Cuiabá, Domingo, 28 de Setembro de 2025
DESEMPENHO POSITIVO
28.09.2025 | 10h23 Tamanho do texto A- A+

Juro alto desacelera empresa no mercado formal; agro é exceção

De janeiro a julho, as contratações com carteira superaram em 1,3 milhão as demissões no Brasil, aponta Caged

Reprodução

O Brasil segue com desempenho positivo na geração de empregos com carteira assinada em 2025

O Brasil segue com desempenho positivo na geração de empregos com carteira assinada em 2025

LEONARDO VIECELI
FOLHAPRESS

O Brasil segue com desempenho positivo na geração de empregos com carteira assinada em 2025, mas o ritmo de abertura de vagas mostra desaceleração em meio ao cenário de juros altos.

 

É o que aponta um levantamento das economistas Janaína Feijó e Helena Zahar, do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), a partir de dados do Novo Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

 

De janeiro a julho, as contratações com carteira superaram em 1,3 milhão as demissões no Brasil. Embora continue positivo, o saldo é 10,4% menor do que o registrado em igual período de 2024 (1,5 milhão), segundo a análise.

 

As cinco grandes atividades investigadas também contrataram mais do que demitiram nos sete primeiros meses deste ano. Só uma, porém, teve um saldo de criação de vagas formais maior em 2025 do que em 2024.

 

Trata-se da agropecuária, que foi beneficiada pela supersafra deste ano. De janeiro a julho, o setor teve 109,2 mil contratações a mais do que demissões com carteira. O saldo positivo supera em 32,3% o verificado no mesmo período de 2024 (82,6 mil).

 

Enquanto isso, a geração de vagas foi 14,1% menor nos serviços na comparação de janeiro a julho deste ano com igual intervalo do ano passado. A abertura de postos com carteira também encolheu 13,5% na indústria, 11,7% na construção e 5,4% no comércio.

 

"O que a gente tem é uma desaceleração, e não uma destruição de postos de trabalho", afirma Janaína.

 

O emprego mostrou trajetória de recuperação nos últimos anos, mas os juros altos para conter a inflação levam a um processo de perda de ritmo da economia, que tende a esfriar a abertura de vagas com o passar dos meses, segundo a pesquisadora. A taxa básica de juros, a Selic, está em 15% ao ano.

 

"Acaba fazendo com que os agentes econômicos mudem as suas decisões de investimento no curto e no médio prazos", diz Janaína. "Então, muitas vezes os empresários que estavam esperando contratar ou expandir os negócios postergam essas decisões."

 

Construção tem desaceleração mais persistente 

 

Com base nos dados do Novo Caged, a economista chama a atenção para o desempenho do emprego formal na construção.

 

De janeiro a julho deste ano, as contratações superaram as demissões em 177,3 mil no setor. Apesar de continuar positivo, o saldo de vagas foi 11,7% menor do que o registrado nos sete primeiros meses de 2024 (200,9 mil).

 

O número de 2025 é o mais baixo para o período desde 2020, ano inicial da pandemia. À época, o resultado havia sido negativo (-3.323), com mais demissões do que contratações.

 

O levantamento do FGV Ibre destaca que a construção foi a única atividade a apresentar desaceleração no saldo positivo não apenas frente a 2024, mas também em relação ao acumulado dos sete primeiros meses de 2023 (194,7 mil). O cenário é de uma perda de ritmo mais persistente, de acordo com Janaína.

 

"A construção tem apresentado, recorrentemente, uma dificuldade para conseguir mão de obra. Existe uma escassez."

 

Segundo a pesquisadora, o quadro pressiona os salários no setor, já que os empregadores passam a ofertar uma remuneração maior em busca de trabalhadores. Isso, contudo, não tem sido suficiente para resolver o gargalo, diz a economista.

 

Conforme Janaína, é possível que a recuperação do mercado de trabalho tenha levado mão de obra da construção para outros setores com oportunidades consideradas mais atrativas -em termos salariais ou de jornada, com menor exigência de esforço físico.

 

"Tem também a questão da taxa de juros, que encarece o financiamento imobiliário. Muitos indivíduos desistem de financiar imóveis, e as construtoras postergam os lançamentos", aponta.

 

A economista afirma que a criação total de vagas com carteira tende a seguir mostrando uma trajetória de desaceleração no Brasil.

 

Para a pesquisadora, além dos juros, outro fator que pode influenciar o cenário é o tarifaço dos Estados Unidos, em vigor desde agosto.

 

Há, contudo, diferenças setoriais. Enquanto atividades de comércio e serviços tendem a ser estimuladas pela demanda sazonal no fim de ano, a construção deve ficar mais parada, projeta Janaína.

 

"Nos últimos 15 dias de dezembro, não tem muita margem para a construção contratar. Pelo contrário, muitas contratações são postergadas para o início do ano. Então, pode ser que a gente continue a ver uma desaceleração mais expressiva no setor."

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