O quadro para as eleições de 2026 em Mato Grosso está indefinido e com espaço para mudanças significativas. A avaliação é do pesquisador Ronye Steffan, diretor da Percent Brasil, instituto que nesta semana divulgou um estudo sobre a disputa em Mato Grosso.
Em entrevista ao MidiaNews, Ronye apontou que a lembrança de nomes cotados ao Palácio Paiaguás - como dos senadores Wellington Fagundes (PL) e Jayme Campos e o vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos) - representa apenas “uma fotografia” do momento, mas dá pistas de como pensa o eleitor.
“Hoje o cenário para a disputa ao Governo está aberto, até por estarmos a mais de um ano para as eleições. Os eleitores não estão preocupados com eleição, e sim com fatores sociais e fatores econômicos”, afirmou.
Segundo Ronye, a disputa está travada principalmente pela elevada taxa de indecisos — entre 35% e 40% — e pela baixa convicção do eleitor.
“A maioria esmagadora, 80%, não tem convicção do voto. Ou seja, é o cara que está neutro ainda”, disse. Ele avalia que o eleitor mato-grossense tende a esperar até a campanha do ano que vem para se posicionar.
“A partir do momento que desenvolverem essa política eleitoral, eles têm possibilidade de crescimento. Então, a gente tem a migração”, diz.
Na entrevista, Ronye ainda destaca a possibilidade do surgimento de nomes novos, fala sobre a força do ex-presidente Jair Bolsonaro e do desgaste do presidente Lula (PT).
Confira principais trechos de entrevista e a íntegra no vídeo abaixo:
MidiaNews - Nesse momento o que o resultado mostra de tendência ao Governo do Estado?
Ronye Steffan – Pesquisa é uma fotografia do momento. Quando apresentamos a pergunta ao eleitor, destacamos: “Se as eleições fossem hoje”. Hoje o cenário para governo é um cenário aberto ainda, até por ter mais de um ano ainda para as eleições. Nós temos como pré-candidatos mais fortes Wellington Fagundes, Jayme e o Pivetta.
O Wellington surfa numa onda bolsonarista, com uma oposição muito forte ao governo federal, uma estratégia que ele desenvolveu. O Jayme, que é um político muito conceituado, muito estrategista. E o Pivetta é vice-governador, com o apoio do governador, e também tem o apoio do Eraí Maggi e do Blairo Maggi [megaempresários do agro]. Ele tem um poder de crescimento muito grande.
Hoje temos uma análise de quem está em evidência está bem colocado, mas tudo pode mudar durante as eleições.
MidiaNews - E isso se dá porque estamos muito distantes das eleições ou porque há um número muito grande, ou até expressivo, de quem ainda não se definiu?
Ronye Steffan – Os candidatos têm suas particularidades: um está no governo, outro é senador e o outro senador é adepto ao bolsonarismo e decidiu em ser um político de direita. E hoje nós temos um percentual de 35% a 40% de indecisos. Por quê? Porque não começaram definitivamente as movimentações políticas, nem eleitorais.
Hoje quem está surfando, como eu disse, é o Wellington Fagundes. O Jayme e o Piveta ainda não começaram. A partir do momento que os dois começarem a desenvolver essa política eleitoral, eles têm essa possibilidade de crescimento.
Então, a gente tem a migração. O eleitor que é indeciso começa a observar. Hoje, pela distância do período eleitoral, os eleitores não estão preocupados com eleição. O eleitor está preocupado com fatores sociais, econômicos, tributários.... Eles estão preocupados primeiro com a comida na mesa, depois decidir quem vai ser o próximo governador, ou próximo senador, ou o próximo deputado federal, estadual.
MidiaNews - O senador Wellington era visto com desconfiança pelos bolsonaristas, e chegou a ser vaiado no discurso de vitória do Abilio, e até chamado de “melancia”. Esse resultado mostra que ele está consolidado como candidato da direita bolsonarista?
Ronye Steffan - Ele já teve alguns cargos nos governos e foi defensor na época do governo Lula, do governo Dilma... Ele foi situação, em vez de oposição. Acho que naquele momento o PT tinha credibilidade entre os brasileiros. Então hoje não dá pra julgá-lo pelo que ele foi. Hoje nós tivemos todos esses imbróglios com o PT, escândalos... E eu acredito que não dê pra julgá-lo pelo que ele foi, pelo que ele fez. Passado é passado.
Hoje ele está tentando construir essa ideologia política e forte, e tende a desvincular [a imagem ligada a esquerda]. E ele vai ter que se desvincular. Porque hoje o PT ainda tem essa mancha [atrelada à corrupção] muito forte e isso pode ser usado contra ele nas eleições.
