Vencedor do Miss Brasil Gay Universo 2019, o cabeleireiro Jurandir Junior, de Sertãozinho (SP), decidiu prestar homenagem à Nossa Senhora Aparecida durante o desfile que elegeu a melhor transformista do país.
Junior, que se transforma em Lorelai Muller, diz que a ideia surgiu durante a escolha do traje que homenageasse a cidade e o estado natal. A santa foi escolhida por ser a padroeira de Sertãozinho e pelo fato de a imagem ter sido achado em um rio paulista, de acordo com a fé católica.
Com ajuda do namorado e das sobrinhas, o cabeleireiro não pensou duas vezes e começou a costurar o traje. Seguro de si, Junior, que também é devoto da santa, afirma que não teve medo da polêmica que a escolha poderia causar.
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“Teve comentários de amigos [que] ficaram com medo, mas, como falei para eles, não tinha medo, nem receio, porque estaria homenageando, não estaria fazendo nada que prejudicasse a imagem dela”, diz.
Aos 21 anos, Junior diz que não frequenta igrejas regularmente, mas tem fé em Nossa Senhora, a quem ele diz pedir ajuda para enfrentar as dificuldades e ter perseverança para conquistar seus sonhos.
“Eu costumo falar que eu nunca fui tão fiel [à Nossa Senhora] como fui este ano, porque todo dia nós rezávamos, acendia vela, pedindo ajuda para ela”, relembra.
A faixa de Miss Brasil Gay Universo foi entregue em São Paulo (SP), no fim de julho, após dois dias de desfiles, palestras e oficinas sobre questões ligadas à comunidade LGBT. O cabeleireiro também contou com a ajuda à família e aos amigos.
“Foram meses de preparação. Eu falo que esse sonho não foi só meu. Foi de toda uma equipe. Nós fizemos rifas, fizemos cestas, pedimos ajuda”, conta. “Minha família é a base de tudo para mim. Sem eles, eu não teria chegado até aqui.”
Além dos custos relacionados à viagem e à hospedagem, Junior diz que gastou cerca de R$ 8 mil com traje, cabelo e maquiagem. Antes de chegar à fase nacional, ele também venceu o concurso estadual, em fevereiro, quando investiu cerca de R$ 5 mil.
Futsal de drag queens
Esta foi a primeira vez que Junior participou de concursos de beleza estaduais e nacionais, mas o sonho de desfilar por estas passarelas existe desde quando começou a se transformar, há três anos.
Junior se transformou pela primeira vez aos 18 anos, quando participou de um jogo de futsal para drag queens em Sertãozinho. Na época, ele já havia conversado com a família sobre sua orientação sexual, mas confessa que a ideia de se transformar não lhe agradava.
“Existia um preconceito até dentro de mim. Por falta de conhecimento e pelo que ouvia dentro de casa, falava que jamais ia me montar, colocar uma peruca. Hoje é totalmente diferente”, diz. “É uma forma artística, uso a Lorelai para passar informação às pessoas", completa.
O cabeleireiro relembra que não se identificou como drag queen, pois não conseguia – e nem gostava – de usar adereços muito chamativos. Junior afirma que queria, na verdade, se parecer com uma mulher.
“A diferença é que a drag queen é mais colorida, caricata, chamativa. O transformista tem que ficar idêntico a uma mulher. Já a drag queen não. Pode ser mais elaborada, uma peruca mais armada, uma roupa chamativa”, explica.
União LGBT
Poucos meses após a partida de futsal, Junior começou a participar de concursos na região de Ribeirão Preto (SP), onde conquistou seis faixas, incluindo a de Miss Gay Sertãozinho, que o levou até a disputa estadual.
O cabeleireiro afirma que, apesar de ser conhecido entre os transformistas como ‘A Caçadora de Títulos’, nunca se cobra de vencer. Para ele, o maior prazer em participar dos concursos é o sentimento de união entre a comunidade LGBT.
“O verdadeiro sentido de um concurso de beleza gay é levar cultura, arte e conhecimento. Não levar apenas para o lado da rivalidade e da competição. É saber que você pode ser o porta-voz de uma cidade, um estado, uma nação”, diz.
Com a faixa de Miss Brasil Gay Universo no ombro, Junior se prepara para disputar o concurso internacional na Colômbia, em 2020. Ele já começou a se planejar: apesar de as passagens e a hospedagem serem pagas pela organização, a produção de beleza ficará por conta dele.
“Representar a beleza do Brasil é uma responsabilidade muito grande, tenho que estar impecável”, afirma. “O nível das meninas é muito alto. Elas são impecáveis dos pés à cabeça. É totalmente diferente", completa.
Enquanto o concurso mundial não chega, Junior divide o tempo entre o salão de beleza que mantém com o namorado e o apoio a uma ONG de Sertãozinho que promove palestras, debates e eventos para LGBTs.
“Procuro passar um pouco de amor, esperança e aceitação. Antes de nos assumirmos para o mundo, temos que nos assumir para nós mesmos. Procuro trabalhar com famílias, levando conhecimento. Acredito que posso abrir portas para futuros LGBTs que virão", finaliza.
: Reprodução/Facebook
Lorelai Muller, de Sertãozinho (SP), venceu o concurso Miss Brasil Gay Universo
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