O impacto causado pela execução simultânea de três grandes obras viárias em Cuiabá, o Complexo do Jardim Leblon, a implantação do BRT (Bus Rapid Transit) e a reforma do viaduto do CPA , foi o tema central de uma audiência pública promovida nesta quarta-feira (10) pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso (MPMT). O encontro aconteceu na sede das Promotorias de Justiça da Capital e reuniu autoridades, representantes de órgãos públicos e membros da sociedade civil.
Convocada pela 29ª Promotoria de Justiça de Defesa Ambiental e da Ordem Urbanística, a audiência teve como tema “Mobilidade Urbana em Cuiabá: Desafios e Soluções Durante a Execução de Obras nas Vias Estruturais da Capital”, com o objetivo de ouvir críticas, sugestões e propostas para mitigar os transtornos que devem se estender até 2026.
Proposta concreta: criação de comitê de acompanhamento
Ao final do encontro, uma proposta prática ganhou força entre os participantes: a criação de um comitê de acompanhamento das obras, reunindo representantes da Prefeitura, Governo do Estado, Ministério Público, empresas responsáveis pelas obras e a sociedade civil.
A iniciativa foi inspirada em modelo semelhante adotado durante as obras da Copa de 2014 em Cuiabá.
A secretária interina de Mobilidade Urbana, Francyanne Siqueira, confirmou que esse será o primeiro encaminhamento após a audiência.
“Estamos trabalhando no limite, com poucos agentes e excesso de demandas. Por isso, uma das deliberações iniciais é a formação desse comitê deliberativo, que permitirá mais organização, diálogo e respostas rápidas para a população”, disse.
Déficit de agentes e pressão sobre a Semob
Francyanne também apresentou um panorama preocupante da estrutura atual da Semob. Cuiabá tem mais de 515 mil veículos, mas conta com um número de agentes de trânsito muito inferior ao necessário.
A pasta precisa atender 27 pontos críticos, cobrir cerca de 30 eventos mensais e ainda responder a uma média de 90 acidentes por mês.
Para enfrentar esse cenário, a Secretaria pretende buscar apoio da Polícia Militar para reforçar o ordenamento do trânsito, em parceria com o Estado e o Ministério Público.
Crescimento da cidade exige planejamento
O secretário de Planejamento e Desenvolvimento, José Afonso Portocarrero, destacou que Cuiabá enfrenta um desafio histórico de estrutura urbana.
“Nenhuma cidade cresce de 70 mil habitantes nos anos 1970 para mais de 700 mil sem impactos. Precisamos de planejamento e integração entre os órgãos para enfrentar isso com seriedade”, afirmou.
Comunicação com a população é falha, dizem participantes
O coordenador de fiscalização da Semob, Michel Canete, e o advogado Thiago Silva, da Comissão de Trânsito da OAB, reforçaram que falta comunicação clara com a população.
“Se o cidadão souber com antecedência sobre interdições e mudanças, consegue se planejar melhor. Hoje, o que peca é justamente a informação”, pontuou Canete.
Silva sugeriu retomar a experiência do comitê gestor da Copa de 2014. “Reuniões semanais ajudavam a criar soluções conjuntas e reduzir os impactos. É uma ideia que funcionou e pode ser adaptada ao momento atual”, defendeu.
Transparência e responsabilidade
O promotor de Justiça Carlos Eduardo Silva, que conduziu a audiência, ressaltou que o papel do Ministério Público é garantir que a população seja ouvida e que os órgãos públicos atuem com responsabilidade. Ele criticou a falta de transparência nos cronogramas das obras e defendeu maior articulação entre os entes envolvidos.
“Essa não é uma atuação isolada do MP, mas um movimento respaldado pela população. A audiência serve para dar legitimidade às ações que precisam ser tomadas”, declarou.
Expectativas e impactos
O secretário-adjunto de Infraestrutura de Mato Grosso, Isaac Nascimento Filho, apresentou imagens do andamento das obras e reconheceu os transtornos enfrentados pela população. Ele garantiu que, ao término das intervenções, a cidade contará com um sistema viário mais eficiente, seguro e preparado para o futuro.
A secretária de Meio Ambiente, Lise Bokorni, e a secretária de Ordem Pública, Juliana Palhares, defenderam maior transparência nas ações e paciência da população diante dos transtornos temporários. “Ao final, os benefícios serão significativos”, disse Bokorni.
Comerciantes pedem atenção
O vereador Alex Rodrigues, presidente da Comissão de Obras da Câmara, lembrou os prejuízos já causados pela indefinição sobre o modal de transporte coletivo — do VLT abandonado ao BRT em andamento. Ele reforçou a necessidade de atenção especial aos comerciantes afetados pelas obras.
“Muitos não resistiram. Outros lutam para manter suas portas abertas. Precisamos de soluções imediatas para garantir que a cidade continue funcionando enquanto as obras avançam”, alertou.
Também participaram da audiência o deputado estadual Tiago Silva e o representante da concessionária Águas Cuiabá, Leonardo Menna..
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