Rodrigo Fernandes

Primeiro brasileiro a se formar no curso de comédia Harold Ramis Film School nos Estados Unidos, o cuiabano Rodrigo Fernandes se prepara para lançar seu primeiro filme, o recém-concluído “Second Date”, que lhe garantiu aprovação em seu trabalho de conclusão de curso.
O longa conta a história do jornalista Rob, que depois de ver a esposa traí-lo com seu melhor amigo, precisa lidar com as frustrações no emprego, o novo relacionamento da ex-mulher e sua própria vida amorosa. Com um enredo cativante e engraçado, as filmagens da produção não indicam que foram feitas durante um momento conturbado para todo o mundo.
Em entrevista ao MidiaNews, Rodrigo relata que o filme começou a ser gravado em 2020 e, assim como outras milhões de pessoas, seus planos foram parcialmente frustrados por causa do surgimento da Covid-19. No entanto, a história do comediante não permaneceu estagnada, isso porque ele havia usado um financiamento coletivo para arrecadar dinheiro para seu projeto, então, era um dever com seus colaboradores que o filme saísse do papel.
“Acho que foi como tudo o que aconteceu em 2020: ‘Era pra ser fácil, mas aí veio o Corona!’. Juntei um pouco mais do que eu precisava para fazer o filme, o que me ajudou muito com alimentação da equipe e elenco. Portanto eu tinha que entregar esse filme até o fim do ano. Foi uma batalha contra o tempo, mas felizmente deu certo”, relembra.
As gravações do longa-metragem começaram em julho e, apesar da boa quantia arrecadada pelo cuiabano, outra dificuldade cruzou seu caminho.
À época, a contaminação e morte pelo novo coronavírus estava em seu auge no Estados Unidos, outras grandes produções norte-americanas foram adiadas e algumas até canceladas, estreias previstas atrasaram e o mundo do entretenimento se deparou com uma realidade nunca antes vivenciada.
E assim como estas outras filmagens, o longa “Second Date” foi afetado pelo caos instaurado no país. O diretor conta que parte do elenco começou a cancelar sua participação no filme com medo da doença. No entanto, apesar dos percalços, Rodrigo e sua equipe conseguiram contornar a situação e fazer as gravações acontecerem.
“Começamos a filmar todas as cenas que a gente já tinha com os atores que ainda estavam confirmados. Aos poucos fomos conseguindo novos atores para os outros papéis e eu ia montando o filme na minha cabeça, imaginando como fazer para que na edição não parecesse que as cenas não foram gravadas juntas”, explica.
Cuiabano fazendo história
A escola Second City University of Chicago é o local onde é ministrado o curso de cinema e comédia Harold Ramis Film School, de que Rodrigo participou. O programa é conhecido por ter sido berço de grandes nomes do humor norte-americano que hoje fazem sucesso em superproduções.
O cuiabano foi o primeiro brasileiro estudar na escola de Chigaco, fundada em 1959. Após passar por todos os processos de ensino, era vez de finalizar o curso e, como sugestão, a instituição exige dos alunos a apresentação de um curta metragem de oito minutos. No entanto, um curta não bastava para a ambição das ideias de Rodrigo, que se arriscou e colocou sua alma em sua produção de 1 hora e 15 minutos.
“A melhor parte foi ter feito até o fim. Sou o primeiro brasileiro neste curso e meu inglês teve que evoluir muito rápido para que pudesse me comunicar bem com as pessoas durante as filmagens. Resolvi fazer esse longa-metragem, que também se tornou o primeiro longa-metragem feito como trabalho de conclusão de curso”, relembra.
Rodrigo ainda conta que a ideia inicial era contar a história de cinco casais diferentes que estão cada um em um encontro no aplicativo Tinder. O filme mostraria essa diferença entre as relações das pessoas em primeiros encontros, mas a produção dessa complexidade seria mais trabalhosa e cara do que era possível fazer naquele momento. Dessa forma surgiu a ideia de focar apenas na narração de um casal desses que ele já tinha planejado.
Com cinco casais ou um, o importante é que o roteiro e produção do cuiabano impressionaram e garantiram que fosse possível sua aprovação no curso. Ao refletir sobre esta conquista para o humor brasileiro, o sentimento que cresce no comediante é o orgulho, não só pelos dois marcos que conquistou, mas também por poder dividir essa conquista com outros nomes internacionais de peso que até hoje inspiram sua trajetória como artista.
