Cuiabá, Terça-Feira, 7 de Outubro de 2025
CONFLITO INTERNO
07.10.2025 | 14h20 Tamanho do texto A- A+

União de governadores da direita esfria por incerteza de Bolsonaro

Iniciativa articulada há dois meses perde fôlego e esbarra em disputas internas e desconfiança de clã

Aluísio Eduardo/Instagram

Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Ratinho (PR), Mendes, Ibaneis (DF), Wilson Lima (AM), Tarcísio (SP), Castro (RJ) e Caiado (GO)

Zema (MG), Jorginho Mello (SC), Ratinho (PR), Mendes, Ibaneis (DF), Wilson Lima (AM), Tarcísio (SP), Castro (RJ) e Caiado (GO)

DA FOLHAPRESS

Ensaiada dois meses atrás, a iniciativa de governadores de direita em busca de unidade contra a gestão Lula (PT), incluindo a realização de reuniões periódicas, perdeu fôlego diante de rachas no segmento, da desconfiança do clã Bolsonaro e da relutância do ex-presidente em indicar um sucessor para 2026.

 

Nesse intervalo, Lula recuperou parte de sua popularidade, saiu da defensiva na relação com o Congresso e viu as ruas ocupadas por manifestantes de esquerda contrários à anistia a Jair Bolsonaro (PL) e à PEC da Blindagem, em uma mobilização inédita desde as eleições de 2022.

 

A tentativa de união na direita ainda esbarrou em disputas internas, como a exposta na recente troca de ataques envolvendo o governador de Goias, Ronaldo Caiado (União Brasil), e o senador e presidente do PP, Ciro Nogueira (PI).

 

A reunião dos governadores que mirou uma articulação conjunta ocorreu em 7 de agosto, poucos dias após a prisão domiciliar do ex-presidente e antes da condenação dele no STF (Supremo Tribunal Federal). A ideia envolvia ainda reunir presidentes de partido de centro e direita já na semana seguinte, o que também não aconteceu.

 

Participantes dessas conversas atribuem o esfriamento à incerteza de Bolsonaro quanto ao futuro político e a outras pautas que tomaram o noticiário, como o projeto que concede anistia aos condenados nos ataques golpistas, inclusive Bolsonaro, a PEC da Blindagem e a ampliação da isenção do IR (Imposto de Renda).

 

Além disso, apontam que a aproximação de Donald Trump com Lula reduziu a pressão sobre o petista, desanimando parte da oposição, já desconfortável com a associação do tarifaço ao Brasil ao deputado Eduardo Bolsonaro.

 

As críticas ao STF, presentes no encontro às vésperas do julgamento da trama golpista, também foram perdendo espaço para essas outras pautas.

 

Dentre os participantes do primeiro encontro, na casa do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), havia quatro cotados à candidatura presidencial: Caiado, Ratinho Jr (PSD), do Paraná, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais. No encontro também estava o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes (União).

 

À época, o governador de São Paulo ainda era o nome mais forte para herdar o espólio de Bolsonaro, apesar de nunca tenha assumido isso publicamente.

 

O movimento da direita se repetiu em um jantar da federação União Progressista, em 20 de agosto, com presença também de Zema e Caiado e no qual Tarcísio fez um discurso em defesa do padrinho político e do projeto de lei da anistia. A articulação do jantar fez com que os governistas perdessem o controle da CPI mista do INSS.

 

Mas, nas semanas seguintes, Tarcísio freou a ofensiva presidencial diante da resistência de filhos de Bolsonaro, enquanto Ratinho Jr. (PSD) ganhou força como um plano B e buscou contato com políticos e empresários paulistas para se viabilizar como alternativa.

 

Zema, por sua vez, esteve com Tarcísio na última semana em São Paulo e com Caiado há cerca de um mês em Belo Horizonte. O mineiro dá sua candidatura como certa, seja como representante da direita, seja como nome independente.

 

À Folha, Caiado defendeu haver mais de um nome da direita concorrendo à Presidência no ano que vem. Para ele, um candidato sozinho contra Lula será colocado em uma "máquina de triturar" que ninguém aguenta.

 

Apesar de os pré-candidatos terem evitado criticar uns aos outros, uma das intenções colocadas no encontro há dois meses, as trocas de farpas dentro da direita dificultaram a ideia de unificação.

