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DESCASO
09.12.2018 | 16h20 Tamanho do texto A- A+

Com sinais de abandono, Casa de Bem Bem desaba 2 vezes em um ano

Imóvel foi cedido ao Poder Público em 2012 para um projeto que, até hoje, não saiu do papel

MidiaNews

Ilustração

KARINA STEIN
DA REDAÇÃO

Um ano após o primeiro desabamento, a Casa de Bem Bem, localizada na Rua Barão de Melgaço, no Centro de Cuiabá, sofre mais uma vez com as fortes chuvas que atingem a Capital.

 

Neste mês, a estrutura sofreu um novo desmoronamento em um dos anexos da casa. Uma nota técnica do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) encaminhada para o Ministério Público Estadual apontou o desmoronamento.

 

Diante desse novo fato, a Prefeitura de Cuiabá emitiu uma nota na quarta-feira (5) afirmando que vai contratar, em caráter emergencial, uma empresa para fazer a restauração. 

 

A reportagem foi até o local e verificou que a situação da fachada é a mesma de um ano atrás, quando pelo menos dois cômodos da casa vieram abaixo. A placa de identificação de obra pública também foi ao chão.

 

O muro do lado direito que faz divisa com um estacionamento está completamente tombado e a única coisa que o segura são os escombros das outras paredes. Em alguns locais, apenas o tapume de madeira separa os terrenos.

 

Nos fundos, o mato toma conta do quintal. Até uma antena de TV por satélite foi encontrada jogada no terreno. Ao fundo, um contêiner e um banheiro químico dão suporte aos vigilantes que fazem a segurança do imóvel na parte da noite.

 

Casa de Bem Bem

 

A residência, que tem construção datada de meados de 1850, foi o lar de Constança Figueiredo Palma, conhecida como Dona Bem Bem. Figura ilustre da sociedade cuiabana, ela foi anfitriã de diversas festas nas décadas de 60 e 70, incluindo as festividades de São Benedito. 

 

Cedida pela família Palma em 2012 ao Governo do Estado por meio da Secretaria de Estado de Cultura (SEC), a casa seria transformada no Centro Cultural Nho Nho de Manduca – Casa de Bem Bem. 

 

Em 2016, a revitalização entrou na lista de obras do PAC Cidades Históricas do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). A obra seria feita em parceria com a Prefeitura de Cuiabá. O custo estimado era de R$ 2.150.648,25 e seria executada pela empresa X Nova Fronteira Construções. 

 

Logo depois do primeiro desabamento, quando foi procurada pela reportagem do MidiaNews, a SEC informou que não possuía mais responsabilidade sobre o imóvel pois o contrato de comodato tinha validade de 5 anos.

 

A “batata quente” da responsabilidade da obra transitou em diversos órgãos. A SEC comunicou que a revitalização ficou sob os cuidados do Iphan. Já o Instituto passou os encargos para a Prefeitura de Cuiabá.

 

Reprodução

Casa de Bem Bem

Casa de Bem Bem desabou pela primeira vez em dezembro do ano passado

 

Abandono

 

Conforme já noticiado pelo site, quando o primeiro desabamento ocorreu, a casa estava abandonada e sofria com a ação do tempo. Em novembro de 2017, o telhado já não tinha boa parte da cobertura original e o lugar estava sujo e com muito mato. 

 

Na época, a Prefeitura de Cuiabá emitiu uma nota informando que as obras no casarão histórico seriam retomadas. 

 

Por conta de sua construção ser feita de adobe – principal material utilizado em casarões coloniais – as paredes absorvem muita água se não forem protegidas adequadamente. 

 

A falta de cobertura no telhado e o período chuvoso característico dos meses de primavera na Capital fez com que o primeiro desabamento ocorresse em dezembro de 2017.

 

Naquele mesmo mês, Justiça Federal determinou a intervenção técnica da obra depois do pedido de Constança Palma Farias, uma das filhas de Dona Bem Bem e uma das integrantes da família que assinou o contrato de concessão do imóvel há seis anos.

 

As únicas ações que foram feitas na época foram a colocação de uma lona preta acima do telhado – que não foi eficiente para proteger a estrutura da água da chuva – e uma estrutura de madeira para escorar as paredes que ainda estavam de pé, depois que as primeiras caíram.

 

TAC

 

Em março de 2018 o Ministério Público Estadual (MPE) instaurou uma investigação que apurou problemas no processo de restauração da casa, que é tombada como patrimônio histórico nacional. 

 

Um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) foi assinado pelo Iphan e pela Prefeitura e, neste meio tempo, uma cobertura metálica temporária foi colocada para evitar que as chuvas atingissem a casa.

 

Entre os itens do TAC está a recuperação do Beco do Candeeiro pela Prefeitura de Cuiabá. O trabalho será feito como forma de compensação pelos danos ambientais causados pelo desabamento e deverá ser executado em um prazo de seis meses.

 

Durante uma investigação feita em setembro deste ano pelos técnicos do Águas para o Futuro, projeto realizado pelo MPE, foram encontrados indícios de uma nascente no quintal da Casa de Bem Bem. A nova descoberta acarretaria mudanças no projeto de restauração. 

 

No TAC assinado pela Prefeitura junto ao MPE, foi estabelecido o prazo de 30 dias para que um projeto com medidas emergenciais fosse elaborado para evitar novos danos à estrutura da casa. O prazo expirou em 22 de novembro.

 

Em outubro, a Prefeitura contratou uma empresa terceirizada de segurança para realizar vigilância armada no local. O contrato tem duração de três meses e custou aproximadamente R$ 42 mil.

 

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3 Comentário(s).

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José  10.12.18 08h01
Todo mundo está 'careca' de saber que o culpado disso tudo é a própria legislação, que impõe uma série de restrições a esses imóveis "tombados", entre elas o impedimento da sua demolição, mas não arcam com um centavo sequer para que o proprietário restaure e mantenha o patrimônio em pé. Cada imóvel abandonado que vem pro chão é um tapa na cara das autoridades "competentes" que cuidam desse setor.
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Moises   10.12.18 05h51
Vergonha..... Pergunto: se o Estado não cuida de sua própria casa, vai cuidar da de outros ...???
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franciscocarlos06@hotmail  09.12.18 22h30
Que coisa com essa cada bem bem. Derruba isso logo.
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