traficantes e o sr. garante a vida dele, naquela região  que o senhor  tá dizendo que é de tanta paz??? Se o senhor concorda com a DPF 579 Proposta pelo PT em comunhão com o Instituto Anjos Liberdade que pretende retornar a visita íntima à chefe de facção no presídio Federal como Marcola e Fernandinho Beira Mar???? Se o senhor vai usar essa sua "MACHEZA" que botou monte de véio, menino dentro do ônibus levou tudo pra academia nacional de polícia , o senhor vai usar contra a organização criminosa , se vai ser na BALA, na borracha ou na força??Qual é o plano de desarmamento que o senhor  vai fazer com os grandes criminosos do Brasil??Qual é o seu plano de combate à corrupção já que o senhor tem tantos colegas enlameados pela corrupção ?? Simples assim!!!...Não respondeu NADA!! São figuras caricatas/ridículas/irrisórias que não fazem nada pelo nosso país. ENFIM!!!Não teve RESPOSTAS...Esquivou-se de todas... É DE LASCAR!!!!! ....Sem mais delongas!!!Fim de
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Paulo   29.03.23 10h30
As condutas desse sujeito o desabonam para o cargo.
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