O dólar fechou em alta de 0,76% na sexta-feira (25), a R$ 5,5619, com os investidores em meio às discussões comerciais entre Estados Unidos e seus parceiros pelo mundo, incluindo o Brasil. O Ibovespa cedeu 0,21%, a 133.524 pontos.
Segundo a agência de notícias Bloomberg, o governo do presidente Donald Trump está preparando uma nova declaração como base legal para impor tarifas sobre o Brasil. A medida, que ainda não é definitiva, seria necessária para impor as sobretaxas de 50% a produtos brasileiros ameaçada por Trump no início do mês.
"Ontem houve a declaração de Alckmin, de que ele teria começado uma conversa com os EUA. Então, essa nova notícia [sobre a base legal] acabou pegando a todos de surpresa", afirma Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.
O dólar abriu em baixa, atingindo a cotação mínima do pregão às 9h09 (R$ 5,5199). Porém, com o efeito da reportagem da Bloomberg, o dólar atingiu a máxima de R$ 5,57 às 12h42.
Na quinta (24), o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, disse que conversou no sábado com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, a quem reiterou pedido de negociação sobre tarifas.
O receio do mercado, entretanto, é que haja pouco espaço para discussões e contrapartidas do lado brasileiro, uma vez que Trump tem vinculado sua ameaça principalmente ao tratamento que o ex-presidente Jair Bolsonaro tem recebido do STF (Supremo Tribunal Federal), uma questão política , e não comercial.
"Essa incerteza dos investidores em relação às políticas comerciais estimula o compasso de espera, faz com que investidores evitem assumir novas posições e de certa forma é levemente prejudicial ao real", diz Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
No cenário externo, o foco também ficou em torno do comércio, com expectativas de que os EUA possam anunciar um acordo comercial com a União Europeia, depois de alcançar um pacto tarifário com o Japão nesta semana.
Em falas na quarta, Trump disse que as taxas impostas pelo seu governo não ficarão abaixo de 15%. "Teremos uma tarifa direta e simples de algo entre 15% e 50%", disse Trump em uma cúpula de inteligência artificial realizada em Washington. "Temos 50% porque não temos nos dado muito bem com esses países."
Nos EUA, as Bolsas encerraram o pregão de sexta em alta. O índice S&P 500 ganhou 0,40% e renovou sua pontuação recorde, bem como o Nasdaq, que se valorizou 0,24%. O Dow Jones teve alta de 0,47%.
Nesta sessão, a divisa norte-americana também ganhou força ante seus pares no exterior, com o dólar avançando sobre moedas fortes, como o iene e o euro, e emergentes, como o rand sul-africano e o peso chileno.
O índice do dólar DXY -que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas- subiu 0,17%, a 97,66 pontos, após atingir mínimas de duas semanas no início da semana. O índice acumula queda de cerca de 10% nos seis meses em que Trump está no cargo.
Na semana, porém, o dólar acumulou baixa de 0,5% ante o real. Essa é a primeira queda semanal após duas semanas de altas em função do anúncio, em 9 de julho, da tarifa de 50% dos EUA sobre os produtos brasileiros. No ano, o dólar acumula baixa de 9,98%.
Nesta sexta, Trump disse que gosta de um dólar forte, mas "você ganha muito mais dinheiro" com a moeda norte-americana mais fraca.
"Então, quando temos um dólar forte, uma coisa acontece: parece bom. Mas você não faz turismo. Você não pode vender tratores, não pode vender caminhões, não pode vender nada. É bom para a inflação, só isso" disse o republicano a jornalistas na Casa Branca, antes de partir para uma viagem à Escócia.
No Brasil, pesa contra o real a tensão em torno da sobretaxa de 50% que os EUA planejam iniciar sobre produtos brasileiros em 1º de agosto.
Investidores também repercutiram os dados do IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15), que mostrou aceleração da inflação a 0,33% em julho, após marcar 0,26% em junho, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta sexta.
A conta de luz pressionou os preços para cima, enquanto os alimentos caíram pelo segundo mês consecutivo. Com o resultado de julho, o IPCA-15 passou a acumular alta de 5,3% em 12 meses, após marcar 5,27% até junho.
Segundo Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, o IPCA-15 de julho veio acima do esperado pelo mercado, o que reforça as expectativas de manutenção da Selic elevada por mais tempo.
"O mercado também reage aos dados do IPCA-15 de julho acima do esperado, reforçando expectativas de manutenção da Selic elevada por mais tempo", diz Shahini.
No entanto, os juros futuros encerraram o pregão de sexta perto da estabilidade. O DI para janeiro de de 2027 estava em 14,23%, ante o ajuste de 14,233% da sessão anterior. Já a taxa para janeiro de 2028 marcava 13,59%, ante 13,579% da véspera.
Entre os contratos longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,8%, ante 13,786% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 13,92%, ante 13,906%.
Também no radar está a tensão entre o Trump e o Fed (Federal Reserve, banco central dos EUA) sobre a taxa de juros dos Estados Unidos. Os membros do banco central dos EUA se reúnem na próxima semana e devem manter os juros inalterados novamente, apesar da pressão do presidente por cortes imediatos.
Além disso, ainda pesou contra o real dados divulgados pelo Banco Central pela manhã, sobre o setor externo no mês de junho, antes do tarifaço. O país teve déficit em transações correntes de US$ 5,131 bilhões em junho.
Para completar, os investimentos diretos no país não compensaram este déficit mensal, ao atingirem apenas US$ 2,810 bilhões em junho, abaixo dos US$ 4,5 bilhões projetados.
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