Cuiabá, Terça-Feira, 12 de Agosto de 2025
ÓDIO POLÍTICO
12.07.2022 | 07h39 Tamanho do texto A- A+

Casos de violência política disparam no país em 2022, diz pesquisa

Comparação com ano eleitoral de 2020 mostra que o pior ainda pode estar por vir, diz pesquisador

Paulo Lisboa/Folhapress

Velório do guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Arruda, baleado em festa de aniversário em Foz do Iguaçu (PR)

Velório do guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Arruda, baleado em festa de aniversário em Foz do Iguaçu (PR)

DA FOLHAPRESS

O número de casos de violência contra lideranças políticas, como o assassinato do tesoureiro do PT Marcelo Arruda, já é maior na primeira metade deste ano do que no mesmo período do último ciclo eleitoral, o pleito municipal de 2020.


A constatação é do Observatório da Violência Política e Eleitoral, formado por pesquisadores do Giel (Grupo de Investigação Eleitoral) da Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro).


Considerando-se os primeiros seis meses do ano, em 2020, ano de eleição municipal, foram registrados 174 casos e, em 2022, 214, um aumento de 23%.


O grupo considera como lideranças políticas ocupantes e ex-ocupantes de cargos eletivos, candidatos, ex-candidatos, pré-candidatos e determinados funcionários da administração pública (ministros, secretários de governo e assessores).


É o caso de Arruda, que, além de guarda municipal e tesoureiro do PT, havia concorrido a vereador e a vice-prefeito pelo partido nas últimas eleições municipais.


O boletim trimestral sobre violência política é feito pelo Giel com base no acompanhamento dos veículos de comunicação. As informações obtidas em reportagens são depois validadas pela equipe para descartar mortes naturais, acidentais ou sem razão conhecida.


O grupo considera violência política contra lideranças os atos de ameaça, agressão, homicídio, atentado, homicídio de familiar, sequestro e sequestro de familiar.


O recrudescimento da violência política já havia sido observado no primeiro trimestre deste ano, quando o Observatório registrou a ocorrência de 113 casos, 28% a mais do que no mesmo período de 2020.


Já no segundo trimestre, foram 101 episódios, 17% a mais do que há dois anos. O caso do petista entrará no próximo boletim, já que o acompanhamento é trimestral.


No período mais recente analisado, ou seja, de abril a junho, o tipo de violência mais frequente foi ameaça, com 37 casos (36,6%), seguida de agressão, com 27 casos (26,7%), e homicídios, com 19 casos (18,8%).


Houve ainda nove atentados (8,9% do total de ocorrências), cinco homicídios de familiares (5%), dois sequestros (2%) e dois sequestros de familiares (2%).


Segundo o cientista político Felipe Borba, coordenador do Giel, a comparação entre anos eleitorais é a mais adequada, devido à tendência de os casos acompanharem o calendário dos pleitos. E isso o preocupa atualmente.


"Caso se repita o que foi observado na eleição municipal, a grande escalada de violência começa agora", afirma.


Em 2020, o número de episódios de violência política aumentou 44% do segundo trimestre para o terceiro, e 93,5% entre o terceiro e o quarto trimestre.


A região Nordeste teve o maior número de assassinatos (10 casos) e, pela primeira vez, o estado do Paraná liderou o ranking, com quatros casos, algo que, segundo o boletim, "chama atenção por ser algo incomum até então".


Considerando-se o país todo, Borba afirma que o atual aumento da violência política em relação a 2020 não era esperado porque a eleição federal e estadual tem muito menos candidatos do que a municipal, quando as 5.568 cidades do país elegem prefeitos, vice e vereadores.


Em sua avaliação, a alta neste ano decorre de dois fatores. Por um lado, a violência da política estadual e federal se soma à municipal, que é predominante no país. E, por outro, afirma, o bolsonarismo usa a linguagem da violência como estratégia eleitoral, o que acaba incitando apoiadores.


