Após seis anos longe da teledramaturgia, Luciana Vendramini está de volta aos holofotes. A atriz, que marcou época nos anos 1990 como símbolo sexual, estreia agora na série independente "Não Costumo Me Apaixonar por Telefone", disponível no YouTube.
A trama surgiu a partir de um momento histórico protagonizado por Luciana em "Amor e Revolução" (2011), do SBT. Sua personagem, Marcela, foi a primeira a dar um beijo homoafetivo em novelas. Uma fã que se descobriu lésbica justamente ao assistir à cena é quem criou a produção, baseada em sua própria experiência.
Em entrevista ao F5, Luciana fala sobre o novo projeto, os desafios de seguir trabalhando na TV, a confusão envolvendo ser ou não uma paquita e relembra como lidou com rótulos e mágoas do passado. "Foi um aprendizado que me trouxe maturidade e traquejo para tirar qualquer coisa na vida de letra", diz.
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Ela também comenta a escassez de convites para trabalhar na TV. "Acho que no Brasil a roda gira muito ainda em cima de 'quem tem amigo, tem tudo'", diz ao se referir às panelas formadas por autores, atores e produtores de elenco. Seu sonho é fazer uma "vilã bem vilã". Confira abaixo a entrevista.
Luciana, seu último trabalho na teledramaturgia foi em "Espelho da Vida", há seis anos, e agora você volta em uma série, "Não Costumo Me Apaixonar por Telefone", que foi inspirada na sua personagem Marcela de "Amor e Revolução", do SBT. Como é isso?
Pois é. Marcela foi a primeira personagem a protagonizar um beijo homoafetivo com Marina, interpretada por Giselle Tigre.
Um beijo que foi ao ar sem cortes na trama de Tiago Santiago. E isso impactou tanto uma adolescente na época, que ela resolveu escrever, produzir e dirigir uma história sobre amor entre duas mulheres anos depois.
Essa menina, de família evangélica e moradora do subúrbio do Rio, é a Eve Cosendey. Quando eu soube de tudo isso, de ela ter se descoberto lésbica por causa do nosso beijo, não tinha como negar a proposta. Eu e a Giselle aceitamos na hora.
É uma série com várias temporadas?
Eu espero que sim (risos). Gravamos a primeira temporada com seis episódios, que já estão disponibilizados no YouTube, e a segunda temporada está quase pronta. É a continuação do encontro, em 1994, entre Marcela, uma mulher lésbica assumida, e Marina, hétero, que se descobre gostando de outra mulher após o fim de um casamento de anos por causa de traição do marido. Elas se tornam amigas, e é através dessa amizade que nasce o amor.
Tem cenas de sexo?
Não tem. Não tem apelo erótico para conquistar o público. A Eve fala uma coisa muito certa: quando uma série lésbica é dirigida por homens, ela fica muito em cima do fetiche. A mulher tem toda a preocupação de contar o envolvimento, a parceria, a descoberta da paixão, a amizade e, claro, o amor.
Você foi um dos símbolos sexuais dos anos 1990 e com certeza recebeu muitas cantadas de homens, propostas e convites... E de mulheres?
Olha, no final dos anos 1980 e início dos anos 1990, tudo era muito escondido. Muita repressão, julgamentos, e não era comum você ver casais lésbicos ou gays. Eu percebi algumas cantadas, mas era uma coisa tão distante do meu mundo que eu logo achava que estava imaginando coisas. Eu era de Jaú, interior de São Paulo, não era uma jovem descolada. Na verdade, não tinha percepção nenhuma de uma menina lésbica.
Mas já teve um relacionamento lésbico?
Não. Nunca tive. Converso com muitas fãs, que falam que depois dos 40 anos, 50 anos, as mulheres querem se aventurar ou experimentar outros tipos de relações. Não tenho atração por mulher, nunca tive. Na verdade, acho que sou uma mulher ligada em homem até demais.
