Cuiabá, Domingo, 27 de Julho de 2025
FUTURO INCERTO
26.07.2025 | 10h34 Tamanho do texto A- A+

Multinacionais americanas preferem sigilo em negociação com Trump

CEOs de filiais no Brasil se calam, e entidade do comércio alerta sobre impactos a consumidores americanos

Reprodução

General Motors, empresa americana que tem fábricas no Brasil

General Motors, empresa americana que tem fábricas no Brasil

JOANA CUNHA
FOLHAPRESS

Enquanto diversos setores econômicos tentam contribuir para os esforços de negociação contra o tarifaço de Donald Trump aos produtos brasileiros, as multinacionais americanas com instalações no Brasil têm mantido a discrição, evitando embates e manifestações públicas em torno do problema.

 

Isso não significa que estejam alheias ou protegidas das consequências de uma sobretaxa de 50%, segundo membros de cúpulas de filiais locais.

 

A Folha de S.Paulo solicitou entrevistas com os CEOs de mais de 20 multinacionais americanas com negócios em diversos setores no Brasil, desde automotivo, como GM e Ford, farmacêutico, como BMS (Bristol-Myers Squibb), Abbott, Pfizer e MSD (Merck Sharp & Dohme), ou de alimentos, como PepsiCo ou KraftHeinz, e mineração como Alcoa, entre outros. Nenhum deles aceitou se manifestar publicamente.

 

Em conversas reservadas, a avaliação é a de que o sigilo favoreceria as negociações para o lado brasileiro e que o governo Lula deveria fazer o mesmo. Para um executivo com longa experiência em direção de multinacionais americanas, o excesso de divulgação sobre as pretensões do Brasil tem fortalecido a posição trumpista, ou seja, ao colocar suas cartas na mesa, o Brasil sinaliza demais até onde pode ceder.

 

Segundo essa opinião, o governo não deveria divulgar nem mesmo as medidas que já planeja para amenizar o impacto do tarifaço com um programa emergencial de manutenção de trabalho e renda similar ao da pandemia.

 

Há uma percepção de que o governo brasileiro está telegrafando tudo o que pensa por meio dos jornais, e que o aumento da confidencialidade nas conversas poderia ajudar elevar a produtividade do diálogo.

 

Nesta sexta (25), em um discurso em Osasco (SP), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a relatar que o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) tem enfrentado dificuldade de interlocução com os EUA.

 

O papel dos dirigentes brasileiros das filiais americanas, na prática, tem sido apenas o de alimentar suas matrizes com informações, enquanto os esforços de negociação ou pressão sobre Washington são feitos pelas cúpulas das sedes nos EUA.

 

Neste fluxo de informações, faltando poucos dias para a entrada das tarifas em vigor, em 1º de agosto, ainda tem sido difícil calcular o tamanho do estrago previsto porque, além dos efeitos diretos da tarifação, que são mais fáceis de medir em números, haverá impactos em toda a cadeia de fornecimento de cada negócio.

 

Por ora, a perspectiva é que o segundo semestre terá resultados piores do que o esperado, com aumento na necessidade de caixa, mas ainda se evita falar em demissões.

 

Executivos ouvidos pela reportagem classificam Trump como o pior tipo de interlocutor que se pode ter do outro lado de uma mesa de negociação, porque ele faz o estilo "fearless", que em inglês significa destemido, indiferente a consequências desastrosas.

 

Os contornos políticos dessa taxação, que desde que foi anunciada por Trump nas redes sociais em 9 de julho trouxe a menção ao ex-presidente Bolsonaro, também tornam as manifestações públicas ainda mais delicadas.

 

As mensagens mais gerais têm sido transmitidas pela Amcham (Câmara Americana de Comércio para o Brasil), que já divulgou apelos aos governos dos dois países para que se engajem em negociações de alto nível de modo a evitar a implementação da tarifa de 50%.

 

Em nota divulgada após o anúncio do tarifaço de Trump, a entidade criticou a politização do tema e alertou para os riscos sobre os produtos essenciais às cadeias de suprimentos e o aumento de custos aos consumidores norte-americanos, além do impacto sobre milhares de pequenas empresas nos EUA que dependem de produtos importados do Brasil.

 

Newsletter Tarifaço Receba no seu email o que você precisa saber sobre a crise entre EUA e Brasil ***  "A imposição dessa medida como resposta a questões políticas mais amplas tem o potencial de causar danos graves a uma das relações econômicas mais importantes dos EUA, além de estabelecer um precedente preocupante", disse a Amcham em nota na ocasião.

 

A entidade, que tem participado das conversas e colaborado com levantamento de dados, publicou nesta sexta um estudo que mostra um aumento no comércio intercompanhia entre Brasil e EUA, que são as trocas entre empresas do mesmo grupo econômico, ou seja, entre filiais subsidiárias de uma mesma empresa multinacional, localizadas nos dois países.

 

Quase 34% da corrente de comércio bilateral entre ambos os países em 2024 foi realizada entre empresas do mesmo grupo, volume que chegou a US$ 31 bilhões em transações bilaterais do tipo.

 

Segundo a Amcham, assim como nas trocas em geral, os EUA possuem superávit no comércio intercompanhia. Entre 2023 e 2024, o superávit dos EUA nessas trocas com o Brasil mais que dobrou, reflexo da intensificação do envio de produtos entre filiais e matrizes norte-americanas instaladas no Brasil.

 

Entre no grupo do MidiaNews no WhatsApp e receba notícias em tempo real (CLIQUE AQUI).




Clique aqui e faça seu comentário


COMENTÁRIOS
0 Comentário(s).

COMENTE
Nome:
E-Mail:
Dados opcionais:
Comentário:
Marque "Não sou um robô:"
ATENÇÃO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião do MidiaNews. Comentários ofensivos, que violem a lei ou o direito de terceiros, serão vetados pelo moderador.

FECHAR

Preencha o formulário e seja o primeiro a comentar esta notícia