A ex-secretária de Saúde de Cuiabá Elizeth Araújo disse ter alertado o prefeito Emanuel Pinheiro (MDB) sobre atitudes suspeitas do então diretor-administrativo financeiro da Pasta, Célio Rodrigues, que também ocupou o cargo de secretário.
Em depoimento ao Ministério Público Estadual, Elizeth contou que pediu a exoneração de Célio após receber notícias de que ele teria pedido “comissão” para pagar fornecedores da Saúde. O caso ocorreu no início de 2017, quando ela assumiu a Pasta.
A informação consta no depoimento dado por Elizeth neste ano à 9ª Promotoria de Justiça Cível da Capital (veja o vídeo abaixo).
“Expliquei [a Emanuel] que eu tinha desconfiança desse processo, mas que não tinha provas. Até porque, como eu falei na época, se tivesse provas não estaria comigo, eu já tinha levado ao Ministério Público”, disse.
“Mas tinha notícias de que ele tinha pedido pro fornecedor comissão para poder liberar pagamento, entendeu? Tinha essas situações”, completou.
Apesar do alerta recebido, em junho de 2021 Emanuel nomeou Célio como secretário de Saúde Cuiabá. Ele, no entanto, foi afastado 45 dias depois por ser alvo da Operação Curare, deflagrada pela Polícia Federal.
Comportamento sob suspeita
Ainda no depoimento, Elizeth falou sobre pedidos feitos por Célio para dar urgência a determinados pagamentos.
“Eu não o conhecia, conheci no dia que tomei posse. Era uma pessoa prestativa, mas o que eu comecei a perceber que ele tomava decisão com um fornecedor, sem falar comigo”, afirmou.
“Ele vinha com algumas demandas, por exemplo: 'Olha, tem que ser urgente, precisa ser pra ontem'. E eu dizia ‘não, Célio, calma’”, relatou.
As suspeitas começaram a se intensificar quando Célio propôs à então secretária a terceirização dos serviços do CDMIC (Centro de Distribuição de Medicamentos e Insumos de Cuiabá).
Elizeth afirmou que visualizou a possibilidade da proposta ter algum direcionamento à empresas ligadas a Célio e então arquivou o procedimento.
“Foi por isso que eu mandei arquivar esse [procedimento], e comecei a ficar de olho nele. Aí eu chamei uma técnica de carreira do Estado, pedi a cedência dela, para ela olhar para mim todos os processos antes de eu assinar”.
“E aí, ela começou a colocar para mim: ‘Toma cuidado nisso’, ‘estão querendo pagar sem certidão, não deixa pagar’”.
De acordo com Elizeth, foi observada “muita pressa” em Célio em querer agilizar pagamentos para determinadas empresas em detrimento de outras.
“E aí eu puxei para mim, e disse: 'Não, agora vai pagar com meu consentimento. Se não veio dinheiro para todo mundo, nós vamos começar a escalonar”, disse.
Em 2020 - com Elizeth fora do cargo, e Célio já recontratado - houve a tercerização da administração do CDMIC para a empresa Norge Pharma.
A Norge é alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) instalada na Câmara Municipal após vereadores encontrarem diversos remédios vencidos no depósito. Entre eles estavam Amoxilina, Atenolol e AmBisome - sendo que cada caixa deste último custa mais de R$ 20 mil.
Assista a partir dos 12m55s:
Assista do início até 1m45s:
Célio e a Operação Curare
Operação Curare investiga um esquema de corrupção e fraudes na Secretaria Municipal de Saúde. Célio teve sua casa vasculhada pela Polícia Federal em julho. Lá foram apreendidos R$ 70 mil e documentos foram levados.
Segundo a defesa do ex-secretário, advogado Francisco Faiad, o dinheiro é regular, pertence à esposa de Célio e está comprovado junto à Receita Federal.
As investigações da PF constataram que seis empresas fazem parte do mesmo grupo empresarial - e atuavam no sentido de se "perpetuar" na prestação de serviços na área de saúde em Cuiabá.
Elas firmaram contrato que, juntas, chegam ao montante de R$ 100 milhões. Conforme apurado, receberam R$ 45 milhões da Prefeitura de Cuiabá.
As empresas suspeitas de esquema são a Hipermed Serviços Médicos Hospitalares; a Ultramed Serviços Médicos e Hospitalares; a Smallmed Serviços Médicos e Hospitalares; a Medserv Serviços Médicos e Hospitalares; a Douglas Castro ME e a Ibrasc – Instituto Brasileiro Santa Catarina.
No total, 21 pessoas físicas e jurídicas são investigadas pelo esquema.
Emanuel afastado
Arquivo
A ex-secretária de Saúde Elizeth Araújo
O depoimento da ex-secretária foi um dos elementos utilizados para embasar o pedido de afastamento do prefeito Emanuel Pinheiro (MDB), assim como de busca e apreensão e sequestro de bens contra ele e outros servidores feito na Operação Capistrum, deflagrada pelo Ministério Público Estadual (MPE) e a Polícia Civil.
Durante o depoimento, Elizeth detalhou o suposto esquema de Emanuel em utilizar a Saúde de Cuiabá para acomodar indicações de aliados, pagar favores e manter apoio.
Além do prefeito de Cuiabá, a secretária-adjunta de Governo e Assuntos Estratégicos, Ivone de Souza, também foi afastada e o chefe de gabinete, Antônio Monreal Neto, preso.
Também são alvos da operação a primeira-dama Márcia Pinheiro, e o ex-coordenador de Gestão de Pessoas da Secretaria Municipal de Saúde, Ricardo Aparecido Ribeiro.
Eles ainda tiveram o sequestro de bens decretado até o montante de R$ 16 milhões.
O Ministério Público Estadual aponta que Emanuel e os demais estariam envolvidos em crimes de formação de organização criminosa, prevaricação e obstrução da Justiça.
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3 Comentário(s).
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Nilson Ribeiro 22.10.21 07h54 |
Nilson Ribeiro, seu comentário foi vetado por conter expressões agressivas, ofensas e/ou denúncias sem provas |
Adilson 21.10.21 18h03 | ||||
Infelizmente não tem como acreditar que o prefeito não sabia e com certeza coadunava com tudo isso, era uma torneira aberta para propiciar todos os avanços da gestão no erário público de maneira ímproba como Diz o inquérito. | ||||
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Zeca 21.10.21 12h50 | ||||
Bem feito, cada povo tem político que merece. | ||||
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