Assim que souberam que uma mulher havia sido atropelada e arrastada pela marginal Tietê, no Parque Novo Mundo, zona norte de São Paulo, na manhã de sábado (29), policiais militares que atuam na área passaram a priorizar a identificação do veículo e seu condutor.
A agressividade da ação, que levou à amputação das pernas da vítima, chamou a atenção dos agentes acostumados com a rotina de violência. Eles tomaram conhecimento do fato no Hospital Municipal Vereador José Storopolli, conhecido como Vermelhinho, para onde Tainara Souza Santos, 31, havia sido levada. Até então, a ocorrência se apresentava como um acidente de trânsito. Uma amiga da vítima no pronto-socorro foi quem deu a informação de que poderia se tratar de um crime.
O primeiro passo foi a busca por câmeras de segurança que pudessem ter registrado o percurso do automóvel. Alguns desses equipamentos estavam em imóveis, mas os PMs se depararam com estabelecimentos fechados.
O atropelamento foi registrado no 73º DP (Jaçanã). Lá, policiais civis e militares passaram a analisar dados do Muralha Paulista, sistema de monitoramento do governo estadual. A apuração mostrou um veículo Volkswagen Golf preto na cena do crime. Os filtros indicaram um veículo da mesma marca e modelo que transitou pelo entorno em horário próximo.
Durante a investigação, os policiais tiveram acesso a imagens em que puderam ver o condutor entrar no veículo antes do atropelamento.
Com a placa do carro, a polícia chegou a Douglas Alves da Silva, 26, um gerente que morava perto do local do ocorrido. Fotos do homem foram mostradas para testemunhas, que o reconheceram como o motorista que dirigia o veículo. Horas depois do crime, o delegado do 73º DP pediu à Justiça a prisão temporária do suspeito.
Na sequência, os policiais identificaram o homem que acompanhava Douglas no Golf. Kauan Silva Bezerra se apresentou na delegacia de forma espontânea. Ouvido como testemunha, ele confirmou que Douglas havia atropelado Tainara.
No domingo (30), policiais civis do 4º Cerco (Corpo Especial de Repressão ao Crime Organizado) e do 90º DP (Parque Novo Mundo) encontraram o Golf estacionado em uma área de mata no Jardim do Líbano, em Guarulhos, próximo da divisa com a zona leste da capital.
De acordo com o delegado Augusto Cesar Pedroso Bicego, do 90º DP, Douglas deixou o carro em um terreno usado como garagem ao lado da casa do ex-sogro. "O portão tinha um sistema que, quem conhecia, conseguia acionar um botãozinho e abri-lo."
Após esconder o carro, Douglas teria ido até o bairro do Brás, no centro da capital, onde comprou novas roupas e passou a buscar locais para ficar –segundo relato informal que ele teria dado aos policiais.
Rastros deixados por Douglas levaram os policiais até um hotel na rua Ibitirama, na Vila Prudente, zona leste da capital. Agentes também estiveram em outros endereços de familiares dele, bem como no terminal rodoviário do Tietê, em razão de informações de que Douglas possui parentes no Ceará e poderia tentar fugir.
Os agentes permaneceram por diversas horas em frente à hospedaria. Eles viram quando Douglas deixou o local por volta das 19h13, com camiseta amarela e bermuda e boné azuis, além de uma mochila preta nas costas. O homem retornou à hospedeira às 20h35 já com uma camiseta de três cores em tons de azul, mas ainda com bermuda, boné e mochila iguais.
Os investigadores o seguiram e viram quando ele entrou no quarto número 16. Em seguida, pediram a chave reserva e entraram no quarto. Conforme o boletim de ocorrência, Douglas tentou tomar a arma de um dos agentes, que atirou e atingiu o braço do atropelador.
Eles saíram do quarto 4 minutos e 40 segundos depois de entrarem, e Douglas estava algemado e com a boca sangrando. Ele foi levado para o Hospital da Vila Alpina, onde foi medicado e liberado para seguir para a delegacia.
Segundo documento ao qual a reportagem teve acesso, os policiais tomaram conhecimento pelo serviço de inteligência que membros de uma facção criminosa estariam cogitando resgatar Douglas do Hospital da Vila Alpina para fazer justiça com as próprias mãos.
Foi solicitado apoio do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), que passou a atuar na segurança do perímetro e na escolta do detido.
Após ser liberado pelos médicos, Douglas foi encaminhado para o 4º Cerco (Corpo Especial de Repressão ao Crime Organizado), com sede na Casa Verde, zona norte. Ele foi levado ao IML, onde passou por exame de corpo de delito, depois, seguiu para a carceragem do 8º DP (Brás). No entanto, conforme o documento, outros presos no local teriam ficado incomodados com a presença dele e falavam em agredi-lo ou matá-lo, motivo pelo qual foi transferido para o 26º DP (Sacomã), na zona sul, local em que há espaço destinado para presos do setor chamado de seguro, onde fica separado dos demais.
Em interrogatório, Douglas disse estar "completamente arrependido". Ele nega que tenha se relacionamento anteriormente com Tainara, o que contradiz a investigação da polícia, de que ele teria agido após vê-la conversar com outro homem.
Ao ser preso, ele estava em posse de R$ 2.300. Douglas contou ter sacado o dinheiro em um caixa eletrônico com a intenção de pagar as custas do advogado. Na audiência de custódia, Douglas afirmou para o juiz ter sido agredido durante a prisão.
"É importante que a sociedade entenda: nossos policiais não saem às ruas querendo usar força. Muito pelo contrário. Mas quando um investigado reage violentamente e tenta desarmar um policial, a resposta precisa ser imediata e proporcional para proteger vidas", disse o delegado Rodrigo Gonçalves da Silva, do 4º Cerco.
"O caso agora segue sua tramitação normal. O inquérito está no 90º DP, e será concluído para remessa ao Poder Judiciário. Nosso trabalho foi localizar e prender quem cometeu essa barbárie contra ela. Agora, cabe à Justiça dar a resposta adequada", acrescentou Rodrigo.
Veja como foi a prisão:
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