A médica da família Silvia Souza afirmou que o aspecto emocional é um dos principais gatilhos para episódios de compulsão na alimentação, bebida e compras no final do ano. Para ela, o excesso é causado pela busca de prazer momentâneo, que, após passar, causa danos emocionais.

O MidiaNews entrevistou a médica, que falou sobre os principais erros cometidos em relação à saúde neste período.
Segundo ela, atividades como essas geram um estímulo de dopamina, o hormônio do prazer, que impulsiona a pessoa a se levar pelos excessos e passar dos limites.
“Esse mecanismo da dopamina acontece mais ou menos como o da insulina. Ele vai a um pico muito alto e depois cai. Nesse período que cai, após esse momento de prazer intenso, a gente sente um pouco de mal-estar, uma depressão, uma tristeza, culpa. É o que vem depois e que também acaba sendo muito mais prejudicial”, afirmou.
Ainda, os excessos na alimentação e bebida causam efeitos imediatos no organismo humano, que não está preparado para a quantidade que é ingerida, levando a uma sobrecarga. O mesmo acontece com a falta de sono durante as comemorações.
Além disso, após as festividades, quando a pessoa tenta se punir pelos excessos, há restrições que também são perigosas para a saúde física e mental.
Veja os principais trechos da entrevista:
MidiaNews - As festas de final de ano costumam vir acompanhadas de excessos, tanto em relação à comida, quanto à bebida e festividades. Quais são os principais impactos desse período na saúde da população?
Silvia Souza - Quando a gente fala de excessos, a gente fala do álcool, fala da comida, de expectativas, da parte emocional, compras, de pessoas que vivem o luto nessa época e tem mais crises depressivas, e da cobrança excessiva. É todo um conjunto de excessos, é um período muito intenso pra uma semana só.
E os prejuízos são imediatos, praticamente, porque o excesso do álcool, da comida, leva à sobrecarga do fígado, sobrecarga de insulina, de glicose. Então, entrando em todos esses mecanismos que descompensam o nosso corpo, esse efeito a gente já sente imediatamente, principalmente no dia seguinte, quando começa a ter os primeiros sinais.
E dependendo da intensidade, da variação de tudo isso, da quantidade de dias que a gente passa nessas comemorações, isso vai nos afetando continuamente.
MidiaNews - O fim de ano costuma reforçar hábitos de má alimentação entre as pessoas? É possível aproveitar as festas sem comprometer a saúde?
Silvia Souza - Com certeza, reforça. Tanto existem aquelas pessoas que já vão preparadas para exagerar na ceia, para exagerar no álcool, quanto tem aquelas que já se preocupam justamente com essa expectativa do exagero na comida, nos doces e no álcool, e já passam esse período à base de folha, cometem esse excesso da restrição para poder aproveitar esse período.
E nenhum dos dois é saudável. A melhor recomendação que a gente faz é buscar o equilíbrio. A vida está acontecendo normalmente nesse período e o nosso corpo também precisa seguir esse mesmo ritmo do equilíbrio. Senão, vai cobrar depois.
Precisamos lembrar que esse período de festas é um período para ser leve, para ser alegre, não é para extrapolar em tudo devido a essa intensidade das comemorações. Existe uma sobrecarga emocional muito grande que a gente, com tudo isso, acaba cometendo excessos em tudo, no álcool, na comida, na falta do sono, e tudo isso a gente consegue equilibrar.
A gente pode escolher onde vai cometer aquele excesso. Então, por exemplo, ou a gente excede um pouquinho mais no álcool e aí já pega um pouquinho mais leve na comida, no doce, ou no dia seguinte, no almoço, pega um pouquinho a mais no doce, já tenta pegar um pouco mais leve na comida. Dá para tentar fazer um certo equilíbrio, na medida do possível, e aproveitando a ceia. E é o que muitas pessoas não fazem.
MidiaNews - Muitas pessoas tentam manter a vida saudável ao longo do ano, mas no final do ano exageram. Isso pode atrapalhar todo o processo feito anteriormente? E quanto às pessoas que ficam meses antes das datas comemorativas com dietas muito restritivas e exageram no período?
Silvia Souza - Compromete totalmente [o período saudável], porque é um gasto calórico, um consumo calórico muito alto que a gente acaba extrapolando, às vezes, em relação a vários dias que a gente vem com bom controle, da parte de uma alimentação saudável. É um período de alimentos mais gordurosos, de comidas mais pesadas, de doces, de álcool em maiores quantidades, então tudo isso vai realmente atrapalhar esses períodos anteriores em que a gente vem se cuidando. Todo equilíbrio vai ser benéfico nesse sentido, sem precisar se privar.
Em relação à dieta restritiva e exagero em seguida, ocorre uma sobrecarga tanto da parte do estômago, no intestino, então existe essa desregulação, e existe também a parte da sobrecarga hepática daquela pessoa que está entrando nessa fase de restrição, e também nesse exagero de comida existe um pico dessa glicose, uma sobrecarga desse fígado, e tudo isso imediatamente vai desregular já o nosso mecanismo de fome, de saciedade. Às vezes, aumenta o estresse orgânico e também piora sintomas como ansiedade, piora o nosso mal-estar.
