"Uma missão”. Foi assim que o médico Fábio Christian de Carvalho, formado aos 46 anos, encarou sua jornada diária nos últimos sete anos, período no qual teve que se dividir como estudante, pai, marido e profissional para alcançar seu sonho de cursar medicina.

O desejo de ser médico nasceu no início da vida adulta de Fábio, quando ainda morava em Curitiba (PR), sua cidade natal, mas foi minado pela imaturidade e a necessidade de prover a sua família. Assim, ele decidiu se formar em Administração, profissão que exerceu por décadas, mas que não o satisfazia.
Apesar do sonho ter sido deixado de lado, a ânsia - ou predestinação, como ele se refere -, veio a aflorar novamente quase 20 anos depois, momento em que Fábio compreendeu qual caminho precisava seguir para completar sua missão de vida.
“Eu fiz três vestibulares para Medicina em Curitiba e não passei por dois fatores: um deles é que eu não tinha base do Ensino Médio e, principalmente, falta de confiança. Tinha uma crença muito grande de que eu não era capaz de passar num vestibular de Medicina”, explica.
“Eu tinha que fazer um curso superior, e aí fui fazer Administração. Nessa época eu já estava com 21 anos, tinha filho, era casado. E então simplesmente abandonei a ideia, tinha esquecido desse sentimento”.
Assim, em 2006, Fábio se mudou com sua esposa Eleniza e seus três filhos - Lucas, Miguel e Manoel, este último recém-nascido -, para Alta Floresta, após ser contratado como gerente de recursos humanos de uma empresa.
“Comecei a perceber e a sentir que tinha alguma coisa faltando, vez ou outra me pegava nesse sentimento. Enquanto homem, pai de família, essa missão eu estava cumprindo, mas tinha alguma coisa que estava faltando na minha vida”.
“Um dia estava assistindo um documentário médico e vendo as cenas tive um insight. Vi que aquilo era o que eu precisava fazer. Era como se fosse uma missão de vida e aquele vazio que eu estava sentindo era isso”.
“Nesse dia senti algo muito forte, como se eu tivesse sendo preenchido, até me emocionei no momento. Fui comunicar isso para minha esposa, porque obviamente eu não iria tomar decisão sem o apoio dela e da minha família, que são minha prioridade”, recorda.
Segundo Fábio, a família tinha recém se estabilizado financeiramente. Então no início foi um baque para Eleniza, que se preocupou com a incerteza do futuro. Porém, logo ela decidiu embarcar junto nessa jornada e dar todo apoio necessário ao marido.
Após essa primeira etapa, era hora de Fábio se preparar para o vestibular e encarar novamente os livros depois de 15 anos. Ele então estabeleceu um prazo de três anos e meio para ingressar em uma faculdade.
“Eu trabalhava das 7h às 17h. Chegava em casa, tinha que atender as crianças, minha esposa, e lá por volta das 20h eu começava a estudar. Ia até quando aguentava, geralmente meia-noite, 1h”, contou.
“Para me preparar, decidi que ia fazer pelo Enem. Usava mapa mental, peguei as provas, estudei o padrão das questões, defini quais deveria focar e as mais recorrentes, contratei um cursinho online e comecei estudar por conta”.
O ingresso e início da faculdade
No início de 2016 Fábio e sua família se mudaram para Cuiabá para que ele fizesse um cursinho no qual recebeu 100% de bolsa, e em três meses ele ingressou na Univag (Centro Universitário de Várzea Grande).

Os dois anos e meio de dedicação também lhe renderam subsídio pelo Fies (Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior) de 96% da mensalidade, que na época custava em torno de R$ 8 mil.
Porém, era só o início de uma longa jornada de dificuldades financeiras e poucas horas de sono, mas que serviu para fortalecer o elo da família e mostrar que juntos poderiam alcançar seus sonhos.
“Quando eu passei, saí do meu trabalho, recebi o acerto e era o que eu tinha. Eu não tinha muita noção. Então comecei a fazer alguns empreendimentos. Eu e minha esposa abrimos um comércio, mas por não conseguir dar a dedicação adequada, não deu certo”.
