Cuiabá, Quarta-Feira, 8 de Outubro de 2025
RECUPERAÇÃO BILIONÁRIA
08.10.2025 | 07h48 Tamanho do texto A- A+

Pupin acusa Fource de atuar como “parasita” e desviar milhões

Produtor diz que foi induzido a assinar contratos e procurações que transferiram o comando das fazendas

Reprodução

O empresário José Pupin, que acusa Fource de fraude; no detalhe, Valdoir Slapak

O empresário José Pupin, que acusa Fource de fraude; no detalhe, Valdoir Slapak

THAIZA ASSUNÇÃO
DA REDAÇÃO

O empresário José Pupin entrou com uma ação na Justiça de Mato Grosso em que acusa o grupo Midas/Fource de ter se infiltrado na recuperação judicial da José Pupin Agropecuária e passado a agir de forma “parasita”, controlando o patrimônio da empresa e desviando recursos milionários sob o pretexto de promover sua reestruturação financeira.

 

A recuperação foi apresentada à Justiça em 2017, com dívidas que, à época, somavam R$ 1,3 bilhão.

 

A Midas/Fource adotava, em seu exclusivo benefício, uma atuação de “parasita” do patrimônio do Grupo Pupin, o que agravou a situação econômica do devedor

Na petição protocolada na 1ª Vara de Campo Verde, os empresários José Pupin e Vera Lúcia Camargo Pupin afirmam que foram induzidos a assinar contratos e procurações que transferiram o comando das fazendas e ativos do grupo à Fource, sem qualquer autorização judicial — em violação direta à Lei de Recuperação e Falências.

 

Segundo o documento, o grupo Midas/Fource, por meio de empresas e fundos de investimento interligados, teria se apoderado de receitas provenientes do arrendamento de propriedades rurais.

 

Um exemplo, segundo a ação, é a Fazenda Marabá, de onde teria sido desviados cerca de R$ 10 milhões apenas da safra de 2021/2022. O dinheiro teria sido destinado a fundos operados pela própria Fource.

 

“Cite-se o direcionamento de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) do arrendamento da safra 2021/2022 da Fazenda Marabá em favor do Fundo AFARE I – Fundo de Investimento em Direitos Creditórios Não Padronizados (sabidamente operado pela Fource), documentados via 'Termo de Adiantamento do Valor Anual de Arrendamento', celebrado em 17/12/2020, concomitantemente aos demais Instrumentos assinados”, acrescenta. 

 

A petição também apontou que, nos anos de 2024 e 2025, a Midas Agro, empresa ligada ao grupo, utilizando-se da condição de controladora de todo o ativo do Grupo Pupin, cedeu os direitos de crédito de três safras futuras (2024/2025, 2025/2026 e 2026/2027) da Fazenda Marabá à GO Agro Armazéns Gerais Ltda., recebendo R$ 15,8 milhões, R$ 15,6 milhões e R$ 13,4 milhões, respectivamente.

 

A ação afirma que o caso expõe uma atuação obscura e predatória, travestida de consultoria, que se valeu da vulnerabilidade da família e da falta de fiscalização para assumir o controle das propriedades rurais e de suas receitas.

 

O Grupo Fource tem como sócios os empresários Valdoir Slapak, Haroldo Augusto Filho, Heraldo dos Reis, Cleverson dos Santos, Silvana Ferreira Barbosa, Cleverson Pasqualli e Giancarlo Morini Marques. 

 

Em novembro do ano passado, Valdoir e Haroldo foram alvos de mandados de busca e apreensão cumpridos pela Polícia Federal, no inquérido que apura a venda de sentenças deflagrado após análise do celular do advogado Roberto Zampieri.

 

"Fraude à execução contratual"

 

A petição sustenta que, enquanto prometia reerguer o Grupo Pupin, a Fource utilizou a estrutura da empresa como “veículo de alavancagem” para seus próprios negócios.

 

A consultoria teria adquirido créditos de grandes bancos — como John Deere e Votorantim —, passando a exercer papel duplo: gestora do patrimônio e credora majoritária do processo, o que, segundo os advogados, “fere os princípios da boa-fé e da transparência” que regem a recuperação judicial.

 

Pupin também relata que, após assumir o controle, a Fource isolou os proprietários da gestão, ocultou informações da administradora judicial e passou a onerar bens sem o conhecimento do juízo.

 

Para os advogados do produtor rural, a atuação do grupo configurou “fraude à execução contratual” e “desvio de finalidade”, transformando a consultoria num organismo que “se alimentou da própria empresa que dizia salvar”.

 

O documento ainda descreve a existência de um complexo grupo econômico paralelo, composto por fundos e empresas que compartilham os mesmos diretores e procuradores, como Valdoir Slapak, Haroldo Augusto Filho e Silvana Ferreira Barbosa.

 

Entre elas estariam a Bom Jesus Agropecuária Ltda., do empresário Nelson Vigolo — hoje, segundo os autos, detentora de mais de R$ 540 milhões em créditos da Pupin — e a Global Trade Investimentos e Participações.

 

Os autores pedem à Justiça a suspensão imediata dos contratos e da procuração pública que conferiram poderes à Fource, alegando que o suposto esquema “dilapidou o patrimônio do Grupo Pupin e afrontou a lei”. Pede ainda a prestação de contas detalhada de todas as operações financeiras realizadas pela Midas/Fource em relação aos ativos do grupo.

 

O pedido será analisado pelo juiz da 1ª Vara de Campo Verde, responsável pela condução da recuperação judicial do Grupo Pupin.

 

Por meio de nota, a Fource disse que repudia as acusações divulgadas pelo Grupo Pupin, que teria intuito de "criar embaraço jurídico e, consequentemente, um calote em todos os credores da RJ que se arrasta há 10 anos".

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