O ex-diretor-presidente da EIG Mercados, José Kobori, chegou a ingressar com representações criminais em 2015, afirmando ter sido ameaçado pelos empresários Roque Reinheimer e Antonio da Costa e Silva, sócios da empresa Santos Treinamento e Capacitação de Pessoal Ltda.
A EIG Mercados (antiga FDL) e a Santos Treinamento são alvos da Operação Bereré, deflagrada no mês passado para apurar esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 27,7 milhões, que operou de 2009 a 2015.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Kobori relatou que a partir de 2015, depois de analisar a situação da EIG Mercados, decidiu romper o contrato existente com a Santos Treinamento.
Na época, a Santos recebia 30% de tudo o que a EIG arrecadava no contrato com o Detran, relativo ao registro de financiamentos de contratos de veículos. A arrecadação era de cerca de R$ 24 milhões por ano.
Na investigação do Ministério Público Estadual (MPE), consta que esse repasse de 30% a Santos era feito, na verdade, destinado aos políticos que participavam do esquema.
De acordo com o diretor da EIG, após a rescisão, os sócios da Santos Treinamento ficaram inconformados e ingressaram na Justiça para manter os repasses mensais, que chegavam na faixa dos R$ 600 mil.
Apesar de terem conseguido uma decisão liminar, Kobori recorreu por várias vezes contra a decisão junto aos tribunais superiores.
“Coagir”
Na queixa-crime, ingressada em 2015, Kobori disse que por conta da judicialização da questão, o empresário Roque Reinheimer (réu confesso do esquema) passou a enviar mensagens para um conhecido seu (Ygor Siqueira), pois sabia que o mesmo repassaria os “recados”.
“Nessas mensagens, passou a ameaçar os dois representantes [EIG e Kobori] em uma clara tentativa de coagir os noticiantes a manter o contrato com a empresa Santos Treinamento e Capacitação de Pessoal LTDA”.
As mensagens mandadas por Roque Reinheimer a Ygor Siqueira foram registradas no 4º Tabelionato de Notas de Curitiba/PR e anexadas na ação.
Na conversa, o sócio da Santos insinua que poderá vazar o pedido de prisão que formulou contra Kobori.
Roque Reinheimer: “Porque o distrato já foi considerado fraudulento por parte dele, as decisões da justiça estão sendo unânimes, esta briga cada vez vai complicar mais eles, até para os outros negócios da EIG. E para o próprio Kobori. Se nós continuarmos a briga como está indo, vai começar a ir para o pessoal e podemos estar acabando com a empresa”.
“Porque quando começa a ir para este lado, vai no pessoal e não é bom pra ninguém, só que nós não temos mais como fazer diferente, somos obrigados a ir pra o pessoal, pedir o bloqueio das contas e, não tendo dinheiro, pedir prisão dos proprietários e dirigentes. Imagine nós deixarmos rolar na imprensa nosso pedido de prisão para eles”.
O empresário insiste para marcar uma reunião com Kobori e diz que vai declarar “guerra”.
Roque Reinheimer: “Como te falei nós ate hoje estávamos dispostos a sentar pra conversar, mas a cada dia que passa estamos vendo onde ele quer chegar, então a partir de hoje deixa o pau quebrar”.-
Ygor Siqueira: Entendi.
Roque Reinheimer: “Só assista qual vai ser o final desta briga [...] Mas só assista o barulho nos próximos dias. Ao invés de ele aparecer na Globo como professor vai aparecer de outra forma [...] Este japonês pediu guerra agora vai ter [...] A cada semana ele dá procuração para um advogado, está arrumando a cada dia um obstáculo para passar a ideia dele e realmente acabar com o contrato pra entrar com outra empresa. Vai dar errado porque nós não vamos deixar barato esta disputa. Está muito claro o uso da má-fé de parte deles, quando vai para este lado, só uma coisa é certa, não vai ter ganhador. Botaram na conta do malinha do Zé Henrique e do Japa, zeraram a conta da empresa”.
Para José Kobori, a mensagem de Roque tem conteúdo calunioso, pois induz a ideia de que ele, “chamado jocosamente de Japa, teria zerado a conta
da empresa”.
Em outra mensagem, o sócio da Santos disse que tinha o apoio de 10 deputados para a manutenção do contrato e que Kobori levou a situação para o lado pessoal no momento em que demitiu a filha dele.
“Como se vê, o representado ameaça os noticiantes numa tentativa desesperada de manter o contrato, mas, além disso, acaba por macular a honra de Parlamentares e da prestigiosa imprensa do Estado do Mato Grosso, eis que, a todo momento, bravateia que o parlamento e a imprensa agem espuriamente em seu favor”.
“O representado [Roque] passa então a afirmar que iria levar a briga para o campo político e que assim não seria bom para ninguém pois estaria ‘expondo todos empresa sócios e governo’”.
Kobori também afirmou que as mensagens deixaram claro que a intenção de Roque é “se utilizar do meio político e da mídia para uma campanha caluniosa e difamatória”.
“Por fim, ressalte-se que a ameaça é concreta, uma vez que é o representado é bem preciso em afirmar que utilizará o meio político, inclusive indicando requerimentos parlamentares, e a imprensa com o fim de macular a honra dos representantes e inclusive envia gravação de áudio em que essa ofensa é exposta”.
“Intimidação”
O diretor da EIG também denunciou ter sido ameaçado pelo advogado Antonio da Costa e Silva durante a audiência de conciliação do processo movido pela empresa Santos Treinamento.
Conforme Kobori, na ocasião o advogado – que também é sócio da Santos – disse que tem muitos parentes em Cuiabá (cerca de 60 primos) e que “se alguém da minha família for preso nessa operação, eu venho aqui em Brasília buscar o Kobori”.
“Além disso, na tentativa de coagir o ora requerente e a empresa EIG Mercados, disse, enfaticamente, que era melhor a EIG aceitar logo um acordo, para não correr o risco de ficar com a ‘imagem queimada’, isso porque, se o negócio não se resolver assegurou que irá até as últimas consequências”.
Na queixa, Kobori disse que as frases ditas na audiência indicam que Antônio Costa estaria planejando “queimar a imagem” da EIG Mercados.
“Ainda, o representado se propõe a ‘buscar o Kobori’ em Brasília, caso alguém de sua família seja levado à prisão diante da investigação, como se o responsável por esse acontecimento fosse o representante”.
Outro lado
A reportagem não conseguiu entrar em contato com o empresário Roque Reinheimer nem com o advogado Antonio Costa.
Veja trecho da representação:
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