“Também fui vender churros na rua à noite, depois da faculdade. Quebrou o galho por um tempo, mas acabou que também não deu certo. Tivemos que depender de cesta básica por um tempo, de famílias que nos auxiliavam, nos apoiavam”.
Assim, com a crise cada vez pior batendo à porta, em 2017, um ano depois de ingressar na faculdade, Fábio precisou trancar o curso e começou a trabalhar como contador. Apesar disso, a ideia de desistir não era tida como opção.
“Fiquei um ano trabalhando e tive que voltar, senão iria perder o Fies. Eu continuei prestando serviço para a empresa de forma remota, atendia durante o dia, durante a noite, sempre que tinha um tempo”.
“Nesse período, a minha esposa começou a trabalhar com constelação familiar, e teve um retorno legal, o que ajudou a gente. Estava mais ela suprindo do que eu. Ela é nutricionista, mas não tinha um emprego fixo, prestava alguns serviços e ia se virando”.
"Apesar da dificuldade, foram poucas vezes que pensei em desistir, porque desde o início, da forma como aconteceu, eu tinha muito claro no meu coração que isso que eu estava fazendo era uma missão".
Fim do curso e começo profissional
Após sete longos anos, em agosto deste ano foi o momento de Fábio subir no palco na colação de grau e finalmente receber a glória, ao lado de sua família, por todo o caminho percorrido juntos. Mas, nas palavras do médico, era somente o início de um novo desafio.
Reprodução/Redes sociais
Fábio no dia de sua colação de grau, ocorrida em agosto
"Com todo sofrimento, com minha família junto, foi um momento glorioso, intenso e feliz. Porque foi uma jornada longa, uma história de superação minha com minha família. Isso tudo vem nos fortalecendo, porque consegui cumprir algo que comecei com 38 anos".
Fábio retornou para Alta Floresta, e estuda para prestar o Enare (Exame Nacional de Residência), no qual se inscreveu para Medicina da Família e Comunidade. Atualmente, ele atende em um Centro de Saúde da Família, no Pronto Atendimento Municipal como plantonista, e realiza atendimentos particulares.
Segundo ele, é um dos únicos médicos na cidade que trabalha com prescrição de fitocanabinóides. "Na prática a gente vê como o medicamento fitocanabinóide tem feito benefício às pessoas. Eu tenho pacientes com ansiedade, insônia, que puderam reduzir a quantidade de medicação controlada".
"Meu propósito é atuar tanto na promoção da saúde quanto na remediação, que é quando a pessoa já passa pelo processo da doença. Também estou fazendo curso internacional, uma certificação, buscando alternativas terapêuticas, estudando nutrologia".
Depois desse sonho alcançado, no futuro, o médico, que já tem um dos filhos cursando Medicina, deseja abrir um consultório de medicina integrada com sua família.
"[O conselho que posso dar], pela minha experiência, é que se a pessoa sente no coração profundamente, e vibra com aquilo, sente o propósito, seja em qualquer área, que confie, porque há meios de dar certo".
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9 Comentário(s).
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| Renato Gorski 23.10.23 08h23 | ||||
| Parabéns ao Fábio pela determinação e realização do sonho e que agora seja um eficiente médico | ||||
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| EDIMIR 23.10.23 07h52 | ||||
| PARABENS SUPERAÇAO,PERSISTENCIA, SONHO REALIZADO. | ||||
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| Emanoel Pedro 23.10.23 07h52 | ||||
| Esse senhor é um exemplo de vida a ser seguido, são histórias como essas que nos motivam dia a dia, parabéns e que tenha muito sucesso em sua caminhada como profissional da medicina... | ||||
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| MARIA EMILIA 23.10.23 07h41 | ||||
| PARABÉNS DR. FÁBIO, QUE DEUS ILUMINE A SUA CAMINHADA. | ||||
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| Brener dias 23.10.23 07h39 | ||||
| Que historia bacana, muito bom, nunca percam a esperança! parabéns e sucesso ao novo médico | ||||
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