A gerente financeira Viviane Aparecida Silva Flor, irmã do empresário Toni da Silva Flor, que foi assassinado em agosto do ano passado, não esconde a revolta com sua cunhada Ana Cláudia Flor, acusada de mandar matar o marido.
Ana Cláudia foi presa em 19 de agosto. As investigações apontaram que ela teria encomendado o crime, recorrendo a ajuda da manicure, que fez a ligação entre ela e os três homens suspeitos do homicídio.
Para Viviane, Ana Cláudia é muito mais do que uma mulher "capciosa" (que engana ou induz ao erro), adjetivo que deu nome a operação que resultou na prisão dela e dos comparsas.
"Para mim, ela é um Judas em forma de gente na Terra. Uma pessoa que te abraça, que chora junto com você, que lamenta a dor. Para mim capciosa ainda é bonito para ela. É um verdadeiro Judas, tenho nojo de lembrar das coisas que ela falava".
Viviane desabafa que a ausência do irmão é sentida a todo momento pela família. Ela conta que Toni tinha sonho de ser pai e o casal chegou a fazer uma inseminação artificial na tentativa de terem filhos. O casal teve três filhas.
"É algo que não tem explicação. Nada justifica o que ela fez, nenhuma traição. O que ela fez foi, na minha opinião, muito cruel. Faltam palavras para explicar o sentimento, não tenho raiva dela, tenho pena porque é um ser desprezível, não tem amor pelas filhas que pariu. Ela é um nada para mim".
Mãe sempre desconfiou de participação
Depois da morte de Toni, Ana Cláudia se aproximou muito da mãe e da irmã do marido, situação que não era comum para a família. Através de mensagens, ligações ou visitas, a cunhada sempre se tentava fazer presente, conta Viviane.
Ela afirma que não chegou a criar desconfianças da atitude e a princípio achou que Ana Cláudia tentava suprir a ausência do irmão. No entanto, Leonice Flor, de 69 anos, mãe de Toni, não tirava da cabeça que a nora tinha envolvimento no crime.
No dia do aniversário da mãe e do filho de Viviane, Ana Cláudia foi à casa de Leonice, levou bolo e chorou com a família, dizendo sentir falta de Toni.
"O tempo todo se mostrando como uma ótima mãe e esposa, que não deixava ninguém falar dele. Todo mês ela postava coisas relacionada a ele e ao sentimento deles. Isso era para tapar os nossos olhos, para não levantarmos suspeitas, não tem outra explicação".
Em algumas ocasiões, a gerente financeira chegou a defender a cunhada das acusações da mãe.
"Mas minha mãe sempre desconfiou. Por várias vezes, até briguei com ela. Pedia para ela parar de ficar pensando nisso, tirar isso da cabeça, deixa para a Polícia resolver, mas minha mãe sempre ficava com aquela questão... Às vezes já era sentimento de mãe mesmo".
Reprodução/Arquivo Pessoal
Toni e a mãe, Leonice Flor, que enfrenta depressão severa desde o homicídio
Desde a prisão, ela afirma que não teve coragem de ver ou conversar com a cunhada, assim como Leonice.
Em uma das conversas com Viviane, antes da prisão ser decretada, a suspeita lamenta que a filha mais nova não tenha tido tanto tempo de convivência com o pai.
Ana Cláudia: A A.L. era a mais apegada e a que teve menos tempo com ele, mas tem muitas lembranças.
Viviane: Ela chorou esses dias que estava aqui. Disse que queria brincar com o pai dela.
Ana Cláudia: Dói demais, né? Não poder fazer nada.
Em outro trecho, ela afirma que não era para o marido ter morrido e que questionava a Deus do motivo e Toni ter sido assassinado.
Ana Cláudia: Não era para ser assim, não era.
Ana Cláudia: Minha vontade é ir atrás desse Michel [homem que teria sido confundido com Toni na hora do homicídio]. Ele sabe de alguma coisa, tenho certeza que sabe ou desconfia.
Ana Cláudia: Sei que não tem mais volta, mas é difícil não perguntar o por quê Deus permitiu. O Dedé [apelido de Toni] estava começando a colher os frutos do trabalho dele. Minha preocupação é não conseguir. Ele deixou tudo pronto, é tão estranho, parece que sabia, me falou tanta coisa, me ensinou muito.
Já em outra conversa com a cunhada, Ana Cláudia envia uma foto de Toni e diz que apesar das brigas, amava muito o marido.
Ana Cláudia: Você sabe que eu e o Dedé já brigamos bastante, mas nós nos amávamos muito também, muito, muito. Nem com todas as brigas nunca me imaginei sem ele. Meu Deus, como dói.
Desde que a viúva foi presa, as três filhas do casal têm contado com ajuda de amigos para custeio de mensalidade escolar e alimentação, por exemplo.
Dificuldades financeiras
Viviane explica que além de viver o luto, ela precisa se desdobrar para lutar para que as sobrinhas não passem por dificuldades, já que as três ficaram sem pai e mãe.
A renda dela, que trabalha como gerente financeira, se tornou a única das sobrinhas, do filho, que tem síndrome de down, e da mãe, que atualmente enfrenta um quadro de depressão severa.
De acordo com a irmã de Toni, a empresa do ramo de representação comercial especializada em atacadistas, de propriedade do casal, está fechada. Após a prisão, todos os contratos foram perdidos.
