Cuiabá, Terça-Feira, 17 de Junho de 2025
ABORTO E REMÉDIOS ILEGAIS
13.03.2012 | 07h28 Tamanho do texto A- A+

Três ainda estão foragidos; clínica segue interditada

PF e MPE avaliam se vão pedir pela prorrogação da prisão dos suspeitos

Divulgação/PF

Sem registor da Anvisa, 48 cartelas de Pramil foram encontradas na residência de um caixa de posto de gasolina

Sem registor da Anvisa, 48 cartelas de Pramil foram encontradas na residência de um caixa de posto de gasolina

LISLAINE DOS ANJOS
DA REDAÇÃO

Três pessoas ainda estão sendo procuradas pela Polícia Federal por suposto envolvimento na comercialização de medicamentos ilegais e na prática de abortos criminosos em série, no município de Barra do Garças (509 km a Leste de Cuiabá).

De acordo com informações da assessoria da PF, neste momento, o delegado Bruno Rodrigues do Santos, responsável pela condução do inquérito, e o promotor de Justiça Wdison Luiz Franco Mendes – autor da denúncia que deu origem à operação “Pró-Vita” - estão analisando o conteúdo das oitivas já realizadas e o material apreendido na operação.

Após a análise, o delegado deverá decidir se irá ou não solicitar à Justiça a prorrogação da prisão das sete pessoas presas na última sexta-feira (9), uma vez que o prazo para mantê-las na Cadeia Pública de Barra do Garças expira nesta terça-feira (13).

Os suspeitos deverão responder criminalmente por aborto, comercialização de medicamentos sem registro na Anvisa, peculato, corrupção e formação de quadrilha.

Segundo o MidiaNews apurou, apesar de farmácias terem sido alvos de busca e apreensão feita por policiais federais, ainda não foi confirmada a participação direta de farmacêuticos no esquema de fornecimento de medicação sem o registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ou proibidos pelo órgão.

No entanto, há relatos de funcionários que serviam de “ponte” entre os fornecedores e as pessoas que procuravam a medicação.

Foi assim que a PF chegou, por exemplo, à residência de um homem que trabalha como caixa em um posto de gasolina do município e vendia, clandestinamente, cartelas do comprimido Pramil, usado por muitos homens como estimulante sexual. Na casa dele, foram apreendidas 48 cartelas do remédio.

A reportagem tentou contato com o delegado da PF, Bruno Rodrigues, em Barra do Garças, mas ele não foi localizado.

Clínica interditada

Ainda na sexta-feira (9), agentes da Anvisa e da Vigilância Sanitária de Barra do Garças interditaram a Clínica Pró Vita, de propriedade do médico Orlando Alves Teixeira, onde supostamente os abortos clandestinos eram realizados.

A unidade estava com o Alvará Sanitário vencido e lá foram encontrados medicamentos vencidos e contrabandeados, como o abortivo Misoprost-200, de uso ilegal no Brasil. Até mesmo um remédio de uso exclusivamente veterinário foi encontrado pelos fiscais da Anvisa, armazenado em uma geladeira junto de alimentos e outras medicações.

Além disso, foram encontrados também materiais cirúrgicos próprios para a realização de abortos. Entre os instrumentos apreendidos pela PF estão agulhas espinhais e anestésicos, como Profonol e Morfina.

A existência de tal aparelhagem na clínica era desnecessária, uma vez que a unidade oferecia apenas consultas médicas para gestantes e realização de ultrassonografias, procedimentos que não precisam de anestesia ou intervenção cirúrgica.

Medicamentos “tarja-preta” também foram apreendidos, bem como remédios e blocos de receituários do Sistema Único de Saúde (SUS – mesmo a clínica não sendo conveniada à rede pública ou tendo acordo firmado com o município.

Operação

Em entrevista ao site na última sexta-feira, o promotor de Justiça Wdison Luiz Franco Mendes, que atua na 1ª Promotoria Criminal de Barra do Garças, afirmou que há provas suficientes que comprovam a existência de um esquema de contrabando de remédios proibidos e realização de abortos no município.

Além da clínica e do médico citado, farmácias também estariam envolvidas no contrabando de remédios de comercialização proibida e uma pessoa, com a prisão preventiva decretada, ainda estaria sendo procurada em Goiás.

De acordo com Mendes, as investigações começaram a partir de uma denúncia feita na ouvidoria do MP, em março de 2010.

“Desde então, começamos a apurar a denúncia. Encaminhei a denúncia para a Polícia Federal em outubro de 2010, ou seja, a investigação tem mais de um ano. Há provas e interceptações telefônicas suficientes para embasar a operação”, afirmou o promotor.

Na PF, o inquérito está sendo presidido pelo delegado Bruno Rodrigues dos Santos. A PF já colheu depoimentos de mulheres que confessaram terem feito pagamentos, que variam de R$ 800 a R$ 3 mil, por procedimentos abortivos realizados na clínica.

Até o momento, a PF já apreendeu R$ 2,9 mil em dinheiro, uma cartela do medicamento abortivo Cytotec e várias cartelas de remédios de uso controlado, conhecidos como “tarja preta”. Foi localizada também uma caixa de Rouphinol, substância cuja comercialização configura tráfico de drogas.

Além disso, vários remédios e mercadorias que são vendidas apenas para hospitais, como comprimidos de Sildefanil e Sibutramina, foram encontrados nas residências já revistadas pelos policiais.

Ao todo, a 2ª Vara Criminal da Comarca do município expediu 66 mandados judiciais, sendo 11 de prisão temporária, 33 de conduções coercitivas e 23 de busca e apreensão.

A Justiça também determinou o sequestro dos bens de todos os investigados: o médico, farmacêuticos e atendentes de farmácias da região.

A Operação envolveu cerca de 110 policiais federais e cinco agentes da Anvisa, nos Estados de Mato Grosso e Goiás.

Os mandados judiciais estão distribuídos entre as cidades de Barra do Garças, Alto da Boa Vista e Primavera do Leste, em Mato Grosso.

Já em Goiás, há mandados a serem cumpridos nas cidades de Goiânia, Aragarças, Baliza e Aparecida de Goiânia.

O termo 'Pro Vita' deriva do latim e significa “Pela Vida”, em português contemporâneo.

Investigação

A investigação revelou a existência de uma rede criminosa, dividida em duas ramificações, que interagiam nas práticas dos crimes.

A primeira era voltada para a importação e distribuição de medicamentos de origem estrangeira, sem o necessário registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para farmacêuticos e médicos da região.

Os remédios são de circulação proibida no país e utilizados como abortivos, remédios para tratamento de obesidade e disfunção erétil.

A segunda ramificação é composta por médicos e pessoas associadas, acusados de realizarem procedimentos abortivos mediante pagamento.

De acordo com a PF, os médicos utilizavam os medicamentos ilegais, fornecidos por farmacêuticos e importadores de remédios, na estrutura do serviço público de saúde: com uso dos materiais e equipamentos do Hospital Municipal de Barra do Garças.

Além do crime de aborto, eles também cobravam pela realização de procedimentos médicos custeados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Durante a fase de investigação, foi identificada uma série de casos de abortos criminosos e houve a apreensão de 187 comprimidos de Cytotec (quantidade suficiente para a realização de, ao menos, 50 abortos), 260 comprimidos de Sibutramina, 56 comprimidos de Desobesi-M, 60 comprimidos de Xanax, 40 comprimidos de Rheumazin Forte e 50 comprimidos de Pramil.

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