Maria e Madeleine, duas mulheres notáveis, de origens, trajetórias e estilos distintos, escreveram dois livros essenciais, cuja leitura recomendo a quem deseja compreender o complexo e conturbado cenário geopolítico atual.
Em tempos de crescente ameaça à democracia, oferecem reflexões poderosas e complementares sobre os riscos do autoritarismo e os caminhos para enfrentá-lo. Madeleine Albright, ex-secretária de Estado dos EUA, em Fascismo: um alerta, e Maria Ressa, jornalista filipina e Prêmio Nobel da Paz, em Como enfrentar um ditador, denunciam os perigos que ameaçam as liberdades civis e conclamam o leitor à ação.
Com sua experiência diplomática e acadêmica, Madeleine traça um panorama histórico do fascismo, de Mussolini aos líderes populistas contemporâneos. Seu alerta é claro: no século XXI, o fascismo não se apresenta com botas e marchas, mas com discursos sedutores, promessas fáceis e ataques sistemáticos às instituições democráticas. A veterana professora, que nos deixou em 2022, observa que a erosão da democracia é gradual, muitas vezes com sutis retrocessos, e que o silêncio dos moderados é cúmplice da ascensão autoritária.
Maria, que sofreu na pele o assédio judicial e digital de um regime autoritário, narra, com coragem e lucidez, como o ex-presidente Rodrigo Duterte valeu-se das redes sociais para manipular a opinião pública, disseminar desinformação e silenciar vozes críticas. A incansável jornalista revela o papel das big techs na amplificação do ódio e da mentira, e propõe uma urgente regulação ética e democrática das plataformas digitais. Sua luta é pela verdade, pela liberdade de imprensa e pela responsabilização dos algoritmos que moldam e distorcem o debate público.
Ambas convergem na defesa firme e apaixonada da democracia. Madeleine nos convida a reconhecer os sinais do autoritarismo antes que seja tarde. Maria nos mostra que resistir é possível e necessário, mesmo diante da perseguição e da intimidação.
Essas duas vozes admiráveis nos recordam que a democracia é uma construção permanente, cuja proteção requer vigilância, coragem e compromisso. Madeleine nos oferece o diagnóstico, Maria nos inspira com o exemplo. Em um mundo onde o medo é instrumentalizado para disseminar preconceitos e ódio, elas nos ensinam que o antídoto mais eficaz contra o fascismo é a cidadania ativa e a solidariedade entre os povos.
Não foi fácil derrotar o fascismo no século passado. Agora, o panorama é ainda mais desafiador.
É fundamental que as ideias de Maria e Madeleine sejam lidas e debatidas, principalmente pelos mais jovens. E que essas reflexões inspirem ações concretas, porque não há liberdade sem luta.
Luiz Henrique Lima é professor e conselheiro independente certificado.
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