A gente precisa regular tudo isso, manter uma boa hidratação durante as refeições, principalmente durante o uso do álcool, evitando esses exageros, e como eu falei, sempre buscando priorizar os excessos, não exceder em tudo.
E lembrar também que dormir nesse período é importante. A gente sabe que se dorme pouco nas festas, mas o possível, ou um pouquinho antes dessa festa também, porque além disso, não dormir já vai bagunçar mais ainda essa questão da fome, da saciedade, da ansiedade, e da parte emocional. A gente precisa cuidar, lembrar desses cuidados que são importantes.
MidiaNews - Há pessoas que relatam dificuldade de parar de comer, mesmo já satisfeitas, apenas por a comida estar disponível. O que esse comportamento revela sobre a rotina alimentar delas?
Silvia Souza - O mais importante disso é a gente pensar no que está por trás dessa vontade excessiva. A comida é muito palatável nesse período, os doces, o açúcar, o álcool, tudo vai gerar esse estímulo da dopamina, que é o nosso hormônio que traz o prazer. Então a dopamina funciona justamente dessa forma, você vai acabar sendo impulsionado a cometer um exagero, a comer aquilo que tá realmente muito gostoso.
O que está por trás daquilo também é um fator emocional, muitas vezes. A ceia remete muito à questão dos relacionamentos familiares, as emoções, o luto, as expectativas, as cobranças em relação ao ano seguinte ou ao que passou.
A parte emocional também vai mexer com isso, levar a essa compulsão. Esse mecanismo da dopamina acontece mais ou menos como no mecanismo da insulina. Ele vai a um pico muito alto e depois ele cai.

Nesse período em que ele cai, após esse momento de prazer intenso, a gente sente um pouco de mal-estar, uma depressão, uma tristeza, culpa. É o que vem depois e que também acaba sendo muito mais prejudicial.
MidiaNews - E quais são as principais consequências da punição na saúde da pessoa que se restringe além da conta a partir de janeiro, para compensar o período em excessos?
Silvia Souza - A pessoa começa a restringir muito a parte alimentar. Começa a restringir a parte de alimentação. Comer só salada, tentar evitar comidas gordurosas e o açúcar. Muitas vezes, ela entra numa rotina que ela não estava habituada antes.
Uma rotina que, muitas vezes, ela nunca nem testou e vai recorrer a dietas malucas, a um jejum intermitente, a orientações que nem sempre são as mais adequadas, que a gente vê na internet, nas redes sociais. A gente tende a copiar modelos que não necessariamente servem pra gente, que é extremamente radical e que exige um preparo e um acompanhamento. E as pessoas recorrem a isso.
E agora, na época das medicações para emagrecimento, em janeiro a gente vai ter mais ainda esse boom da procura por elas, desse ‘não aguento mais esse efeito sanfona’.
Mas, realmente, o que a gente precisa entender é o que está além disso. O que está por trás disso. São as nossas escolhas. As nossas escolhas não são só no período de Natal e Ano Novo, elas vêm o ano todo.
Então, por exemplo, quem já está em acompanhamento com uma boa orientação médica, nutricional, já está se preparando e vai passar por isso de forma tranquila. Essa pessoa não vai precisar se privar de nada. Com isso, ela não vai ter esse sofrimento que acontece com a maioria das pessoas.
MidiaNews - Como é possível transformar a virada de ano em um ponto positivo, um salto positivo para a saúde?
Silvia Souza - Reduzindo as expectativas. A gente acaba entrando numa fase de final de ano e se cobra muito sobre resultados, sobre expectativas.
A gente está muito acelerado e, muitas vezes, só vai parar mesmo para a festa. A melhor forma de a gente lidar com isso e chegar bem nesse período é ter seu momento de reflexão, ter seu momento de pausa. Nós precisamos de pausa para sentir onde nós estamos pisando, como estão nossos sentimentos, como está a nossa vida familiar, como está a nossa vida profissional, o que a gente tem buscado realmente, como a gente se vê a longo prazo e com o que a gente realmente está satisfeito ou não.
Mas lembrar do momento presente, viver o momento presente. Nós estamos muito acelerados e isso torna o tempo ainda mais rápido para nós. Nós precisamos parar e repensar, colocar no papel nossos projetos, nossos planos, nossa vida.
Parar para lembrar que nós estamos vivendo uma vida que é agora. E, muitas vezes, tudo que a gente faz nesse período de dezembro, de final de ano, são projetos futuros, como vai ser 2026, já entramos no ano naquela cobrança de promessas.
Então que seja um momento da gente analisar como estamos agora, olhando também as coisas positivas que nós alcançamos, vendo como nós estamos hoje, para que se siga de uma forma equilibrada no ano que vem. E aí sim ter resultados, sem tantas expectativas.
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