MidiaNews - Há outros candidatos que também se declaram bolsonaristas como Jayme e Pivetta. O bolsonarismo cola nessas pessoas mesmo elas não estando no partido?
Ronye Steffan - Acredito que sim. Cola porque esses outros candidatos defendem a mesma ideologia política de quem hoje está no partido. Mesmo o Pivetta no Republicanos, e o Jayme no União, e em tese pertencerem à base governista, eles têm outro pensamento. Eles têm o apoio e apoiam também a ideologia de direita. O combate à corrupção, combate a essa política fiscal...
E digo, quando a gente mede um retrato um ano antes das eleições, muda totalmente. É claro que nós temos um exemplo: o [Eduardo] Botelho. Ele trabalhou muito antes a candidatura, ele tinha uma “gordura” muito grande, mas o Abílio conseguiu desconstruí-lo. Foi um conceito feito antes, mas não foi sustentado.
MidiaNews - O Jayme aparece em segundo, com 12,8%, mas provavelmente não vá disputar o Governo. O fato dele aparecer em segundo revela o quê? Faltam candidatos de peso?
Ronye Steffan - Nós precisamos ter outros nomes. Tem muitos candidatos e nós também medimos outros nomes de peso. Foi um resultado oculto, que não divulgamos. Um exemplo dele é o Cidinho Santos, ex-senador. É um nome de muito peso que tem um trânsito em todos os partidos, de direita e de esquerda, e que não tem engessada essa ideologia política. Pra mim, ele poderia ser um candidato muito bom. Candidato de peso.
MidiaNews – E quanto ao Pivetta, que tem apoio do governador Mauro Mendes, mas a pesquisa aponta que ele não decolou com 8,2 % das intenções de voto. É possível saber o porquê desse desempenho?
Ronye Steffan – É o retrato do momento. Hoje talvez, o vice-governador não tenha uma estratégia para se aproximar do povo. Talvez por questões administrativas mesmo, que tenha outras a fazer no momento. Mas há essa necessidade.
O povo acha o Pivetta um político muito sério [sisudo], mas quem o conhece sabe que não. Mas a gente não pode ficar falando desse achismo, tem que mostrar que é o contrário. Eles também pedem muito o Pivetta junto ao governador.
MidiaNews – Há eleitores também que não estão convencidos de seus votos? Que podem mudar?
Ronye Steffan - Você pergunta hoje, numa entrevista ou no contexto geral de uma pesquisa, se ele tem convicção do voto. Ele diz que não. Não tem convicção. A maioria esmagadora, 80% não tem convicção do voto. Ou seja, é o cara que está neutro ainda.
Talvez pelo Wellington estar muito na mídia, em defesa do Bolsonaro. Pelo momento, e hoje no Brasil vivemos um momento delicado.
MidiaNews - Nesse estudo houve alguma sondagem sobre essa possível transferência de voto do governador, em especial para o Pivetta?
Ronye Steffan - Hoje é uma transferência mínima, e para todos os candidatos. Se a gente colocar apoio, por exemplo, do Bolsonaro para o Wellington, a transferência é mínima. Até porque a gente não sabe se realmente o Bolsonaro vai apoiar e colocar mão no Wellington Fagundes, dizendo: “Esse é o meu candidato definitivo”.
Essas medições ainda temos muita cautela em falar, porque elas não ocorrem desde que realmente seja declarado e que suba no palanque. A partir do momento dessa declaração, que sobe no palanque, aí sim...
MidiaNews - Mas pela sua experiência e estudo, a gente pode falar em um eventual percentual de transferência de votos, em especial para o mesmo cargo. Como o do governador Mauro Mendes em um apoio direto ao Otaviano Piveta.
Ronye Steffan – Ainda é muito nebuloso, é um percentual muito modesto. Hoje a gente soma no máximo em torno de 10% de transferência.
MidiaNews - É mais sobre o que a pessoa faz sobre a sua candidatura e projetos?
Ronye Steffan - Exatamente. Hoje, como nós dizemos: cada um tem o seu CPF. Há eleitores que votam, por exemplo, no Mauro, mas não votam no Piveta. Por quê? Porque o Pivetta é um outro fator, outra pessoa, e que tem um CPF próprio.
Os eleitores acompanham a desenvoltura política eleitoral do Pivetta, não se espelhar no Mauro Mendes. Então eles querem que o Pivetta faça, não o Mauro faça por ele.
