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28.12.2025 | 09h21 Tamanho do texto A- A+

Psicóloga: conhecer a si ajuda a traçar metas viáveis para 2026

Patrícia Katz destacou que metas precisam estar ancoradas na realidade do momento

Yasmin Silva/MidiaNews

A psicóloga Patrícia Katz, que falou sobre como projetar metas para 2026

A psicóloga Patrícia Katz, que falou sobre como projetar metas para 2026

ANGÉLICA CALLEJAS
DA REDAÇÃO

A chegada do fim de ano é um momento de fazer um balanço do que passou, avaliar acertos e desafios, e traçar metas para planejar as conquistas do próximo ano.

 

Muitas metas são subjetivas, inalcançáveis ou não condizem com a realidade atual. Quando são idealizadas demais ou não têm raiz no ano que passou, acabam se tornando inférteis

Em entrevista ao MidiaNews, a psicóloga Patrícia Katz explicou que é comum as pessoas terem dificuldade em projetar metas, mesmo sabendo o que desejam, porque não param para observar, de forma honesta, o próprio percurso.

 

“Muitas metas são subjetivas, inalcançáveis ou não condizem com a realidade atual. Quando são idealizadas demais ou não têm raiz no ano que passou, acabam se tornando inférteis”, disse.

 

Ela comparou esse processo a uma semente lançada em um solo sem preparo. Sem conexão com experiências concretas, os planos tendem a se perder ao longo do ano e não se sustentam diante das primeiras frustrações.

 

Para a psicóloga, as metas precisam estar ancoradas na realidade e levar em conta os recursos disponíveis naquele momento. Nesse contexto, o autoconhecimento surge como um elemento central para escolhas mais conscientes.

 

Um dos obstáculos “invisíveis” citados por Patrícia é o chamado “piloto automático”, ou, como ela define, viver no “modo turbo”. Trata-se de um estado em que a pessoa passa longos períodos em constante batalha e estresse, o que pode ser útil em situações pontuais. O problema, segundo ela, é quando esse modo se prolonga.

 

“Se você tem a sensação de que o ano foi pesado, provavelmente ficou muito tempo com o estresse ativado. A gente percebe isso quando passa o dia inteiro com sensação de pressa: acorda atrasada, fica impaciente no trânsito, almoça olhando o celular sem sentir o gosto da comida”.

 

“Avaliar o ano não precisa ser um julgamento entre bom ou ruim, mas uma análise do que ele trouxe de aprendizado e de recursos para se tornar uma pessoa melhor”, completou.

 

 

 

De acordo com Patrícia, mesmo experiências negativas cumprem um papel importante quando são reconhecidas. As aprendizagens adquiridas ao longo do ano funcionam como bagagem para o período seguinte e ajudam a estabelecer metas mais possíveis.

 

“O ano que vem precisa ter conexão com o ano anterior. Existe uma escada, um caminho. A pergunta não é só o que eu quero, mas qual é o próximo passo”, pontuou.

 

Autocuidado

 

A psicóloga afirmou ainda que essa percepção de peso no fim do ano costuma estar ligada à falta de pausas para observar limites e necessidades emocionais. É nesse momento que se evidencia a importância de uma relação mais saudável consigo mesmo, a partir da identificação do que está desbalanceado na vida.

 

 

 

“Pode ser dificuldade de relaxar, reações exageradas ou conflitos recorrentes. Situações mal resolvidas do passado gotejam no presente. Mesmo quando a pessoa não consegue identificar a origem, o corpo e o sistema nervoso trazem essa informação. Muitas vezes, o sintoma fala mais alto que a própria narrativa”.

 

Experiências negativas do passado também influenciam diretamente escolhas e comportamentos na vida adulta. Segundo a psicóloga, essas vivências funcionam como uma lente por meio da qual a pessoa passa a enxergar o mundo e os relacionamentos.

 

Ambientes familiares tensos na infância, por exemplo, podem ensinar à criança que o mundo é perigoso, levando ao desenvolvimento de um padrão defensivo permanente.

 

Com o sistema nervoso constantemente ativado, o cérebro deixa de buscar prazer e passa a operar prioritariamente para sobreviver. Mesmo sem lembranças conscientes dessas experiências, crenças formadas na infância, como a sensação de não ter valor ou de não ser importante, seguem moldando atitudes, relações e decisões ao longo da vida.

 

Situações consideradas sutis, como comparações frequentes, falta de reconhecimento ou ausência de atenção, também deixam marcas profundas quando ocorrem dentro do vínculo de segurança. Essas crenças acabam se consolidando e sendo confirmadas de forma inconsciente no presente.

 

 

 

“Consciência é a primeira coisa. Muitas vezes, quem percebe a evolução é o entorno, não a própria pessoa. É preciso prestar atenção ao corpo e aos sinais silenciosos: desligamento, perda de presença, relações desgastadas, sensação constante de peso. Quando trabalhamos os traumas do passado, a lente do presente muda automaticamente. É um processo rápido quando se acessa a raiz, como corrigir um arquivo corrompido”, disse.

 

Segundo Patrícia, pessoas com trauma tendem a oscilar entre dois extremos: o caos ou a rigidez. “No caos, falta rotina e autocuidado. Na rigidez, tudo precisa estar sob controle. O primeiro passo é identificar para qual polo a pessoa tende e fazer movimentos conscientes no sentido oposto, começando por pequenas mudanças no dia a dia. O cérebro precisa aprender que é seguro fazer diferente”, afirmou.

 

Para os chamados “caóticos”, manter o compromisso com o objetivo traçado é essencial. Já os mais “rígidos” precisam compreender que ajustes fazem parte do processo. Há metas de ordem material e outras ligadas às virtudes, e ambas são igualmente relevantes.

 

psicóloga citou que não é raro encontrar pessoas bem-sucedidas financeiramente que, ainda assim, não se sentem felizes, justamente por terem negligenciado o autocuidado e a presença no próprio cotidiano.

 

Nesse contexto, conforme ela, escolher uma virtude central para desenvolver ao longo do ano ajuda a dar continuidade e sentido às escolhas.

 

Para Patrícia, a ideia de que o sucesso material, por si só, garante felicidade plena é um equívoco comum. Ela frisou que um cérebro constantemente estressado tende a direcionar a atenção apenas para aquilo que ainda falta, reforçando a sensação de insatisfação contínua.

 

 

 

Neuroterapias

 

A psicóloga citou que técnicas de neuroterapias, como brainspotting e EMDR, ajudam diretamente nas redes de memória e permitem o reprocessamento de experiências traumáticas de forma profunda e relativamente rápida.

 

Segundo ela, as memórias podem ser modificadas ainda na mesma sessão, perdendo a carga emocional, como arquivos corrompidos que, ao serem corrigidos, deixam de provocar impacto.

 

“Devemos parar para avaliar o ano não no nível de ‘bom’ ou ‘ruim’, mas no que ele trouxe de recurso para ser uma pessoa melhor ou no que foi aprendido. Nem sempre o balanço precisa ser positivo, mas ele precisa existir. Essas aprendizagens são bagagens que precisam ser levadas para o próximo ano”, afirmou.

 

Para Patrícia, encarar o fim do ano como um ponto de observação, e não de cobrança, permite que o próximo ciclo seja construído com mais consciência e menos exaustão.

 

Ao compreender os próprios limites, reconhecer as experiências vividas e alinhar expectativas à realidade, o planejamento deixa de ser uma lista de promessas e passa a ser um caminho possível.

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