Cuiabá, Domingo, 6 de Julho de 2025
ISOLAMENTO SOCIAL
29.03.2020 | 08h20 Tamanho do texto A- A+

Médico: "Pandemia testa o limite psicológico de todo mundo"

Manoel Vicente de Barros diz que é preciso filtrar informações para conseguir barrar ansiedade e depressão

Victor Ostetti/MidiaNews

O psiquiatra Manoel Vicente de Barros alerta sobre risco de saúde mental em meio a pandemia do coronavírus

O psiquiatra Manoel Vicente de Barros alerta sobre risco de saúde mental em meio a pandemia do coronavírus

THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO

O psiquiatra Manoel Vicente de Barros avalia que a ameaça do Covid-19 (novo coronavírus) - e consequentemente o isolamento social para evitar o avanço da doença - é um teste para os limites psicológicos.

 

Segundo ele, pessoas com histórico de ansiedade e depressão tendem a ter os sintomas aumentados nesse período e precisam se cuidar. Mas não só elas.

 

Isso porque, conforme o psiquiatra, o medo do vírus atinge até quem não tem histórico de problemas de saúde mental.

 

Para evitar um agravemtno, o psiquiatra esclarece a necessidade de filtrar as informações.

 

“O excesso de informação é desestabilizante. Informação de qualidade salva vidas. As fake news, o excesso de alarmismo e o bombardeio constante de informações vaão ser sempre ruins”, disse.

 

“Você não precisa acompanhar todas as notícias. Deixe para acessar algum site que você confia e somente uma vez, no final do dia. Ficar consumindo todo tipo de informação, seja ela verdadeira ou falsa, só vai gerar mais ansiedade e isso não vai ajudar ninguém”, acrescentou. 

 

Leia a entrevista na íntegra: 

 

Você não precisa acompanhar todas as notícias. Deixe para acessar algum site que você confia e somente uma vez, no final do dia. Ficar consumindo todo tipo de informação, seja ela verdadeira ou falsa, só vai gerar mais ansiedade e isso não vai ajudar ninguém

MidiaNews - O senhor acha que este momento de incerteza poderá causar impactos psicológicos nas pessoas?

 

Manoel Vicente  de Barros – Com certeza. A ansiedade acontece de três fontes: medo de situações externas, internas e relações interpessoais. De algum jeito esse vírus conseguiu apertar esse três botões. Ele causa medo de uma ameaça externa. Ele causa medo de uma ameaça interna, que é o medo de contrair uma doença. E ele ainda atrapalhou as nossas relações interpessoais. Dessa forma, ele acaba pegando todos os níveis da ansiedade, da preocupação. Desacerbando o medo das pessoas de fazer quase tudo.

 

MidiaNews - As famílias estão isolando seus idosos. Como fazer para que esse isolamento não cause impactos psicológicos?

 

Manoel Vicente de Barros – Na verdade a gente precisa se isolar fisicamente, mas não podemos nos esquecer dos nossos parentes idosos. É a hora da gente usar as redes sociais para o bem. São para isso que elas servem. Ligação com voz, ligação com vídeo de 15, 20, 30 minutos com certeza vai trazer um ânimo para esses idosos, para essas pessoas que estão isoladas.

 

O idoso não pode nesse momento, não é aconselhado, abraçar os netos e toda avó e avô adora abraçar os netos, ama dar carinho aos netos.  Às vezes numa chamada de vídeo, conversar, ver o rosto, ver o sorriso, ter aquele contato visual, vai fazer toda diferença.  

 

MidiaNews - Pessoas com tendências depressivas podem ter o quadro agravado nestas horas?

 

Manoel Vicente de Barros –  Sem sombra de dúvida! Quem já teve depressão e quem já teve ansiedade, vira um terreno fértil para sofrer nesse momento de estresse, assim como seria em qualquer situação atípica, como uma crise financeira, uma guerra. São situações que testam o limite de cada um. Se a pessoa já tem tendência de ansiedade e depressão, agora é o momento dela pegar firme no tratamento para não sofrer tanto.  

 

MidiaNews - Até onde vai o temor com o vírus e onde começa a paranóia? Tem sinais?

 

Manoel Vicente de Barros – O medo do vírus pode acontecer e deve acontecer para a gente se prevenir. Para a gente fazer o que é recomendado pelo Ministério da Saúde. Se esse medo, essa preocupação começa passar da conta e você começa a passar a tomar remédios, começa a querer fazer exame no laboratório toda hora, começa querer estocar alimento, começa a querer fazer coisas que não precisam, você já vai estar deixando o medo te dominar. E quando você deixa o pânico, o medo te dominar, você faz coisas que só atrapalham. Isso a gente não pode deixar acontecer.  

 

MidiaNews - Pessoas com transtorno obsessivo compulsivo (TOC) com limpeza podem ter seus sintomas piorados, uma vez que há uma campanha para a higiene das mãos?

