Criado pelos tios, o jovem Y.A.M., de 20 anos, fez jus ao ditado “paí é quem cria”. Ele conseguiu na Justiça o direito de excluir o nome do pai biológico de seus documentos pessoais e incluir o do adotivo, marido da irmã de sua mãe biológica.
A notícia sobre a mudança alegrou a família, que vai poder agora “virar a página” e comemorar o Dia dos Pais, de fato e de direito, pela primeira vez este domingo (9), pois agora, perante a legislação brasileira, ambos são pai e filho.
O jovem foi criado desde bebê pela tia e o marido dela – agora seu pai adotivo – e alimentava o interesse pela troca oficial no sobrenome ainda na infância, quando começou a entender a sua história de vida.
Em entrevista ao MidiaNews, ele contou que desde criança assinava seu nome com o sobrenome dos tios, que não era o que de fato estava em seu registro.
“Sempre fui questionado pelos professores. Eles não entendiam porque eu assinava com um nome que não era meu. Mas eu continuava, porque era o sobrenome que eu associava a um pai, a alguém que me amava e sempre esteve lá por mim. Até que um dia os professores desistiram de puxar minha orelha. É muito gratificante saber que agora, quando eu assinar esse nome, vai ser visto com bons olhos”, comemorou.
A vida de Y.A.M. tinha tudo para ser mais uma daquelas histórias tristes de abandono, mas é justamente o contrário. A mãe biológica não o abandonou, sempre esteve presente na vida, mas quando o filho nasceu, ela passou por dificuldades financeiras e precisou ir morar com a irmã, que na época ainda namorava o atual marido.
Quando engravidou, a mãe já não estava com o pai do bebê e foi acolhida pelo casal, que a acompanhou durante toda a gestação.
Segundo a família, todo o afeto do sobrinho ocorreu de uma maneira muito natural, ainda quando era criança.
O tempo foi passando até que chegou o dia em que a mãe biológica de Y..A.M. decidiu deixar a casa da irmã. O filho, porém, não quis ir junto.
Assim os tios continuaram a criar o sobrinho, sempre com a permissão da mãe, que também nunca deixou de estar presente.
E, de maneira natural, a criança passou a chamar a tia de mãe e o tio de pai.
O pai biológico nunca foi presente na vida de Y.A.M.. Ele chegou a conhecê-lo, mas não houve nenhum vínculo de afeto entre os dois.
Quando o rapaz quis entrar na Justiça para conseguir assinar legalmente com os sobrenomes dos pais adotivos, o biológico assinou uma declaração registrada em cartório, onde se eximia de qualquer direito como pai, autorizando mudança no registro de nascimento.
A mãe biológica também concordou com o desejo do filho e não se opôs à troca dos sobrenomes. O nome dela continua nos documentos do filho.
Nada mudou
Arquivo pessoal
Pai disse que se sente orgulho do filho o ter como exemplo
Hoje Y.A.M. diz que sempre soube que não ia ser fácil conseguir a mudança, mas hoje revela que todo esforço valeu a pena. E diz que se sente realizado em poder comemorar o primeiro Dia dos Pai com um novo registro de nascimento.
“Era uma coisa que eu queria desde que me conheço por gente. Nós nos emocionamos muito de ver a minha certidão com sobrenome do meu pai".
“É meu primeiro Dia dos Pais com nome no registro, mas eu não sinto que muda muita coisa porque na questão da parte afetiva a gente sempre se tratou como pai e filho, também sempre se amou como pai e filho. A única coisa que muda é na questão legal mesmo, porque agora é oficial perante a lei. Antes já era oficial perante a nossa família”, afirmou.
“O sentimento é de extrema felicidade por tornar de direito algo que já era de fato. O que me deixa satisfeito é que durante essa trajetória, que perdura 20 anos, sempre foi uma trajetória em que consegui passar a ele os valores e os fundamentos éticos de família e agregação. E isso ficou muito enraizado nele, me deixa muito feliz”, disse o pai adotivo.
O paizão ainda se diz orgulhoso de ver o homem que o filho se tornou hoje. Para ele, o reconhecimento na Justiça também não alterou em nada na relação que já tinham antes.
“A decisão em si só veio para confirmar o que já existia, o sentimento que existia há tanto tempo, o que um dia aflorou e foi levado a diante. O amor é uma coisa inexplicável porque não há limites, sempre cabe mais. A decisão me deixou muito feliz, mas não foi nenhum divisor de águas, nós continuamos com as nossas vidas, com o nosso relacionamento e esperamos que fique cada vez mais fortalecido. De qualquer forma o sentimento que fica é o de alegria e de orgulho de poder ser exemplo para alguém, e que alguém queira levar o sobrenome junto durante a sua vida, fazer toda essa troca por reconhecer que ali é um porto seguro e um exemplo.”, disse pai.
Arquivo pessoal
Um dos desenhos feito por Y., ainda quando era criança e já assinava com o sobrenome do até então tio
Exemplo para outras famílias
Após a decisão, Y.A.M. disse que espera encorajar outras pessoas que pasam por situações parecidas com a dele e queiram fazer a troca de sobrenomes.
“Torço para que eles tenham coragem e disposição para entrar nessa batalha. Não é fácil, mas no final não há arrependimentos nenhum, porque é muito satisfatório saber que você vai poder passar adiante o legado que é o sobrenome do seu pai. É um sentimento sem igual”, ressaltou.
O pai adotivo de Y.A.M. também concorda coma visão do filho e diz que, apesar de tudo, o resultado não podia ter sido melhor, principalmente porque foi tudo em comum acordo com os pais biológicos do rapaz.
“ Acreditamos que exista alguma força superior que nos impele e nos aglutina e faz a nossa família feliz. Acho que isso foi um desígnio de Deus, que nos premiou com essa situação um pouco inusitada, mas que no final das contas foi bom para todos. O mais importante é que, diante de toda essa situação, tudo foi levado a bom termo e não restou mágoa ou ressentimento de nenhuma das partes”, completou o pai.
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