 

Caiado atacou Ciro Nogueira após o parlamentar deixá-lo de fora da lista de presidenciáveis apoiados por Bolsonaro. As siglas dos dois formalizaram uma federação em agosto e no mês passado anunciaram juntos o desembarque do governo Lula.

 

O presidente do PP citou as opções de Tarcísio e Ratinho Jr. em entrevista ao jornal O Globo. Caiado classificou a fala como desrespeitosa e relembrou a ligação dele com o PT no passado.

 

Zema tentou esfriar os ânimos e disse que, "na política, meus adversários são Lula e o PT", "é com eles que a direita deve brigar".

 

Não houve avanço no afunilamento de candidaturas, e a família de Bolsonaro se tornou um fator de instabilidade.

 

Carlos e Eduardo Bolsonaro têm criticado a busca por um sucessor do ex-presidente, que já está inelegível e agora condenado a 27 anos e três meses de prisão.

 

O deputado está morando nos Estados Unidos e foi denunciado pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, sob a acusação de articular ações para intervir nos processos do ex-presidente. Mesmo assim, passou a se colocar como uma alternativa à Presidência em 2026.

 

"Mas tem problema nenhum o Tarcísio ser candidato. Mas por que, se eu sinalizo nesta direção, então eu passo a ser o problema? Por que não me tratam igual ao Ratinho, Caiado e Zema? Deixe o público escolher", disse a uma seguidora no Instagram, que se dizia bolsonarista e defensora de uma candidatura de Tarcísio. "Agora, querer na maldade da caneta prender, sem justificativa, os Bolsonaros que se dispõem a concorrer para presidente, isso sim deveria causar estranheza", completou.

 

Ciro Nogueira conversou no final de agosto com Eduardo por telefone, quando pediu que centrasse a artilharia contra a esquerda.

 

Ele é um dos principais entusiastas de uma união mais concreta do grupo político e disse, recentemente, que a direita tem falta de bom senso. Acabou se tornando um dos principais alvos do bolsonarismo reticente a candidaturas que não sejam o ex-presidente inelegível.

 

*

Tentativa de União

 

- 3 de agosto

 

Bolsonaristas fazem manifestação contra o STF e pela anistia sem participação dos governadores da direita

 

- 4 de agosto

 

Alexandre de Moraes determina a prisão domiciliar de Bolsonaro

 

- 6 de agosto

 

Presidente do PP, Ciro Nogueira visita Bolsonaro em casa

 

- 7 de agosto

 

Tarcísio visita Bolsonaro. Depois, participa de reunião com outros oito governadores da direita em Brasília, em que combinam encontros periódicos para unificar as críticas ao STF e ao governo Lula

 

Ruídos

 

- 17 de agosto

 

Carlos e Eduardo Bolsonaro dizem que os "governadores democráticos" se comportam como ratos

 

- 19 de agosto

 

Tarcísio de Freitas visita Bolsonaro, em prisão domiciliar, pela segunda vez

 

PP e União Brasil oficializam a federação. Dirigentes do centrão e da direita se reúnem na casa de Antônio Rueda. Tarcísio defende a anistia a Bolsonaro e a blindagem a deputados. Candidatura do governador ganha força

- 29 de agosto

 

Em São Paulo, Tarcísio reforça defesa da anistia, mas diz que acompanhará julgamento de Bolsonaro na capital paulista

 

Desgastes

 

- 3 de setembro

 

O julgamento da trama golpista tem início. Tarcísio muda de ideia e vai a Brasília articular a votação da anistia no Congresso

 

- 7 de setembro

 

Tarcísio sobe o tom contra o STF em nova manifestação Bolsonarista na avenida Paulista, na qual Zema também participa

 

- 11 de setembro

 

A condenação de Bolsonaro é confirmada, com pena de 27 anos e três meses de prisão

 

- 17 de setembro

 

Câmara aprova requerimento de urgência para a votação da anistia. Os deputados aprovam também a PEC da Blindagem, gerando reações negativas

 

- 21 de setembro

 

Manifestantes de esquerda Lula fazem protestos com público equivalente aos dos protestos bolsonaristas

 

- 22 de setembro

 

Ratinho Jr. circula por São Paulo para se aproximar de políticos e tem jantar com o ex-tucano Andrea Matarazzo

 

- 29 de setembro

 

Após terceira visita a Bolsonaro, Tarcísio diz novamente que disputará a reeleição em São Paulo

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