MidiaNews – Isso também vale para os outros candidatos como Jayme, por exemplo, o Cidinho, que está dentro da federação?
Ronye Steffan - São para todos. Hoje a direita e a esquerda têm os seus candidatos de peso que transferem, mas não nesse volume que a gente imagina.
Um exemplo: sou Mauro Mendes, você é meu candidato, eu vou transferir quase a totalidade pra você dos meus eleitores? Não! Veja o exemplo das eleições de 2024. Aconteceu com o Eduardo Botelho [candidato a prefeito de Cuiabá com apoio do governador]. Os vereadores da base dele tiveram mais de 130 mil votos e ele 80 mil votos. Há transferência? Não.
Então, não se arrisque em pensar que um político forte, que está no mandato, transfira a totalidade dos votos.
MidiaNews – Nessa amostragem deu para perceber em quais regiões ele é mais ou menos conhecido?
Ronye Steffan - Nós avaliamos sete regiões de Mato Grosso. Ele tem uma popularidade maior no eixo do Médio Norte, no Nortão, que chega até a faixa mais ou menos de Alta Floresta. E na Baixada Cuiabana, em que ele o nome ventilado: pela imprensa, reuniões, e recentemente por ter assumido o governo interinamente, e por alguns atos que ele participou.
E nos extremos do Estado há uma dificuldade. Mato Grosso tem uma amplitude territorial que muitos países da Europa não têm.
A gente vê essa dificuldade de conhecimento pessoal e das ações, até mesmo de governo. Às vezes, o Governo do Estado tem projetos da região, mas os eleitores não estão vendo. Talvez por não veicular do jeito que era pra ser veiculado.
MidiaNews - Seria comunicação da vice-governadoria, do Pivetta, com o eleitor? Porque ele tem uma atuação forte na gestão, em especial na Educação e Infraestrutura.
Ronye Steffan - Não está chegando no eleitorado. Às vezes chega aos prefeitos, aos vereadores, mas não chega o nome dele.
MidiaNews – Essa força do PL, partido de Bolsonaro, que aparece bem posicionado com Wellington em primeiro lugar, não se traduz ao Senado. O deputado José Medeiros aparece em terceiro lugar. O que acontece?
Ronye Steffan – É a questão da entrega, do político mostrar o que é capaz e o que já fez, e fará. Enquanto não tiver, definitivamente, um político forte, evidente, que abraça aquele candidato, por essa transferência de voto não vai acontecer. Ou seja, ele tem que mostrar o que realmente ele fez até hoje. E eu acho que o Medeiros não tem essa entrega.
MidiaNews - Talvez pelo próprio cargo, por ser deputado federal, e ficar mais em Brasília?
Ronye Steffan - Exatamente, exatamente. Hoje os deputados federais e senadores têm um pouco de dificuldade do contato até estarem no Congresso Nacional e isso dificulta.
MidiaNews – A situação parece cristalizada em relação ao Mauro Mendes e à deputada estadual Janaina Riva. Se continuarem trabalhando e massificando o nome, eles devem permanecer à frente?
Ronye Steffan – Hoje, nós temos um percentual bem elevado do Mauro, até por ele estar hoje com governador, e já começa a se formar essa cristalização. Quando se fala em eleitor convicto do voto, com o Mauro é diferente.
Dos 28% de intenção de votos a ele, que é o percentual da urna, 18% a 20% são votos cristalizado. Quando você pergunta: “Você está convicto?”. Dizem: “Estou”. Mas por conta da entrega, da personalidade dele... Ele tem personalidade própria, não se espelha em outro político forte ou de nome para transferir esses votos.
E a Janaina também. E ela tem a causa feminista, na defesa de políticas contra a violência contra a mulher, ela está ganhando muita notoriedade.
MidiaNews – No caso da Janaina, há algum espólio do pai dela ou ela já conseguiu se descolar totalmente dessa imagem?
Ronye Steffan - Ainda tem. Tem as regiões noroeste, como Juara, Juína, Tapurah, Brasnorte, que é uma região ainda que eles são muito queridos. Ela ainda conta com aquele reduto, que é muito forte.
MidiaNews - E pelo fato de Janaina agora estar na oposição – feita majoritariamente por petistas – podem tentar colar nela a imagem de esquerda. Essa imagem pode colar?
Ronye Steffan – Tem esse risco. Nós tivemos uma medição em Cuiabá em que a gente perguntou qual era a ideologia política dos candidatos apresentados, e se atrapalharia eles a votarem se fosse de esquerda. E eles disseram que sim, atrapalha. Atrapalha e muito.
