Rio Araguaia em Ponte Branca

No início do período Mesozoico, há cerca de 250 milhões de anos, um asteroide atingiu a região que hoje corresponde ao sudoeste de Mato Grosso. O impacto ocorreu sobre um mar raso e formou o relevo conhecido como Domo de Araguainha, considerada a maior cratera de impacto da América Latina, embora ainda pouco conhecida por grande parte da população.
Segundo o professor de Geologia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Cleberson Ribeiro, o Domo de Araguainha é um marco de enorme relevância cultural, histórica e geológica para o Estado. O local integra a lista dos 100 sítios geológicos de importância internacional, reconhecidos pela União Internacional de Ciências Geológicas (IUGS), órgão vinculado à Unesco.
Apesar da importância científica, o local carece de estrutura e acesso, o que dificulta a valorização turística e educacional.
“A população de Mato Grosso, incluindo moradores de Ponte Branca e Araguainha, conhece a história do Domo, sim, porque a gente sempre está levando alunos. Pessoal de Brasília e Goiás também costuma visitar com grupos. Mas, na prática, a maioria nunca acessou o local. Não há sinalização, não há estrutura para visitação, infelizmente”, explica o professor.
Localizado a cerca de 30 km de Araguainha, 75 km de Ponte Branca (MT) e próximo à divisa com Goiás, onde corta a cidade de Mineiros, o Domo abrange uma área de aproximadamente 1.300 km², com 40 km de diâmetro.
A formação do relevo corresponde à magnitude do impacto que atingiu a região, datado de aproximadamente 250 milhões de anos, durante o período Triássico, sendo este anterior ao surgimento dos dinossauros, que ocorreu por volta de 190 milhões de anos, já no período Jurássico.
Impacto local
Cleberson Ribeiro/ Acervo pessoal
Rio Araguaia em Ponte Branca
Embora remoto no tempo, o impacto do meteorito que formou o Domo do Araguaia teve repercussões globais e influenciou o curso da vida na Terra.
“O meteorito que formou o Domo foi um dos causadores de uma das cinco grandes extinções em massa da história do planeta”, afirma Ribeiro.
O evento, que gerou uma cratera com cerca de 40 quilômetros de diâmetro, envolveu uma força catastrófica. Além dos gases e materiais expelidos na atmosfera, há evidências geológicas de tsunamis e grandes terremotos provocados na época.
Mesmo após milhões de anos, a presença do Domo ainda influencia o ambiente local, especialmente no que diz respeito à hidrografia e à formação do solo.
“O Rio Araguaia, por exemplo, é diretamente influenciado pelo Domo. Ele corta Mato Grosso de sul para norte, mas ao passar pela região do Domo, muda completamente de direção, passando a correr de leste para oeste, como se fosse forçado a fazer um ângulo de 90 graus. É uma mudança estrutural significativa”, explica Ribeiro.
Outro impacto relevante está na composição do solo. Com o choque intenso, rochas originalmente localizadas a cerca de 2 mil metros de profundidade foram expostas na superfície.
“Na parte central do Domo, você encontra materiais que normalmente estariam a pelo menos 2 mil metros de profundidade. Por exemplo, há ocorrência de filitos, as mesmas rochas encontradas em Cuiabá, que lá [no Domo de Araguainha] estão visíveis na superfície. Também se encontram carbonatos e o que chamamos de brechas geológicas”, completa.
As brechas, segundo o especialista, são formações originadas a partir de bolhas de lava que, ao resfriarem, incorporam materiais ao redor. Essas formações estão especialmente visíveis em locais como o Morro da Antena, dentro do Domo.
Criação de Geoparque na região
Dada a importância científica, ambiental e histórica do local, há um projeto em andamento para a criação de um Geoparque no Domo do Araguaia. A proposta busca garantir a conservação do patrimônio geológico, cultural e etnográfico, promovendo turismo educacional e científico.
“Temos uma proposta em conversa com o Ministério Público Federal relacionada ao Domo. Está no nível de conversas ainda, mas a ideia é promover uma mudança política e estrutural em relação ao acesso, à pesquisa e à valorização do local como patrimônio para o estado de Mato Grosso”, afirma o geólogo.
Ribeiro também destaca a necessidade de conscientização da população e valorização do conhecimento científico.
“Acho que a falta de conhecimento, de dinâmica, de entender o processo [do Domo] é muito mais prejudicial do que propriamente o uso. Então há essa necessidade de nós termos um turismo, há uma necessidade de a gente ter uma formação relacionada às pessoas que ali vivem”
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