 

Manoel Vicente de Barros – Algumas pessoas têm TOC de medo de contaminação e é exatamente o que todo mundo está com medo neste momento. Por isso, as pessoas com TOC precisam tomar cuidados para não sentir a necessidade de se lavarem mais, inclusive, para não se machucarem. Se elas se lavaram a ponto de se machucarem, elas até aumentam o risco de contrair o vírus porque vão ter lesão na pele, nas unhas.

 

Então se essas pessoas perceberem que estão passando da conta, é preciso pedir ajuda para outra pessoa controlá-la e às vezes, até um atendimento de emergência com um profissional de saúde mental.

 

Victor Ostetti/MidiaNews

Dr Manoel Vicente de Barros

"O medo do vírus pode acontecer e deve acontecer para a gente se prevenir"

MidiaNews - Como um profissional da saúde pode ajudar no combate à histeria num momento como este?

 

Manoel Vicente de Barros – Os consultórios estão abertos para atender os casos graves. Além disso, nós psiquiatras já recebemos autorização para fazer atendimento de consultas online. Então, os pacientes que já contam com um psiquiatra devem entrar em contato com os médicos deles para buscar orientação. Algumas pessoas têm que ser atendidas pessoalmente, outros podem ser orientadas de casa mesmo.

 

MidiaNews – O senhor já tem recebido pacientes com algum tipo de fobia por conta do coronavírus?

 

Manoel Vicente de Barros – Na verdade todo mundo está com muito medo. As pessoas que são ansiosas estão muito preocupadas. A informação de qualidade é a melhor forma de diminuir a ansiedade. Falar com clareza, sem esconder dados, sem esconder informações, sem tentar disfarçar a realidade é o que dá mais certo para essas pessoas. 

 

MidiaNews - Acha que a imprensa e as redes sociais ajudam a ampliar o medo, amplificando ainda mais o temor dentro da sociedade?

 

Manoel Vicente de Barros – Sim. O excesso de informação é desestabilizante. Informação de qualidade salva vidas. As fake news, o excesso de alarmismo e o bombardeio constante de informações vão ser sempre ruins. Eu estou dando uma dica prática para as pessoas saírem dos grupos de Whatsapp que estiverem bombardeando notícias o tempo inteiro. Você não precisa acompanhar todas as notícias. Deixe para acessar algum site que você confia e somente uma vez, no final do dia. Ficar consumindo todo tipo de informação, seja ela verdadeira ou falsa, só vai gerar mais ansiedade e isso não vai ajudar ninguém.

 

MidiaNews - Neste momento, desligar um pouco da TV e dos meios de comunicação ajuda ou atrapalha?

 

Manoel Vicente de Barros – Ajuda. Desliga a televisão, coloca um filme, lê um livro, sai desse assunto e fica em casa. Não tem o que fazer além de ficar em casa e tomar as medidas. Consumir informação que te causam ansiedade só vai deixar você mais preocupado e isso não vai ajudar ninguém.

 

MidiaNews - E as crianças. Como agir para que as crianças não desenvolvam problemas emocionais em razão de tantas notícias?

 

É uma situação grave. A gente tem aí um risco de uma doença nova que a gente conhece pouco. Mas, a verdade é que a humanidade nunca teve tão preparada para lidar com uma situação dessa

Manoel Vicente de Barros – As crianças estão preocupadas também porque estão ouvindo todo tipo de informação. Agora é hora dos pais, da família, em geral, sentar com elas e falar a verdade. Não precisa ficar escondendo as informações. Fala de uma forma que a criança vai entender. Se a criança souber que o adulto que está com ela sabe o que está acontecendo, que ele está tranquilo e ela sentir essa tranquilidade, a segurança do adulto, ela também vai ficar mais calma, menos ansiosa e essa experiência vai ser menos traumática.

 

Há várias maneiras de contar para a criança. Um exemplo é dizer que o vírus está brincando de esconde-esconde e a gente precisa se esconder em casa para ele não pegar ninguém. A criança vai entender e, a partir daí, ela vai seguir as orientações com mais clareza.

 

MidiaNews -  Como profissional da saúde, como o senhor está vendo toda esta situação?

 

Manoel Vicente de Barros – É uma situação grave. A gente tem aí um risco de uma doença nova que a gente conhece pouco. Mas, a verdade é que a humanidade nunca teve tão preparada para lidar com uma situação dessa. A gente tem tecnologia, tem ciência, os cientistas estão 24h buscando alternativas,  você tem empresas envolvidas. É uma mobilização muito grande.

 

 

Agora é um momento de seguir as instruções, de ficar tranquilo, de evitar ida desnecessária aos hospitais, de ficar em casa, porque nós já superamos guerras, crises. Já superamos situações muito complicadas. A gente vai passar por essa também e, eu acredito, que isso será um teste para a nossa humanidade. A gente vai sair muito mais forte e mais unidos dessa situação.

 

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Cleber  29.03.20 17h22
Realmente o médico está certo, falar fique somente em casa, será muito pouco, pois aumenta a ansiedade, e o excesso de notícias negativas dá até medo, mas devemos orar e buscar notícias positivas e confiar em Deus;
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