Ou fique no centrão, ou dê uma debandada à direita.
Hoje também não cola ser extremista. O eleitor de direita e bolsonarista. E é isso que acontece com o Wellington, que está desprendendo [da pecha da esquerda], mas hoje se levantar essas questões do passado, pode ser que atrapalhem também.
Hoje no Estado somos 50 % de direita e 20% extrema direita, que eu classifico como bolsonaristas. Ou seja, são 70% da população de direita no Estado.
MidiaNews – Para o Senado, acredita que possa surgir um nome novo e despontar, como aconteceu em outras eleições?
Ronye Steffan – Sim. Me vem a cabeça o Medeiros, que pode despontar por ter uma possibilidade muito grande dele ganhar musculatura. Não tão rápida como o Mauro e a Janaina ganham hoje.
Nas eleições é um risco. Agora, em análises de números científicos, eu vejo que a oposição da Janaina ao Mauro não tira a voto do Mauro. Ela vai conseguir de eleitores indecisos, dos que ainda votam nulo. Essa oposição pode tentar desconstruir o Mauro, mas não é garantido.
Ela ganha uma repercussão, mas não com os eleitores, porque esses eleitores estão sendo fiéis.
MidiaNews – A Percent fez algum levantamento sobre qual o segundo voto dos eleitores?
Ronye Steffan - Hoje o voto do Mauro distribuiu muito entre todos os candidatos. Não tem uma preferência ainda de candidatos, mas o percentual maior de migração vai para Janaina.
MidiaNews – A Percent também fez um levantamento sobre a presidência da República e Bolsonaro, apesar de inelegível, está bem à frente no Estado. Qual que é o peso dele em Mato Grosso?
Ronye Steffan – Falar em Bolsonaro é falar com metade da população. Ele vai ter um peso muito grande. A palma da mão dele quando encosta no candidato, especialmente, em Mato Grosso.
A gente analisa que dentro do nosso Estado, que ele vai ter uma referência gigantesca.
Todos os políticos hoje, que são do PL, deputados estaduais e federais, lideram as pesquisas. É claro, são percentuais modestos, até por conta do volume de nomes.
MidiaNews - E em relação ao Lula, vimos uma rejeição expressiva dele nessa pesquisa. Nessa mesma linha de pensamento, ele pode prejudicar a candidatura de eventuais candidatos?
Ronye Steffan - Pode. No estado de Mato Grosso está evidente que o PT e Lula vão ter dificuldades pra eleger candidatos. A não ser alguns candidatos, proporcionais, que são do partido, mas não são vinculados. Aquele que tem a personalidade própria e que entrega muito à população e aos eleitores, e por isso desprega um pouco da imagem petistas.
MidiaNews – Mato Grosso deve se manter sem representantes da esquerda na bancada federal?
Ronye Steffan – Hoje, a gente tem a possibilidade de dois candidatos estaduais de esquerda e também dois federais.
MidiaNews - Em 2024 houve erros quanto aos resultados das pesquisas. Em Cuiabá, por exemplo, apenas o AtlasIntel acertou no primeiro, mas errou no segundo turno. O que aconteceu naquela eleição?
Ronye Steffan - Nós temos um percentual de mais ou menos 12 % de uma classe alta em Cuiabá. Há uma dificuldade muito grande de acesso a esse grupo. Nós não conseguimos entrar no Alphaville, no Belvedere, nos prédios considerados de alto luxo e tem essa barreira.
Hoje, tentamos romper essa barreira fazendo uma abordagem telefônica, digital, um e-mail para preencher.
Naquelas eleições, vimos esse viés por conta desse nicho... A gente não conseguiu colher essas opiniões e isso mudou o cenário. Hoje nós já desenvolvemos várias ferramentas, pra tentar atingir essa classe.
Muitos questionaram: “Não é só aumentar a amostra?”. Não! Se eu fizer 5 mil entrevistas no estado e fizer 1.200, o resultado é o mesmo. É só preciso desenvolver técnicas para abordar essas pessoas.
MidiaNews - O eleitor brasileiro define o voto na última semana. Essa máxima também se estende ao mato-grossense?
Ronye Steffan – O eleitor mato-grossense é muito observador, e também definem o voto nas últimas semanas. O mato-grossense espera os acontecimentos eleitorais... Eles querem observar se tem uma história de corrupção, quais foram as ações, obras... O que eles trouxeram de benefício para o Estado. E o eleitor quer observar até o último instante.
Veja íntegra da entrevista:
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