Circo Broadway

No dia 4 de junho, durante mais uma noite de espetáculo, um trapezista do circo Broadway, montado ao lado do Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, sofreu uma queda durante uma acrobacia e feriu-se com gravidade.
Levado de emergência ao hospital, Rogendegson Ramos de Abreu, de 33 anos, deixou os colegas de trabalho aflitos, mas todos com a certeza de que, já no dia seguinte, o show teria que continuar. E assim tem sido feito.
"Para a gente não foi fácil levar a alegria nesses momentos difíceis. Mas mais do que nunca a gente precisa trabalhar", afirmou Robert Ramito, irmão do trapezista.
Robert, 35, que é apresentador e irmão do trapezista acidentado, diz que, depois da grande repercussão na mídia, o público ficou com medo e deixou de comparecer às apresentações.
Por conta disso, ele precisou buscar opções para atrair as pessoas novamente. Uma delas foi realizar uma promoção no valor do ingresso: agora todos pagam meia entrada todos os dias.
Além disso, o apresentador ainda faz questão de alertar as pessoas sobre o nível de segurança do local.
“A questão da segurança do circo é importante. O circo é totalmente seguro. Usamos lona anti-chamas, tem rede, a gente atende a todas as normas estabelecidas pelo corpo de bombeiros”, apontou.
Apesar do susto, Rogendegson se recupera rapidamente, diz a família. Por ser um atleta e ter hábitos saudáveis, ele não ficará com sequelas do acidente e seu quadro está estável.
Os médicos ainda não apresentaram muitas informações sobre o futuro do artista, no entanto a família já se prepara para o retorno.
“A gente sabe que ele ainda vai precisar de tratamentos, mas a gente vai conseguir atravessar essa barra. Tudo isso aí é superável”, disse Ramito.
Robert, que cresceu no meio circense, diz que acidentes graves como esse não são comuns, porém os riscos sempre estão presentes.
Ele acredita que parte da culpa do ocorrido tenha sido do próprio profissional, que estava muito confiante. “Por um descuido dele, acabou caindo fora da rede”, relatou.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Circo Broadway surgiu em Belo Horizonte (MG), durante os anos 70
Tradição de 130 anos
Holofotes, palhaços, magia, fantasias... foi nesse ambiente que os dois irmãos cresceram. Mas a história do circo não começou aí. De ascendência espanhola, o bisavô foi o primeiro a entrar neste mundo fantástico, há 130 anos.
Depois disso, o avô Ronaldo Ramos e o pai Osvaldo Ramos também passaram a trabalhar em grandes circos. Já nos anos 70, os dois resolveram fundar o então Circo Broadway, em Belo Horizonte (MG).
Começou como um circo pequeno. Naquela época, os equipamentos eram transportados por cavalos e a tenda não possuía cobertura de lona.
Como as cidades, principalmente de interior, não possuíam cinemas, teatros ou casas de shows, o circo tinha o papel de trazer entretenimento.
“A única diversão que existia era o circo. Não tinha televisão e o circo chegava à cidade com shows, lutas, comédia, drama”, relembrou Robert.
Um dos espetáculos mais marcantes do início das atividades do circo foi uma peça teatral onde o avô interpretava o famoso cangaceiro Lampião.
Robert conta que, em um dos shows pela região nordestina, o grupo de cangaço assistiu à apresentação e ficou impressionado. Depois do espetáculo, os cangaceiros presentearam seu avô com as roupas de Lampião. Essas vestimentas ainda estão guardadas como uma relíquia de família.
Além disso, diversos músicos já passaram pelo palco do Circo Broadway.
“Cantores sertanejos, antigamente, só cantavam no circo. Milionário e José Rico, Trio Parada Dura, Leandro e Leonardo, Zezé de Camargo e Luciano, são alguns dos que cantavam em circo”, relembrou Robert.
Aos poucos o Circo Broadway foi crescendo e ganhando credibilidade. Sendo considerado um dos circos mais tradicionais do país e tendo capacidade para atender 1.600 pessoas, hoje possui cerca de 50 funcionários e 11 carretas para transportar os equipamentos.
