A briga judicial entre Furnas Centrais Elétricas, administradora da Usina de Manso, e moradores que moravam próximo ao rio já durava mais de 15 anos.
Na quarta-feira (10), a disputa teve fim com a derrubada de residências no local.
A destruição foi filmada por testemunhas que estavam no local (veja vídeos no fim da matéria).
A disputa teve início em 2008, quando Furnas ingressou com pedido de reintegração de posse contra Domingos Pereira da Silva e Silvana Domingas da Silva, em uma localidade conhecida como Barra dos Arraias.
A empresa argumentou que o local, que fica abaixo da barragem do lago, é canteiro de obras da usina e por isso os moradores não poderiam estar no local.
No processo, Furnas apontou que em 1998 assumiu a construção da usina hidrelétrica, e desde então realizou recomendações de órgãos de proteção ambiental, como o remanejamento de famílias ribeirinhas – estas, por sua vez, criaram o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB).
Ocorre que, segundo a empresa, Domingos não integrava o MAB e teria invadido a área da empresa e construído morada. Em fevereiro de 2013, houve a sentença em que determinou a retomada de posse por Furnas.
Apesar da ação citar apenas o casal, com o tempo outros moradores passaram a erguer casas no local.
Entre recursos, novas petições e decisões, se passaram 10 anos, até que em 10 de abril, o juiz Leonísio Salles de Abreu Júnior, da 1º Vara de Chapada dos Guimarães, deu ordem para que houvesse o reintegração de posse.
No mandado, ainda consta a autorização do uso de duas pás carregadeira de grande porte na demolição dos imóveis. Os objetos custaram R$ 4,5 mil, e foram custeados por Furnas.
“Verifico que o feito se arrasta por mais de 15 (quinze) anos sem que tenha se cumprido a sentença prolatada no ano de 2013 e vem os requeridos, reiteradamente fazendo pedidos protelatórios, assim, advirto que havendo qualquer reiteração de pedido já analisado será considerado como litigância de má-fé e será aplicada multa de 2% sobre o valor atualizado da causa”, consta em terminação.
Demolição e revolta
Na manhã ne ontem, a Justiça deu cumprimento à reintegração de posse e destruiu os imóveis.
"A casa do nosso amigo Paquetá. Um dos mais antigos que tem aqui. Não está nem aqui, está em Cuiabá fazendo tratamento. Derrubaram a casinha dele, cerca... Tudo foi pro pau", disse uma testemunha.
De acordo com o prefeito Osmar Froner (MDB), foi um “despejo surpresa”, pois, segundo ele, nenhum comunicado oficial foi enviado a ele para que pudesse acompanhar a desocupação.
“É um desrespeito, um despejo surpresa dos moradores que ocupavam uma área de Furnas à jusante da usina até a barra do Ribeirão Arraia. O local foi consolidado como moradia há mais de 20 anos”, disse.
“Foi uma covardia imensa de Furnas. Estou ligando para o desembargador para me dar uma orientação do que o Município possa fazer, mas estão destruindo tudo que construíram lá”, completou.
Outro lado
A Eletrobras Furnas informa que o cumprimento de reintegração de posse da ocupação irregular em área de ranchos de pesca, bem como a remoção de bens e animais, do reservatório da UHE Manso provém de decisão judicial transitada em julgado nos autos do processo n. 2176-19.2008.11.0024.
Para realizar esta diligência , o juízo da 1a Vara Cível de Chapada dos Guimarães intimou os responsáveis pelas construções irregulares, por meio de oficial de Justiça, em duas ocasiões: em 14 de setembro de 2022 e novamente em novembro de 2022.
Veja vídeos:
Leia mais sobre o assunto:
Famílias são despejadas e têm moradias destruídas no Manso
Justiça manda desocupar áreas na beira do Lago de Manso
Prefeita diz que Furnas está "aterrorizando" moradores do Manso
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|