O ex-assessor do deputado estadual Ondanir Bortolini “Nininho”, Tschales Tschá, afirmou que os cheques recebidos em 2014 do então sócio da Santos Treinamento (empresa investigada na Operação Bereré), Claudemir Pereira, foram usados para pagar despesas do político.
A informação foi dada por Tschales em depoimento ao Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco), no dia 7 de março. Atualmente, ele é diretor-presidente da Concessionária Morro da Mesa, empresa da qual Nininho é sócio.
O deputado confirmou a versão, mas afirmou que não sabia que os cheques eram de Claudemir, uma vez que teriam sido emitidos por factorings as quais ele pegava empréstimos (veja o posicionamento ao final da matéria).
A Operação Bereré, deflagrada no mês passado, apura esquema de fraude, desvio e lavagem de dinheiro no âmbito do Detran-MT, na ordem de R$ 27,7 milhões, que operou de 2009 a 2015.
Segundo as investigações, parte dos valores repassados pelas financeiras à EIG Mercados por conta do contrato com o Detran-MT retornava como propina a políticos, dinheiro esse que era “lavado” pela Santos Treinamento – parceira da EIG no contrato - e por servidores da Assembleia, parentes e amigos dos investigados.
Nininho não foi alvo da Bereré, mas as investigações apontaram que ele recebeu um cheque de R$ 1 mil, no dia 20 de fevereiro de 2014, emitido por Claudemir Pereira - na época ainda sócio da Santos Treinamento.
O ex-assessor de Nininho, Tschales Tschá
Já Tschales Tschá, então assessor do deputado, teve depositado em sua conta outros dois cheques, na mesma data, de R$ 1,5 mil e R$ 4,5 mil, também oriundos do empresário.
Ele trabalhou na assessoria de Nininho até janeiro de 2015 e, desta data até janeiro de 2017, passou a atuar como secretário-geral da Assembleia Legislativa.
“Era comum”
Na oitiva, Tschales Tschá afirmou que era comum ele receber cheques e valores em espécie de terceiros das factorings que operavam com o deputado, “mas poucas vezes referidos cheques transitaram na minha conta pessoal”.
“Provavelmente o cheque compensando por mim no dia 20/02/2014, no valor de R$ 10 mil, emitido por Claudemir Pereira dos Santos, seja um destes”.
Apesar de Tschales citar um cheque de R$ 10 mil, no pedido de busca e apreensão este cheque não foi elencado pelo MPE.
O ex-assessor disse que nunca teve negócios com Claudemir Pereira e que o valor de R$ 1,5 mil compensando de um dos cheques e depositado em sua conta “provavelmente foi o ressarcimento de alguma despesa paga pelo mesmo e relacionada a alguma despesa pessoal de algum familiar do deputado Nininho ou do gabinete dele”.
Ele disse que não se lembra de conhecer Luziene Alves da Silva, também beneficiária de valores, mas que o depósito de R$ 3 mil em favor dela foi feito por determinação de Nininho.
“Todas as operações relacionadas a este cheque não possuem qualquer relação comigo, sendo que as efetivei por determinação do deputado Nininho”.
De acordo com Tschales, as situações investigadas não foram as únicas em que ele recebeu e sacou recursos de sua conta pessoal a pedido de Nininho.
“Algumas vezes o deputado precisou recorrer a factorings para atender a despesas pessoais dele e de seu gabinete de deputado Estadual e, algumas vezes, parte desses recursos passaram pela minha conta e isso ocorreu apenas na sua conta pessoa física do Banco do Brasil”.

Ainda na oitiva, Tschales revelou que Nininho recorria às factorings de Valcir Piran (Kuqui), irmão de Valdir Piran; de Francisco Ferres, conhecido como “Chico Badotti”; e de Jurandir Vieira, da Solução Cosméticos.
“Essa utilização de factorings pelo deputado Nininho já ocorria inclusive antes de ele assumir o mandato de deputado estadual, quando prefeito municipal de Itiquira, principalmente com o Kuqui Piran, que era amigo pessoal dele”.
“Tenho conhecimento deste fato porque na época eu era funcionário daquela prefeitura e pessoa de confiança do então prefeito Nininho. Inclusive, há alguns anos o deputado Nininho entregou uma aeronave dele para ‘Kuqui’ para quitar esses empréstimos”.