Palhaço mudo
O boliviano Antônio Duran, de 47 anos, tem o desafio de fazer crianças e adultos rirem sem pronunciar uma palavra sequer durante toda a apresentação.
“Todos os meus shows são mudos. Fazer as pessoas rirem sem falar é muito difícil”, afirmou.
Antônio trabalha em circo desde os 14 anos, quando ainda morava na Bolívia. Seu pai era policial e a mãe dona de casa. Com isso, ele tinha a necessidade de ajudar a família financeiramente.
Ele começou fazendo serviços gerais no circo, mas, já aos 15 anos, executou seu primeiro número de trapézio. Ele também enfrentou diversos momentos de risco enquanto trapezista, porém vê isso como aprendizado.
“Tive muitos acidentes também. Eu caí muito. Na vida, quem não se machuca, não aprende”, disse.
Hoje, ele interpreta o Palhaço Pum Pum, mas diz que foi em razão de uma casualidade. Ele conta que nunca gostou de palhaços e que essa opção não era a que tinha planejado.
Quando ele foi trabalhar como trapezista em um circo no Peru, o palhaço tinha ido embora e o espetáculo precisava de um. Então o dono do circo pediu para que Duran se vestisse de palhaço e subisse no palco.
Ele aceitou para apoiar o circo, mas estava com muita vergonha e não sabia o que o esperava. Mas recebeu muito incentivo dos colegas de trabalho.
“Eu trabalhei, mas não sabia se iria ascender ou cair em vergonha. Eu fiquei com muita vergonha, eu queria chorar de vergonha porque era um circo muito grande. Mas aquele dia todos os meus companheiros do circo vieram me dar parabéns, me abraçaram”, relembrou.
Alair Ribeiro/MidiaNews
Antônio Duran ganhou reconhecimento ao interpretar o Palhaço Pum Pum
Depois disso, ele se tornou o palhaço desse circo e começou a ganhar destaque no meio circense.
Ele se mudou para o Brasil em 2016, após se encontrar em uma situação emocional crítica. Ele tinha acabado de se divorciar e seu filho foi embora do país. “Eu estava quebrado. Eu não queria mais ficar no meu país”, revelou Antônio.
Foi aí que ele percebeu que teria grandes oportunidades no Brasil. Cerca de uma semana depois de desembarcar, Duran recebeu diversas propostas de trabalho em grandes circos.
Em apenas dois anos, o artista diz que seu nome ganhou grande destaque, principalmente com a internet.
Hoje o palhaço encontrou um lar no Brasil. Ele conheceu sua esposa após ter sido esfaqueado em um assalto. Nesse momento, Antônio conta que recebeu muito apoio dela e diz buscar retribuir todo o cuidado até hoje.
“Ela me apoiou muito. Ela para mim é um copo de água”.
Nova geração de artistas
Letícia Viana Moares, de apenas 12 anos, é a artista mais nova a subir no picadeiro do Circo Broadway. Ela interpreta a boneca Emília, personagem de Monteiro Lobato em Sítio do Pica-pau Amarelo, e apresenta um número de contorcionismo.
Apesar de pequena, ela demostra muito domínio pelo próprio corpo e surpreende o público com posições inimagináveis.
Ela nasceu no circo e, logo aos três anos, começou a treinar contorcionismo. Ela conta que se inspirou nos tios, que também são artistas circenses.
Aos cinco, a jovem artista começou a fazer pequenas apresentações e, dois anos depois, foi contratada e iniciou as apresentações regularmente.
Ela conta que sente prazer em levar alegria para o público. “Eu gosto da alegria, da felicidade. O circo é feito para as crianças serem felizes”, disse ela.
A mãe Carla Ferreira, 26 anos, também era contorcionista e hoje treina para participar do Globo da Morte.
“O que eu mais gostava era o contorcionismo, era o meu forte”, relatou.
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