Por que você não é chamada para fazer novelas? Seus fãs te cobram mais trabalhos na TV?
Boa pergunta... Não desmerecendo as amizades que a pessoa constrói ao longo da vida nem as patotas e turminhas, mas acho que no Brasil a roda gira muito ainda em cima de "quem tem amigo, tem tudo". É difícil furar as bolhas, especialmente quando se tem um monopólio de três emissoras. Autores escolhem os atores com quem querem trabalhar, diretores têm suas preferências. É chato? É, mas é o que acontece. Fato. Eu não desisto.
Como assim?
Não tenho a menor vergonha de ligar para os produtores de elenco e autores. Peço para fazer testes, não vejo problema nenhum. Ligo, mas não sou chamada —e está tudo bem. Mas tem pessoas que não passam os contatos, e aí é outra batalha para conseguir um número de telefone. Outro meio é mandar mensagens pelas redes sociais. Eu mando. Alguns respondem, outros não.
Não fica com raiva de ver uma atriz interpretando uma personagem que você tem certeza que faria melhor?
Ah, sim. Mas passa. Vibro com as vilãs.
Você nunca fez uma vilã?
Nunca. Acredito que nunca me chamaram para fazer uma vilã porque eu faço parte do padrão. Nós somos padronizados como a loirinha bonitinha, a ladyzinha, a namoradinha, entendeu? Dificilmente uma loirinha interpreta uma vilã. Pode reparar.
Acha que o título de símbolo sexual te atrapalhou mais do que ajudou na carreira?
Não faço a menor ideia (risos)... Quando eu comecei na carreira, eu tinha 17 anos e nem sabia direito o que era símbolo sexual. Achava que tinha a ver com sexo, com uma pessoa que fazia sexo sem parar. Eu ficava: "Gente, ainda sou virgem...". Enfim. Estava aqui no Rio sozinha porque meus pais estavam lá em Jaú, não tinha assessoria e fui pesquisar para ter uma ideia do que as pessoas falavam e pensavam de mim. Fui atirada ao léu e acabei entrando na jogada. Faço terapia há 20 anos e até hoje é uma questão na minha vida.
Ficou chateada por ter ficado de fora do documentário Pra Sempre Paquitas?
Na verdade, eu não quis participar do documentário porque cada um tem a sua versão, não é assim? E eu tenho o meu lado, a minha vivência. Ele foi dirigido pela Ana Paula Guimarães, que é uma querida, e foi a menina que entrou no meu lugar. Achei que ia ser tendencioso e também não tenho o menor interesse em ficar repetindo essa história.
Por quê?
Foi tudo muito difícil pra mim. Eu recebi um convite para trabalhar com a Xuxa, fui jogada ali no Teatro Fênix e, de uma hora para outra, falaram em uma competição, em um concurso. Só que ninguém se inscreveu ali. De repente, a Ana Paula ganhou e fui tirada. Fui trocada e levada para a rodoviária. Tchau e um beijo. Foi isso que aconteceu.
Mágoas com as Paquitas, Marlene Mattos ou Xuxa Meneghel?
Não. Nenhuma. Respeito todas as meninas porque não era uma vida fácil. Encontrei com a Marlene há um tempo e ela ainda brincou que eu era a Paquita favorita dela. A Xuxa nunca mais vi, mas está tudo certo. Não sou mais aquela menina de 17 anos que não sabia se defender. Foi um aprendizado que me trouxe maturidade e traquejo para tirar qualquer coisa na vida de letra.
Para terminar, você se arrependeu de ter posado nua ou não?
Não. Eu me arrependo de não ter sido uma garota carioca suingue, sangue bom. Queria ter aquela liberdade que as meninas do Rio tinham aos 18 anos. Eu ia para a praia e as via de biquínis pequenos, lindos, e eu de maiô (risos). Posei bem jovem e, claro, foi difícil lidar com a exposição, a repercussão dos anos seguintes. Mas, não me arrependo.
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