Citados
Além do recebimento dos cheques, Tschales Tschá foi citado na investigação pelo ex-deputado José Riva, em depoimento ao Gaeco.
Riva disse que Nininho era um dos beneficiários da propina e o responsável por recebê-la era Tschales Tschá.
Tschales também é réu da Operação Convescote, que apura desvio de mais de R$ 3 milhões dos cofres públicos, por meio de convênios firmados entre a Faespe e a Assembleia, Tribunal de Contas do Estado (TCE-MT), Secretaria de Estado de Infraestrutura e Prefeitura de Rondonópolis, entre 2015 e 2017.

Ele é acusado de ter atestado serviços inexistentes das empresas "fantasmas" usadas para os desvios. Porém, Tschales afirmou que atestava os serviços sem conferir por ordem de Guilherme Maluf (PSDB) e Nininho, então presidente e 1ª secretário da Assembleia, respectivamente.
Outro lado
Ao MidiaNews, o deputado Nininho confirmou a versão apresentada por seu ex-assessor. Todavia, ele afirmou que nunca fez negociação direta com Claudemir Pereira, e sim com as factorings que emitiram os cheques, a título de empréstimo.
"Quando eu precisava de um dinheiro no gabinete, eu pedia emprestado com o Kuqui Piran, e com outras factorings, e o Tschales ia lá e pegava. A minha conta quem movimentava toda a vida era o chefe de gabinete, para pagar as contas. Acontecia que ele [Tschales] ia lá pegar R$ 10 mil, R$ 20 mil, eles davam um punhado de cheques, e o Tschales depositava nas nossas contas".
O parlamentar afirmou que as próprias investigações mostraram que um dos alvos da operação emitiu mais de 500 cheques no mercado, sendo que centenas de pessoas tiveram esses cheques depositados em suas contas.
"Na minha conta apareceu um cheque de R$ 1 mil. Eu vou lá saber de cheque de R$ 1 mil de anos atrás? Quando eu precisava de dinheiro, eu pegava emprestado com o Kuqui, com o Chico Badotti e, ao invés de eles passarem o dinheiro, davam em cheques. Porque eles faziam troca de cheques no comércio e esses cheques acabaram vindo para nós, como poderiam ter vindo para qualquer um".
"Os próprios investigadores sabem que não iria ter 200 pessoas envolvidas em uma situação dessas", concluiu.
Leia trecho do depoimento:
A operação
A operação Bereré foi desencadeada em fevereiro com o cumprimento de mandados de busca e apreensão na Assembleia Legislativa, em imóveis e escritórios, além da sede da empresa em Brasília.
São alvos da operação o presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho (PSB), o deputado estadual Mauro Savi (PSB), o ex-deputado federal Pedro Henry, servidores públicos, empresas e particulares.
A operação é desdobramento da delação premiada do ex-presidente do Detran, Teodoro Moreira Lopes, o "Dóia". Ele revelou esquemas de corrupção na autarquia, iniciados em 2009, e que renderia, ao menos, R$ 1 milhão por mês.
As empresas FDL Serviços de Registro, Cadastro, Informatização e Certificação Ltda (que agora usa o nome de EIG Mercados Ltda.) e a Santos Treinamento Ltda teriam sido usadas para lavar dinheiro no esquema.
A EIG Mercados venceu uma licitação, em 2009, para prestar serviços de registro de financiamentos de contratos de veículos, por um período de vinte anos.
Até julho de 2015, a empresa ficava com 90% da arrecadação anual - estimada em R$ 25 milhões - e o órgão com 10%. Em julho de 2015, já na gestão Pedro Taques (PSDB), o Detran fez um termo aditivo ao contrato, passando a receber 50% da arrecadação.
Conforme as investigações, parte dos valores milionários pagos pelo Detran à FDL eram repassados para a empresa Santos Treinamento, que seria de fachada e atuaria apenas para “lavar” e distribuir a propina aos políticos. Dezenas de servidores e parentes de servidores do Poder Legislativo também teriam sido usados para lavar o dinheiro arrecadado por meio do esquema criminoso.
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