A família do idoso João Antônio Pinto, de 87 anos, morto a tiros pelo policial civil Jeovanio Vidal Griebel durante uma suposta abordagem, voltou a contestar a Polícia, alegando que o veículo da vítima não parou por tempo suficiente para que ele pudesse ameaçar alguém, assim como foi alegado pelos envolvidos.
A pessoa supostamente ameaçada com uma arma, identificada como Elmar Soares Inácio, acionou seu cunhado, Jeovanio, e o policial civil reuniu outros colegas que, descaracterizados e sem mandado, foram até a propriedade onde João Pinto foi morto.
A Polícia sugeriu o arquivamento do inquérito por entender que o policial agiu em “defesa própria e de terceiros”, em 30 de outubro de 2024. O caso foi encaminhado ao Ministério Público Estadual (MPE), que pediu novas diligências. Desde então, a família perdeu acesso aos autos.
Segundo a advogada Gabriela Zaque, que representa a família, a caminhonete de João Pinto tinha um rastreador e o relatório da empresa HD Sat Rastreadores comprovaria que a vítima não ficou parada tempo suficiente para ameaçar alguém.
Em depoimento à Polícia, Elmar Soares Inácio, cunhado de Jeovanio, com quem o idoso teria tido um desentendimento momentos antes da morte, afirmou que foi ameaçado por João Pinto.
Segundo o inquérito, Elmar foi abordado enquanto esperava um funcionário em sua caminhonete. Outra caminhonete passou por ele enquanto isso, voltou e parou próximo. Um “senhor de idade” teria descido do veículo e ele o cumprimentou.
“O homem, que carregava uma arma na cintura, acusou o depoente de ser ladrão, alegando que as terras eram suas. Quando o depoente caminhou em sua direção, o homem sacou a arma e ameaçou atirar, dizendo que, se os encontrasse ali novamente, ‘passaria fogo’”, diz trecho do documento.
Elmar afirmou ter fotografado a traseira da camionete de João Pinto e seguido a vítima.
A defesa da família contesta a versão, uma vez que não teria dado tempo para que a ameaça fosse feita.
“A caminhonete tinha localizador e ela mostrava certinho quando parava em sinal, na rua, e em nenhum momento o carro fica parado mais de 2 minutos a ponto de dar tempo dele descer com a arma, ameaçar alguém e voltar, considerando que ele andava devagar”, explicou a advogada.
“Não dá tempo dele descer do carro e fazer tudo que o Elmar falou. A família está muito indignada com o relatório final. O que está lá não condiz com a verdade. Ele sabia que a área era invadida e tinha medo”, completou.
O relatório da empresa HD Sat Rastreadores do dia em que João Pinto morreu mostra que o carro parou por mais de um minuto apenas três vezes. Uma no início do trajeto, depois para abrir a porteira de sua propriedade e, em seguida, na porta do hangar onde foi morto.
No mapa constam também setas em vermelho que, segundo a empresa, mostram paradas menores de um minuto, podendo ser em semáforos.
Viu ou não viu?
Em seu depoimento, Elmar diz ter ligado para seu cunhado Jeovanio, que foi ao local com outros policiais, e afirmou não ter visto quem estava envolvido.
“O depoente acompanhou os policiais até o terreno, onde ocorreram disparos de arma de fogo, embora ele não tenha visto quem estava envolvido. Ele entregou gravações e fotos do incidente e foi orientado a registrar o Boletim de Ocorrência (BO). Mais tarde, foi informado que o agressor faleceu”, diz trecho do documento.
Um vídeo feito por um homem não identificado que, pela sua narração, teria sido intimidado por João momentos antes e foi à época atribuído a Elmar, mostra parte da ação da Polícia Civil antes e durante a abordagem que terminou com a morte de João Pinto.
“Aqui é o acampamento do seu João Pinto, onde ficam os pistoleiros dele. Hoje ele quis nos abordar, tentando nos intimidar com a pistola lá no terreno. Agora a Polícia Civil está indo recolher a arma dele, saber se ele está legalmente amparado pela lei ou não”, afirma o homem.
Segundo a família do idoso, a equipe revistada pelos policiais não seriam pistoleiros e, sim, de seguranças armados contratados após as primeiras invasões na terra e as ameaças de morte.
Em outro trecho da filmagem, é possível ver as viaturas descaracterizadas já estacionadas no gramado, em frente ao hangar em que a vítima foi morta. Os policiais já estavam fora do veículo e com a arma em punho.
O homem segue registrando e narrando a cena. “Jeovanio já fez um disparo, está tentando revidar com o pessoal, a Polícia está atirando. Vamos ver o que vai acontecer. Ele está sendo emboscado”, continua o homem.
Nesse momento, é possível ver os cinco policiais em formação, cercando o hangar em que está apenas a vítima e um funcionário dele.
Veja:
O caso
João Pinto foi morto no dia 23 de fevereiro, no hangar de sua propriedade, localizada na região do Contorno Leste, no Bairro Jardim Imperial, em Cuiabá. O autor dos disparos foi o policial civil Jeovanio Vidal Griebel.
Conforme um dos laudos da Politec, o atirador efetuou ao menos um disparo de arma de fogo a cerca de 12 metros de distância da vítima e fora do hangar em que o corpo foi encontrado.
Seu João Pinto foi ferido na altura do ombro direito.
Jeovanio foi acionado pelo cunhado Elmar Soares Inácio, com quem João teria um litígio fundiário. Em uma viatura descaracterizada e sem mandado judicial, o policial foi até a propriedade acompanhado de outros cinco colegas.
Leia mais:
Vídeo mostra policiais chegando em hangar onde idoso foi morto
Vídeo mostra retirada do corpo de idoso; família contesta laudo
Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).
0 Comentário(s).
|