Com muita atenção para os avanços recentes na área de endocrinologia e sono, trazemos hoje uma análise sobre a mais recente aprovação regulatória no Brasil: a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou o uso da tirzepatida (Mounjaro) para o tratamento da apneia obstrutiva do sono em adultos com obesidade.
A seguir, abordamos o que é a apneia do sono e de que forma essa nova indicação pode representar uma mudança no cuidado dos pacientes.
O que é apneia do sono?
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é um distúrbio caracterizado por interrupções repetidas da respiração durante o sono, devido ao colapso parcial ou total das vias aéreas superiores. Essas pausas podem durar alguns segundos e ocorrer várias vezes por hora, levando a microdespertares, queda na oxigenação, fragmentação do sono e consequente impacto na saúde.
Fatores de risco incluem a obesidade, o acúmulo de tecido gorduroso na região do pescoço, vias aéreas estreitas, anatomia desfavorável, idade avançada, consumo de álcool ou sedativos, entre outros.
Os principais sintomas são: ronco alto frequente, pausas respiratórias observadas, sensação de sono não reparador, cansaço diurno, sonolência excessiva, e em muitos casos, piora do desempenho cognitivo ou alterações de humor.
O tratamento da AOS inclui mudanças de estilo de vida (como perda de peso, evitar álcool/sedativos), além de terapias como o uso de CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas) ou aparelhos orais.
Qual a novidade com a tirzepatida (Mounjaro)?
Até agora, no Brasil, a tirzepatida estava aprovada pela Anvisa para o tratamento de adultos com diabetes mellitus tipo 2. Mais recentemente, foi aprovada também para o tratamento da obesidade ou sobrepeso (com comorbidade associada) no Brasil. Agora, a Anvisa aprovou a indicação para AOS em adultos obesos.
Qual é a conexão entre obesidade, apneia do sono e tirzepatida?
Obesidade é um dos principais fatores de risco para apneia do sono: o acúmulo de gordura na região cervical, maior pressão sobre as vias aéreas, e alterações na musculatura da garganta favorecem colapsos respiratórios durante o sono.
Ao promover perda de peso e melhorar a composição corporal (com redução de gordura), a tirzepatida pode atuar indiretamente sobre o mecanismo da apneia: menos tecido gorduroso, menor colapso das vias aéreas, melhor estruturação do sono.
No anúncio recente, consta que a nova indicação para AOS está voltada a adultos com obesidade e apneia moderada ou grave.
É importante, no entanto, frisar: a tirzepatida não substitui as terapias tradicionais da apneia (como CPAP), mas pode vir a se somar como uma ferramenta complementar, especialmente em pacientes com obesidade significativa e apneia do sono.
O que o profissional de saúde e o paciente devem observar?
Como endocrinologista, ressalto que esse medicamento deve ser prescrito sob supervisão médica, com avaliação prévia, monitoramento e acompanhamento multidisciplinar.
Esclarecer que não se trata de “remédio mágico”: a perda de peso ou o alívio da apneia só ocorrem efetivamente se houver associação com mudanças de estilo de vida (dieta equilibrada, atividade física, sono adequado, higiene do sono).
A aprovação da tirzepatida (Mounjaro) para apneia do sono representa um importante avanço na interface entre metabolismo, obesidade e distúrbios respiratórios do sono.
Para os pacientes que convivem com obesidade e apneia do sono, pode surgir uma nova estratégia terapêutica que não apenas trata o distúrbio respiratório, mas também atua na doença metabólica.
Ainda assim, reforço: cada paciente é único. O uso da medicação exige avaliação individual e monitoramento rigoroso.
Mariana Ramos é endocrinologista.
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