"As crianças estão sem renda, porque a empresa fechou, ela perdeu todos os contratos. As meninas estão sem nada, porque ela perdeu tudo. Os bens que elas tinham de direito, nenhum foi inventariado. Estamos tentando reverter o inventário, tentando recuperar alguma coisa para as crianças".
Inventário do empresário
Na tentativa de reverter a situação do inventário de Toni, Viviane foi orientada a registrar um boletim de ocorrência para que o caso seja acompanhado pela Delegacia Especializada de Estelionato.
Ela explica que a casa onde o casal morada foi comprada da atual advogada de Ana Cláudia e não estava no nome de Toni ou da esposa. Segundo Viviane, o que existe é apenas um "contrato de gaveta", que a gerente financeira ainda tenta encontrar.
O medo é de que as sobrinhas fiquem sem sequer uma casa para morar.
Além disso, a irmã de Toni afirmou que um carro do empresário, adquirido cerca de 20 dias antes do homicídio, havia sido roubado no Rio de Janeiro.
"Agora preciso ir na Delegacia de Estelionato, para conversar com o delegado, ver se abrem uma nova investigação apara saber o que aconteceu com esse carro. Será que realmente esse carro foi roubado? Existem várias questões que ainda precisam ser esclarecidas. Não tem mais ninguém para correr atrás dessas coisas. Só eu".
Sobrecarregada, ela desabafa que também é a responsável por ir constantemente à delegacia para acompanhar as investigações do homicídio do irmão. Por conta disso, não tem condições de criar as sobrinhas, por enquanto.
Atualmente, elas estão morando com a avó materna na mesma casa onde viviam com os pais, no Bairro Jardim Universitário, em Cuiabá.
"Não posso deixar o emprego, senão perdemos nossa única renda. O delegado me deu garantia que a mãe dela [de Ana Cláudia] não teve participação nenhuma nisso, não tem nada que desabone a conduta dela com as crianças, neste momento. Por isso definimos que ela vai continuar cuidando das crianças, até resolvermos a guarda definitiva".
Pacto de morte
Para Viviane, o pacto de morte caso houvesse traição no relacionamento - informação dada em depoimento de uma das testemunhas - é fantasiosa. De acordo com ela, quem cometeu a primeira traição foi Ana Cláudia.
Em 2017, Toni viu mensagens dela dizendo que estava com saudade de um homem que trabalhava com ela. O empresário chegou a cogitar se separar, mas o casal continuou junto.
"Falei para ele: 'Estou muito longe, estou de férias, na minha opinião você se separa dela, não confio nela, sabe que não confiámos nela, mas a vida é sua, você faz o que achar melhor'. Quando voltei, ela tinha contornado a situação".
De acordo com a irmã de Toni, as investigações mostraram que Ana Cláudia manteve a relação com o amante e teria tido outros relacionamentos extraconjungais. No entanto, a família não ficou sabendo das traições.
Para Viviane, o irmão não seria capaz de firmar um pacto "maligno" como esse e a história é uma invenção da suspeita, que tentou forjar convesas.
"Essa história de pacto eu não acredito. Quem falou para um amigo deles em comum foi a Ana Cláudia. Desconheço isso, inclusive quando li essa reportagem perguntei para ela: você ouviu isso da boca do Toni? Ela falou que a Ana que tinha dito, mas da boca dela saiu muita coisa, tudo mentira. Desacredito disso".
Ela explica que a história de que Toni foi confundido com um policial chamado Michel também foi arquitetada por Ana Cláudia.
"Se fosse verdade isso, quem traiu primeiro foi ela, quem teria que ter morrido era ela, né? Que pacto era esse? Quem morreu foi a vítima e não o traidor? Ela já havia pesquisado esse agente policial, o Michel, desconhecíamos que existia um agente com esse nome e essas características na academia. Pode ter inventado isso também [sobre o pacto]".
Pedido de liberdade
Reprodução/Arquivo Pessoal
Mãe solo, Viviane lamenta não ter mais o apoio do irmão
Nessa sexta (17), a defesa de Ana Cláudia entrou com um novo pedido de revogação da prisão preventiva, alegando que ela não tem atencedentes criminais e ressaltando que ela é mãe de três crianças.
No documento, a defresa alega que mantê-la presa é "demonstrar a fraqueza do Poder Judiciário" e que deixar a mãe longe das filhas chega "à beira de uma tortura velada para manter as aparências da Justiça".
Para a defesa, a prisão é "desnecessária".
"Trata-se de uma mulher de bem e trabalhadora, mãe de 3 filhas menores, filha única que auxilia na subsistência de sua mãe (arrimo de família), bem como jamais ameaçou e muito menos constrangeu nenhuma testemunha".
A defesa cita a possibilidade de aplicação de medidas cautelares, como uso de tornozeleira eletrônica, além da conversão da prisão preventiva em domiciliar.
Para Viviane, Ana Cláudia "lembrou" das filhas para tentar deixar a prisão.
"Se acatarem [o pedido de liberdade], aí sim desacreditamos da nossa Justiça".
Reelembre o crime
O atirador esperou Toni na frente da academia em que ele praticava jiu-jitsu e realizou os disparos assim que ele desceu do seu carro, em 11 de agosto.
O empresário foi atingido por quatro tiros e morreu no dia seguinte ao ataque.
Na época, a principal hipótese era a de que Toni havia sido confundido com um policial federal. Essa versão, no entanto, foi descartada após a prisão do primeiro suspeito, que aconteceu no dia 10 de agosto deste ano.
O homem assumiu a autoria, mas negou ter confundido a vítima com outra pessoa.
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