Professor de história aposentado, Laudenir Gonçalves mergulhou nas produções artísticas de Mato Grosso ainda durante o mestrado, quando analisou os movimentos artísticos da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), entre a década de 1970 e os anos 2000.
Desde então, dedica-se à exploração da produção artística local, atuando como curador e crítico de arte.
Colaborador de importantes exposições que retratam a cultura mato-grossense, Laudenir integrou recentemente a equipe responsável pela mostra “Lírica, crítica e solar: artes visuais em Mato Grosso”, realizada no Museu da República, em Brasília.
A exposição apresentou a riqueza cultural do Estado por meio da produção de 50 artistas locais.
Falta de público
Com ampla experiência na cena artística regional, o curador traça um panorama da produção contemporânea, destacando tanto nomes já consolidados quanto novos talentos que têm ganhado visibilidade em Mato Grosso. No entanto, ele ressalta a dificuldade em atrair público para as exposições promovidas no Estado.
“Às vezes tem exposições, a gente vai. O público é muito restrito. Em Rondonópolis também o público é muito restrito. Então, precisaria haver uma massificação mesmo dos eventos, para aumentar essa participação do público”, afirma.
Para reverter esse cenário, Laudenir defende a necessidade de incentivos e investimentos na formação de público, por meio de eventos, palestras e, principalmente, da introdução das artes visuais e a literatura nas escolas.
“Isso deveria ser feito via sistema municipal e estadual de ensino. Massificar as artes plásticas, a literatura, por meio do banco escolar. Acho que seria uma grande veia a ser explorada, especialmente para divulgar as artes plásticas do Estado, que tem grandes pintores, grandes artistas — assim como temos músicos, dança, enfim. Mato Grosso tem muita cultura e precisa ser massificada”, propõe.
Investimento em artistas e descentralização da cultura
Reprodução
Gervane de Paula e Laudenir Gonçalves, na 36° Bienal de Arte
Segundo ele, o curador atua como um mediador, capaz de estabelecer a conexão entre o público e o artista. É nesse contexto que Laudenir reforça a importância de políticas públicas para a valorização da arte local.
“A política cultural está acontecendo. Ela precisa ser o tempo todo incentivada. É preciso incentivar a participação em ateliês, não só na universidade, mas criar outros ateliês em diferentes municípios", propõe.
"Uma das grandes dificuldades também é a falta de material, de professores... enfim, essa é uma grande discussão: como fomentar essa política cultural, não só na área das artes plásticas, mas em todas as áreas”, avalia o curador.
Um dos principais espaços de formação artística em Mato Grosso, segundo ele, é a própria Universidade Federal de Mato Grosso.
Criado por meio da contribuição da crítica de arte Aline Figueiredo, do artista plástico Humberto Espíndola e de Therezinha de Arruda, o Ateliê Livre da UFMT, auxiliou no potencialização das artes locais por meio de cursos de expressão artística e ateliê livre para os interessados na produção artística de forma gratuita.
“A Universidade Federal de Mato Grosso teve um papel fundamental no desenvolvimento e ampliação do campo artístico do Estado, estendendo essa produção para o cenário nacional”, destaca.
Ao longo das décadas, diversos artistas foram impulsionados pelo Museu de Arte e Cultura Popular (MACP) da UFMT, em diferentes épocas e gerações. Entre eles, destacam-se: Humberto Espíndola, Julio Cesar, Dalva Barros, João Sebastião, Clóvis Irigaray, Adir Sodré, Benedito Nunes, Nilson Pimenta, Jonas Barros, Vitória Basaia e Gervane de Paula. Este último, presente na 36° Bienal de Arte de São Paulo.
Participação esta, destacada por Laudenir ao retratar a importância da arte local.
“Está tendo uma repercussão muito grande o trabalho dele [na Bienal]. É muito interessante, muito bom. Ele parte de Mato Grosso, mas traz um humor sarcástico, divertido, que atinge questões universais, questões humanas”, analisa.
Bienal e atuação do curador
Durante a conversa com o MidiaNews, Laudenir estava presente na Bienal e comentou sua participação no evento dividida em seis capítulos, e que reúne 125 participações, entre exposições individuais e coletivas.
Com a exposição aberta ao público até janeiro de 2026, Laudenir utiliza a mostra como exemplo para explicar a atuação de um curador de arte, profissional responsável por construir uma narrativa visual por meio da seleção e organização das obras.
“O curador atua como mediador entre a obra e o público. Ele é responsável por conceber uma exposição, planejar, organizar, criar um conceito. Quando se trata de uma exposição individual, é uma coisa. Mas em uma coletiva, ele precisa pesquisar sobre as obras, entender os conceitos e montar uma narrativa. É um trabalho de planejamento e de construção de significado”, explica.
No entanto, o curador também faz uma crítica à forma como a Bienal foi estruturada, apontando dificuldades de acesso às informações das obras e à comunicação com o público.
“A exposição está linda. A Bienal de São Paulo é surpreendente, tem obras do mundo todo. Muitas obras do Giovanni, por exemplo. Mas a narrativa da Bienal, a comunicação das obras com o público, está complicada. Muito complicada. Essa é a minha modesta opinião”, conclui.
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|