"As eleições brasileiras sempre foram polarizadas, mas nunca houve pelos candidatos estímulo a violência, falar em metralhar", diz.


Na campanha de 2018, o presidente Jair Bolsonaro, então candidato ao cargo, chegou a falar em "fuzilar a petralhada".


Cobrado pela declaração neste final de semana, Bolsonaro publicou em rede social horas após o assassinato de Arruda que dispensa o "apoio de quem pratica violência contra opositores".


Para o coordenador do Giel, qualquer ato de violência contra liderança política é muito grave porque mina a democracia e ainda fere a liberdade de expressão. "Reduz a participação e a legitimidade dos eleitos e deixa as pessoas com receio de manifestar sua opinião", afirma.


Diante do acirramento das tensões no país e dos ataques de Bolsonaro ao processo eleitoral, ele diz temer que ocorra em grandes proporções algo pouco comum no Brasil: a violência pós-eleitoral, como ocorreu em episódios recentes nos Estados Unidos e na Bolívia.


Por enquanto, o assassinato do tesoureiro petista em Foz do Iguaçu (PR) não é a regra da violência política observada nos últimos três anos, que tem perfil mais local.


Estudo de Borba em parceria com Vinícius Israel, Miguel Carnevale e Pedro Bahia mostra que, no ciclo das eleições de 2020, as lideranças políticas vítimas de violência eram majoritariamente do sexo masculino, brancos, com alta escolaridade, dos pequenos municípios e filiados a partidos da centro-direita.


Por outro lado, a chance de um homicídio ocorrer era maior contra políticos não brancos e de baixa escolaridade.


Por enquanto, a dinâmica predominantemente local se mantém. Segundo o boletim mais recente do Observatório, a maior parte dos alvos da violência política do segundo trimestre de 2022 eram vereadores (48,5%) e prefeitos (10,9%).


Mas acontecimentos recentes têm aumentado a preocupação com a segurança do pleito deste ano.


Na quinta-feira (7), um evento com apoiadores de Lula na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro, foi alvo de um artefato explosivo.


No último dia 15, apoiadores do ex-presidente foram alvo de drone com um líquido antes de um ato com a presença de Lula em Uberlândia, Minas Gerais.


Como o jornal Folha de S.Paulo mostrou, a Polícia Federal decidiu antecipar e reforçar o aparato de segurança do ex-presidente.

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3 Comentário(s).

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João  12.07.22 14h35
Um "cientista político" que publica em sua conta no twitter (@FelipeB70714377) : "O GRANDE MISTÉRIO DA POLÍTICA NACIONAL É SABER COMO EXISTEM TANTOS TROUXAS DISPOSTOS A SAIR ÀS RUAS PARA DEFENDER UM GOVERNO QUE ENTREGA MORTES, DESEMPREGO, BAIXO CRESCIMENTO E INFLAÇÃO RECORDE.", quando NA VERDADE, o número de homicídios caiu significativamente desde 2.019, o índice de desemprego atingiu a marca de 9,8%, menor percentual desde 2015, o Brasil tem a economia com as melhores taxas de recuperação pós pandemia no cenário mundial e também a inflação, apesar de alta, em decorrência do "fique em casa" e da guerra na Ucrânia, é bem menor que um sem número de países mundo afora, inclusive Estados Unidos, Alemanha, França, etc, isso sem falar na miserável Argentina, que teve a infeliz ideia de votar na esquerda nas últimas eleições e hoje é a nova Venezuela. Em suma: Dá para dar algum crédito a esse militante de carteirinha??? Quem soma dois mais dois e acha quatro, não acredita em suas "pesquisas"!
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Anônimo  12.07.22 13h25
Anônimo, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas
david  12.07.22 10h39
O ódio politico tem a muito tempo, em 2018 teve o ataque ao presidenciável na época, ou isso não é ódio politico .
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