Por trás da coragem e da sensibilidade de padre Bida, personagem que interpreta na novela "Guerreiros do Sol" (Globoplay), está o ator baiano Rodrigo Lelis.
Na trama, ele vive um jovem enviado ainda criança ao seminário, em busca de uma vida melhor, por iniciativa da mãe.
Mas tudo muda quando ele se apaixona por Valiana (Nathalia Dill), mulher que o faz questionar a fé, a vocação e até mesmo sua própria identidade.
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"Bida é tragado por esse amor, que rompe com tudo em que ele acreditava", diz Lelis ao F5.
Para construir o personagem, Rodrigo mergulhou em uma pesquisa sobre espiritualidade. Criado no catolicismo, hoje ele diz viver uma fé múltipla, também marcada pela umbanda.
"Sou devoto de Santo Antônio e filho de Ogum", afirma. "Aqui na Bahia, isso se conecta."
"A fé me atravessa em muitos níveis. Visitei o mosteiro de São Bento e até entrei na clausura. Foram experiências que ampliaram minha visão sobre o sagrado e me ajudaram muito a compor o Bida", conta.
Antes desse papel, que marca sua estreia na teledramaturgia da Globo, Lelis chamou a atenção no cinema ao viver o cantor e compositor Caetano Veloso no filme "Meu Nome É Gal", pelo qual recebeu elogios. "Nunca quis imitar Caetano", diz sobre o conterrâneo.
"Eu o trouxe para dentro de mim. Devorei tudo: lia, ouvia, via… e, aos poucos, ele foi chegando", explica sobre seu processo na ocasião.
"Interpretá-lo foi um presente —ainda mais num filme sobre Gal, que tem a voz que mais amo na vida."
No momento, Lelis também pode ser visto na peça "Senhor Oculto", uma adaptação de "O Médico e o Monstro", dirigida por Márcio Meirelles e com dramaturgia de Mônica Santana.
A montagem propõe uma leitura racial e contemporânea da figura do "monstro".
"É na verdade uma transcriação. Um médico branco, rico, com reputação impecável, vai aos poucos revelando sua monstruosidade", explica. "A peça questiona: por que esse monstro nunca é associado a ele? Por que o privilégio o protege?"
Até se estabelecer como ator, no entanto, Lelis caminhou por outras estradas. Ingressou na faculdade de engenharia civil, atendendo ao desejo da família. "Minha mãe teve dificuldade em aceitar minha escolha pela arte. Criada na roça, lutou muito para me dar estabilidade. Ser artista parecia arriscado demais para ela", conta.
A virada veio num momento de desespero. "Chorei de verdade, sem saber que rumo tomar. E aí minha mãe, que sempre foi muito dura, falou: 'Então vamos procurar uma farmácia'", lembra, aos risos. "Ela nunca tinha me visto chorar daquele jeito. Foi ali que passou a me apoiar de verdade. Foi ela quem me ajudou a encontrar a Universidade Livre do Teatro Vila Velha, onde estudei por sete anos."
Além de cursar artes cênicas, Lelis também se formou em publicidade —uma forma de tranquilizar o pai e, ao mesmo tempo, ampliar seu repertório. "Cuidava das redes sociais do teatro, fazia de tudo por lá. Essa vivência com comunicação me ajuda até hoje, especialmente sendo um artista independente", afirma.
Com novos testes à vista, o ator pretende ser cauteloso com os convites. "Quero ser visto, mas com propósito. Se eu puder levar afeto, discussão e provocação para mais gente, já valeu. Que meu trabalho fale —e que fale muito", diz.
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