Thaís Souza
No filme, Rodrigo interpreta um brasileiro que mora nos Estados Unidos
“É uma sensação de ‘se eles passaram por aqui e tiveram sucesso na carreira, eu acho que posso conseguir isso também’. É motivador e inspirador estudar na mesma escola que o Bill Murray, Steve Carell (The Office), Martin Short (Los Três Amigos), Catherine O`Hara (Esqueceram De Mim, Schitt's Creek), o próprio Harold Ramis (Os Caça-Fantasmas) e tantos outros”, afirma.
Carreira no humor
Nascido na Capital mato-grossense, Rodrigo morou por alguns anos em Cuiabá antes de se mudar para Sinop com sua família. Na cidade ele estudou no colégio Regina Pacis, onde começou a interagir com as cenas teatrais e nos encontros religiosos que a instituição proporcionava.
No entanto, mesmo tendo contato cedo com a arte ele demorou alguns anos até se tornar um ator profissional. Antes disso ele criou o famoso blog “Jacaré Banguela”. O projeto, ele conta, foi uma ideia despretensiosa para escrever textos engraçados e de quebra chamar a atenção da irmã de seu colega de escola, por quem o comediante tinha uma paixão de adolescente.
“O resultado foi que não deu certo com ela, mas um pessoal da escola começou a gostar muito do que eu escrevia. É como dizem: azar no amor, sorte no blog, ou algo parecido com isso.”, ele brinca.
Apesar de hoje trabalhar fora do País, Rodrigo destaca que os humoristas de Mato Grosso sempre tiveram grande influência em sua história. Quando ainda era criança, o diretor recebeu de presente de seu pai um CD do ator Liu Arruda. E foi com essa figura emblemática da história do humor na Capital que o comediante começou a ter contato com o humor escrachado e sem limites.
“Liberdade de falar bobagens e fazer o povo rir”, é assim que ele define os trabalhos de Arruda, grande responsável por alimentar na cabeça de Rodrigo a importância da liberdade de expressão.
Esse primeiro contato com a arte regional acompanha o comediante e, mesmo morando em Chicago, ele ainda busca se rodear de referências da sua cidade natal que dão um toque de alegria na vida dos mato-grossenses. Como inspirações ele cita o ator André D'Lucca, Nico & Lau, Thyago Mourão, Eduardo Butakka e também a página de humor "Xomano Que Mora Logo Ali".
“Minha família inteira mora em Mato Grosso e eu sinto muita falta das cachoeiras da Chapada dos Guimarães. Tudo isso faz parte de uma lembrança muito boa da minha infância”, afirma.
Mesmo que o filme “Second Date” ainda não tenha sido lançado para todo o público, Rodrigo afirma que já está trabalhando na produção de seu segundo longa-metragem, porém não pode revelar muito sobre a história. Ele conta que já está se reunindo com a equipe de produtores deste trabalho, mas as ideias não param de fluir. Por isso também já prevê a existência de um terceiro filme na sua lista.
As ambições do cuiabano são grandes, mas ele não se amedronta e diz se sentir ainda mais animado para explorar sua capacidade de escrever, produzir e espalhar alegria para todos. A jornada do artista, que já perpassou seu blog, seu stand-up, parcerias com grandes nomes do humor e projetos pessoas bem sucedidos, parece ainda estar só no começo e Rodrigo se diz animado pelo que vem pela frente. Aos artistas de Cuiabá ele deixa uma mensagem como forma de incentivo:
“Eu não demorei muito para entender que além de ser cuiabano de tchapa e cruz, também sou um cidadão do Mundo. Qualquer lugar que queira estar, vou me esforçar muito para estar. Minha raiz é em Cuiabá, mas os galhos estão crescendo sempre mais altos! Não pense que você é o lugar onde você nasceu. Este é só o melhor lugar onde os seus pais trouxeram você ao mundo, mas explorar o mundo é trabalho pra você”, finaliza.
Veja o trailer do filme produzido por Rodrigo:
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1 Comentário(s).
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S Ferreira 28.02.21 08h42 | ||||
Parabéns e muito sucesso. Esse é o tipo de notícia que gosto de ler: alguém colhendo resultado dos seus próprios esforços, fazendo sucesso, inspirando novas gerações. Seja na arte, no esporte ou nos negócios. | ||||
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